GAROTA DE BERLIM

Caminhava sozinho. A noite era escura, as luzes não iluminavam muito mais que cinco palmos ao meu redor, é estranho como uma cidade tão famosa como Berlim tenha ruas tão mal-iluminadas, a dificuldade de ler as placas aumenta. Só sabia que estava em frente à um cemitério. ‘Cemitério Antigo de São Mateus de Berlim’ dizia a única placa legível, bem isso seria útil se eu achasse algum orelhão por perto. Mas quanto mais olhava, só via escuridão.

Dei meia volta e comecei a andar abandonando os imensos portões do cemitério. Olhava para o chão, a única coisa que conseguia ver era meus coturnos chutando os paralelepípedos soltos da rua, inexplicavelmente surgiu uma luz azul vinda contra mim que iluminou toda a calçada. Me virei, depois dos meus olhos acostumaram com o brilho intenso, enxerguei uma linda garota morena em fardas. Sua beleza me desnorteou, fui caminhando devagar em sua direção enquanto ela olhava séria para mim. Mas num piscar de olhos a linda garota desapareceu. Como é possível? Será que estou enlouquecendo? Melhor voltar logo para casa antes que as pessoas fiquem preocupadas. Continuei caminhando sem rumo.

No dia seguinte assim que acordei me lembrei daquela aparição. E parecia tudo tão irreal, aquela luz azul o era afinal? Seria mesmo uma garota ou pura ilusão? Estava intrigado, se fosse real como iria a procurar? Não sei o seu nome, nem como lhe chamar. Decidi que depois da aula iria percorrer essa cidade tão imensa, atrás de minha morena. Eu tenho que à encontrar.

Parei em cafés, bares e restaurantes, praças e jardins. Parei pessoas que andavam apressadas só para perguntar ‘Você viu uma linda garota magra, morena em trajes militares?’ e a resposta era sempre a mesma, ‘não’.

Já tinha perdido as esperanças, sentei-me num banco, ao lado de um velhinho simpático que alimentava as pombas. Acho que nunca vou revê-la, era apenas uma aparição. Fui novamente perguntar, agora àquele idoso, mas quando abri a boca eu logo avistei aquela morena linda, minha garota de Berlim.

Saí correndo desesperado, não deixaria aquela menina escapar do meu coração. Foi tudo tão romântico que a morena se atirou também em minha direção. Nos encontramos, peguei sua mão e ela me beijou o sabor dos lábios da morena me marcou, era tão intenso, um gosto quase amargo, indescritível me apaixonou.

Quando abri os olhos minha garota em meus braços não estava mais. Aquela garota tão real, não tinha como ser alucinação, mas como pode ter desaparecido? Não tinha razão. Voltei para observar as pombas, e naquele banco me sentei. Conversei com o idoso sobre a cidade, ele disse conhecia todos que moravam lá. Perguntei com esperança de que conhecesse minha garota de Berlim.

- Já morou à muito tempo na cidade uma jovem com características assim. Era tão linda que todos os homens desejavam. Porém ela era judia e não podia casar com católicos. Principalmente em plena Segunda Guerra Mundial. E por ser tão linda trocava seu corpo pela vida, nenhum soldado a levou para o campo de extermínio. Porém ela se apaixonou por um general nazista. Um cara frio e cruel que prometeu amor eterno, mas enquanto os dois faziam amor, ele matou-a com uma facada em seu seio. Dizem que o fantasma dela ainda paira por aí. Procurando uma alma pare lhe fazer companhia.

Toda essa história me enlouqueceu, aquela linda garota não podia ser assombração, deveria ser só confusão daquele velho alienado que estava tentando me assustar. Não é possível. Meu amor é real.

Voltei para casa e deitei na minha cama. Olhava para o teto e não parava de bufar pensando na garota, linda, a me beijar. Ela me deixou desequilibrado com toda essa beleza e mistério. E de repente minha musa apareceu. Não sei como, em meu quarto, sua beleza desfalesceu. Garota tão perfeita me olhou no olhos:

- Me ame dessa forma, completamente física e prazerosa.

Subi em seu corpo quente e gostoso, beijei-a. Com a mesma rapidez que despi ela, a garota apunhalou uma faca em sua mão. E abençoou:

- Livra-me da dor e da solidão eterna à qual fui condenada. Amém.

LuanaC
Enviado por LuanaC em 11/02/2012
Código do texto: T3492581
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.