Prólogo // Bastidores

A correria dos fotógrafos e dos indivíduos que passavam por ali me assustava. Meus olhos corriam perdidos pelo rosto de cada pessoa enquanto meu empresário e seguranças gritavam para se afastarem.

- SAIAM! SAIAM DE PERTO! – Henry, meu empresário vomitava as palavras enquanto dois homens altos e fortes empurravam os estranhos – ou fãs, não sei bem dizer – que se infiltravam no meu caminho. O carro já estava estacionado a dois metros de mim, distância aquela que parecia quilômetros e tudo o que eu podia fazer era esperar por uma solução enquanto me esquivava de câmeras e flashes furiosos que vinham em minha direção.

Finalmente vi a porta do carro abrir e pulei dentro do veículo. Henry entrou logo atrás de mim e um dos seguranças – o mais forte – fechou a porta com força. Eu olhei para o meu lado esquerdo e a multidão enlouquecida se amontoava perto do carro. O meu outro eu, o meu reflexo, estava sério e assustado, seus lábios tremiam e sua pele estava pálida.

- Está tudo bem? – meu empresário perguntou preocupado. Apenas balancei a cabeça e olhei para baixo. Enfiei a mão no bolso da minha bermuda xadrez azul e branca e puxei meu Smartphone, desbloqueei a tela e cliquei no atalho do Twitter. Meus dedos correram pelo teclado e então comecei a digitar: “Que dia louco passei aqui em Nova York! Agitado e medonho ao mesmo tempo. Estou indo para casa descansar, beijos. -T”. Escolhi a opção “Update” e um círculo começou a girar no centro da tela com um aviso de carregamento piscando abaixo. Apenas percebi que o carro já estava em movimento quando guardei o aparelho e olhei para a paisagem que agora era só um vulto.

- O aeroporto é muito longe daqui? – virei minha cabeça para Henry que olhava atento para a tela de seu celular.

- Não muito, uns dez ou quinze minutos – ele afirmou e eu voltei a olhar pela janela escura.

O tempo costumava passar devagar quando eu queria que voasse. Queria muito pegar aquele avião e voltar para o conforto da minha casa em Los Angeles e finalmente descansar depois de coletivas, entrevistas, programas de TV e etc. Aquilo tudo já estava começando a me cansar, mas não posso dizer que não é o que eu amo fazer, pelo contrário. Amo minha profissão e amo meus fãs. Amo ter a mídia em torno de mim, mas não em torno da minha vida. Devem ser questões diferentes, certo?

- Ei, estamos chegando. Fica de olho. – meu empresário já estava se preparando para descer do carro. Seus olhos atentos ao cenário infernal que estava o aeroporto desviavam alguns segundos para ver minha reação, que agora era fria e calma.

- Dá pra ficar calmo? Você é quem acaba me deixando nervoso – eu disse a ele e respirei fundo. Chequei meu celular no bolso e olhei em minha volta para ver se não estava esquecendo nada. Encostei minha mão na maçaneta e esperei até o veículo estacionar totalmente. Quando parou, quatro seguranças vieram em direção ao carro e esperaram do lado de fora em um semicírculo. Abri a porta e pude ouvir algumas pessoas gritando – inclusive o meu nome – e outras com papel e caneta na mão.

Olhei para trás e vi que Henry já estava fora do carro pagando uma gorjeta ao motorista e ao carregador de bagagens, que já estava com as minhas malas e as dele no carrinho de metal.

Virei o rosto novamente para frente e algumas meninas segurando papéis com meu rosto estampado estavam sendo barradas pelos quatro seguranças. Abri um sorriso e fui em direção a elas.

- Oi! Como vão? – perguntei as três garotas e elas gritaram. Fingi outro sorriso e peguei a caneta de uma delas e depois o papel. – Qual o seu nome?

- Ca-Ca-Carolina! – a jovem de cabelos morenos e sardas no rosto respondeu gaguejando e eu ri sincero. Em seu papel, escrevi: Beijos e abraços para Carolina. Com amor, Tyler. Fiz o mesmo com as outras duas meninas que foram embora satisfeitas e chorando.

Os seguranças resolveram andar e eu acompanhei os quatro. Algumas vezes, quando freavam bruscamente na minha frente, eu batia nas costas de um deles e um palavrão era solto para amenizar a situação. Minha mão foi em direção a gola da minha blusa e eu a tateei até achar meus óculos escuros, que pus rapidamente em meus olhos.

Avistei dezenas de paparazzi vindo correndo para cima de nós e minha respiração ofegou. Odiava ficar em meio ao tumulto, me sentir preso ou totalmente cercado. Abaixei a cabeça e coloquei o braço por cima do rosto. Os seguranças gritavam desesperadamente, enquanto empurravam os homens com seus flashes que brilhavam raivosos.

Sabe, eu costumava ser um cara legal. Sempre rindo para os fotógrafos e para todos a minha volta – digo de forma espontânea – mas hoje em dia não consigo mais fazer isso. Não depois que fui acusado de um crime que não cometi.

Lucas Campanaro
Enviado por Lucas Campanaro em 17/01/2012
Código do texto: T3446592
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