Durante este longo trajeto até o centro comercial de Desert Hills Sam aproveitou para também contar o que lhe acontecera e porque fora parar ali. Jody ouvia-o cocentrado quando algo lhe chamou a atenção ao olhar para trás. A não mais de trezentos metros, vinham em sua direção, em marcha lenta, certamente a fim de surpreendê-los, três homens montados em seus cavalos.

- Sabe quem são aqueles homens? - perguntou Jody ao ver que Sam também agora os pressentira.

- Não exatamente, mas algo me diz que estão vindo do deserto.

- Tudo indica que sim - afirmou o rapaz. - E algo me diz que nos perseguem.

Sam então tirou do alforje um pequeno binóculo. Reconheceu entre os homens o forasteiro. Ele vinha no meio de outros dois e já tinham em suas mãos armas apontando para eles.

- Agora não me resta dúvida; reconheci um deles, foi o tal que me atacou. Não acha que devemos acelerar e fugir deles?

- Não há dúvida, mas tenho um plano melhor. Como está sua pontaria?

- Não das melhores, mas não está tão má. Além disso, tenho comigo duas armas completamente carregadas.

- Isto é ótimo. Ouça. Saque disfarçadamente a arma e tente acertar um deles quando estiverem mais próximos. Enquanto estiverem nesse tipo de marcha está muito bom. Vamos diminuir a nossa para que se aproximem e vamos fingir que não os notamos. - Jody sacou do bolso um espelho médio e o entregou a Sam.

- Ajamos normalmente enquanto você os visualiza por trás. Quando achar que consegue, vire-se imediatamente e dê o tiro.
Foi questão de minutos até que Sam, percebendo agora a facilidade do alvo, não perdeu tempo. Virou rapidamente e atirou duas vezes. O cavaleiro da direita caiu alvejado. Imediatamente os outros dois se separaram e começaram a atirar, vindos em direção a eles.

- Fujamos a toda velocidade. - Enquanto corriam emparelhados, Sam ouvia as orientações do jovem:

- Ouça! A duas léguas há uma estrebaria abandonada na primeira rua que virarmos à esquerda. Entremos nela. Com certeza irão passar direto e perderão nosso encalço.

Os tiros não cessavam. Para sorte dos dois a noite já havia caído, o que dificultava a perseguição e iria facilitar que se escondessem. Vez ou outra se viravam e revidavam os disparos, mas sua preocupação principal era fugir e se esconder. Entraram na rua mencionada e, ao avistarem a tal estrebaria, se meteram ali. Era uma rua curta, não muito larga e o local que queriam ficava bem no começo. Sendo assim, os que vinham atrás realmente passaram direto sem darem conta de que tinham sido enganados.

- Pode ser que retornem ao darem por nossa falta - disse Sam.

- Neste caso acabamos com eles - respondeu O jovem.

- E porque não fizemos isto antes?

- Em campo aberto não é difícil tomar um tiro. E minha tentativa de acertar um deles era com a esperança de que desistissem e fugissem.

- Você não faz ideia do que sejam esses bandoleiros. Quando se trata de ouro não ligam sequer para a própria pele. Gostei de ver que minha pontaria funcionou a contento, mas estou arrependido de ter deixado água e cavalo para aquele desgraçado no deserto. Sei que não vai sossegar enquanto não me achar na cidade. Por que não o acertei em vez do outro?

- Pouca diferença isto faz. Todos já sabem agora que você tem um segredo e não vão sossegar enquanto não o pegarem. Foi mesmo sorte sua ter me encontrado; pode contar comigo para essa briga.

As palavras de Jody trouxeram grande alívio para Sam e só fizeram fortalecer aqueles laços de amizade entre os dois. Precisaram permanecer ali um largo tempo até que tivessem a certeza do não retorno dos outros. A preocupação de Sam com o risco que o rapaz assumira para protegê-lo dos meliantes não foi menor que a gratidão em saber que podia contar com sua ajuda. Jody quis deixar claro que não era mais do que sua obrigação ajudar um amigo que tanto o auxiliou no passado.

A mesma confiança era demonstrada também por Jody quando disse de sua certeza em contar com o amigo para o grande problema que vinha enfrentando no caso Bem Rupert. Firmaram ali um pacto de amizade para o que der e vier; se fosse preciso dariam a própria vida um pelo outro, mas, é claro, esperavam nunca terem que chegar a esse extremo. Desert Hills Não era menos perigosa para se viver do que Susanville.

Aliás, naquela parte do velho oeste não havia cidade em que a ganância pelo ouro falasse mais alto do que outra coisa. A grande corrida às minas ocasionou a destruição de muitos lares onde chefes de família perderam suas vidas arriscando-se num tipo de empreitada incerta e perigosa. As cidades cresciam aceleradamente e todas as negociações eram feitas tendo por base o precioso minério. Matar ou morrer havia virado lema de muitos.

Sequestros, prostituição, destruição familiar, brigas e assassinatos passaram a ser tão comuns quanto o avanço das cidades que antes viviam na dependência de riquezas que o avanço da população e o próprio crescimento iam tornando cada vez mais escassas. A família de Jody era uma das que prosperaram com a extração do ouro. Seu pai enriqueceu em poucos anos de dedicação exclusiva a esse tipo de atividade; sua estrela brilhou como brilhou a estrela de outros tão raros a se contar nos dedos de uma das mãos.

- Acha que podemos ir agora? - perguntou Sam.

- Acho que sim, sigamos com cautela - respondeu Jody, vendo no amigo sinais evidentes de cansaço e certamente de fome, também. - Não é raro acontecerem emboscadas, principalmente à noite. Mas depois de todo esse tempo que passamos lá dentro, não creio que ainda estejam por aqui. Em todo caso, não custa se prevenir.

- Acha que devemos nos separar? - Quis saber Sam, mas, ao mesmo tempo, receoso de uma resposta afirmativa.

- É claro que não! Nem pensar! Não creio que queira ser abordado por dois estranhos sedentos de ouro a esta hora da noite; e esgotado do jeito que está.

- Teria que me virar - respondeu satisfeito. Mas sei que poderia contar com você nessa cidade quase estranha para mim. Considere-se meu guia daqui para frente - completou num sorriso.

Saíram cautelosamente, seguindo pelo canto da rua. Não iam emparelhados, mas Jody ia à frente, seguido bem de perto pelo amigo. Passavam por casas tomadas pela escuridão e algumas lojas já fechadas. Ampliaram a visão ao alcançarem o fim da rua. Sentindo-se seguros, seguiram adiante. Pegaram novamente o trecho principal que os levaria a centro.

 
Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 08/02/2012
Reeditado em 08/02/2012
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