O Sonho
Já havia se beliscado. Queria ter certeza que aquilo não passava de um sonho. Não conseguia lembrar-se das feições do seu avô. Mas sabia que aquele ao pé da sua cama era ele. Estava frio, mais que o normal para o inverno da serra. Beliscou em vão. Em suas orações sempre pedia para que o vovô cuidasse de todos da família. Mas nunca achou que ele realmente escutaria seu pedido. Mas estava ali, com a face serena. Não tentou se comunicar, pois achava que não poderia comandar seu próprio sonho. Acreditava que fluía, mesmo sem querer, mesmo sem pedir. E não havia pedido aquilo. No seu sonho, já estava sentado na cama. Via os primeiros raios de luz entrar pela fresta da persiana e sabia que em breve o despertador tocaria. Por meses esperou pelo dia da excursão. O despertador o chamaria do sonho para a vida real, e então ele poderia falar no café da manhã do sonho que tivera com o vovô. O despertador toca e um alívio momentâneo toma conta do seu corpo. Coça os olhos, mas ele ainda está ali. Passa pela sua cabeça que talvez não seja um sonho. Nisso, a porta do seu quarto se abre e sua mãe se irrompe para dentro.
– Rud, hora de acordar – Ela para junto à soleira da porta, imóvel.
– Pai?