A alma penada
A alma penada
Maíra morava na chácara há alguns meses, e vivia assustada com o que via ao redor da casa principal, onde estava morando. Antes das seis da tarde, ela às vezes, estava sentada na sala, outras vezes na varanda olhando as aves no quintal. Ela via uma procissão que passava em volta da casa, às vezes era um velho negro com um chapéu enorme, outras vezes era um moleque/adolescente que estava sempre sem camisa, outras vezes eles faziam um verdadeiro desfile como se procissão fosse e as mais estranhas figuras passavam bem a sua frente, pelas vestimentas Maíra concluiu que eram trajes muito antigos, talvez da época do Brasil império.
Ela comentou com sua velha mãe e esta lhe advertiu: - Minha filha, isto não é coisa deste mundo, melhor a gente ir embora daqui.
E a rotina continuava, sempre antes das seis da tarde. A mãe de Maíra a julgava possuída de algum mal. Católica que era, rezava dois ou três terços por dia. Um dia receberam a visita de uma velha senhora espírita. Logo ao sentar-se na sala, ela chamou Maíra em particular e segredou-lhe: - Nossa, minha filha, mas eu vi quase tudo o que você me falou e ouvi também, estou até com dor de cabeça. Maíra assustou-se, pois até então só tinha visto, ouvir, era outra coisa. Ficou surpresa e perguntou: - O que a senhora ouviu? A senhora sacudiu a cabeça e preferiu não repetir o que tinha ouvido, estava realmente perturbada.
Quando deram seis horas em ponto e o sol já esta se pondo, a senhora aproximou-se da janela da sala e num gesto como se estivesse conversando com uma pessoa, acenou várias vezes com a cabeça, estava muda e parada no mesmo lugar, até ir solenemente ao chão, com o choque que teve com a energia que tinha tido contato.
Depois de muita oração e reza pedindo para a senhora voltar a si, ela abriu os olhos lentamente, e passou o recado para Maíra, sua mãe e outras pessoas incrédulas que estavam por ali. Em poucas palavras ela relatou o pedido da alma que se apresentara para ela. Era um velho negro e escravo, Outrora naquele lugar tinha sido uma fazenda de café, onde os escravos eram muito maltratados. A alma pedia que a Siazinha que morava na casa, erguesse uma cruz na parte da frente da chácara e ali fizesse suas orações por todos aqueles que tinham partido e sentiam-se de certa forma presos as tristezas do passado.
Maíra atendeu ao pedido da alma penada, e mandou colocar a cruz no lugar indicado. Várias vezes reunia-se com sua mãe e outras pessoas, e rezava por aqueles que ali sofreram e padeceram no passado. Passados alguns meses, as figuras foram desaparecendo, e somente o velho negro que se apresentara para a senhora espírita continuava se apresentando aos olhos de Maíra. Ela chamou novamente à senhora espírita, que lá foi visita-la. Antes do entardecer a senhora já tinha a resposta que Maíra precisava. Ela falou assim: - Maíra minha filha, não precisa mais se preocupar, o velho que continua rondando a casa, pede para que não o chames mais de alma penada, pois ele é um guardião e protetor dos seus caminhos, na verdade um anjo de guarda, e disse que um dia você ainda ouvirá a voz dele a chamar-lhe, isto acontecerá quando deixares de ter medo.
Passou-se mais um tempo, certa noite, quando voltava do curso que fazia na cidade, Maíra vinha dirigindo seu velho carro pela estrada de chão quando notou algo estranho lá na frente, freou assustada. Finalmente encontrou o velho negro que rondava a chácara. Ele apenas disse-lhe: - Segue sem medo, nada demais está acontecendo, tudo vai dar certo, tenha calma.
Ela acelerou o carro, e chegou rapidamente em casa, sua mãe estava passando mal, duas vizinhas vieram ajuda-la. Já tinham dado o remédio da pressão, e estavam esperando a ambulância, os paramédicos chegaram, mas não precisaram fazer nada, a mãe de Maíra estava completamente restabelecida.