“A Tempestade”


Quando saí da escola, caminhei até o sítio em que moramos que ficava a oito ou nove quilômetros da cidade.
Embora fosse cedo ainda, por volta de treze horas, começou a escurecer.
Quando cheguei da escola ao invés de fazer lição, falei para minha mãe, que a professora não havia passado, ela acreditou.
Aproveitei e saí para nadar, minha mãe ainda disse:
- Não vá longe parece que vai chover.
Como já era um rebelde sem causa, fiz questão de ir a um rio próximo de casa, que era fundo e caudaloso.
Como eu sabia nadar, não me preocupei.
Entre um mergulho e outro, me distraí.
Quando percebi era tarde demais.
O vento a uma velocidade incrível batia nas águas fazendo ondas enormes.
Fui sendo arrastado para uma ilhota no meio do rio.
Com muito esforço consegui sair da água.
Mesmo fora do rio bebia água, por causa da força da tempestade.
Um trovão ribombou sobre mim e um raio derrubou enorme árvore bem próxima.
Ao cair, um de seus galhos prendeu minha perna ao chão.
Eu era pequeno, tinha só nove anos, não conseguia me desvencilhar, pois era muito pesado.
O pior estava por vir, as águas do rio começaram a invadir a ilha.
Como estava preso não havia alternativa, iria me afogar.
Já estava prestes a isto e aconteceu um feliz acidente.
A enchente que me mataria, fez com que o galho me salvasse da morte certa.
Com sua força carregou o galho, bem como a árvore para o meio do rio.
O perigo de afogamento havia passado, pelo menos por enquanto.
Mas ainda era cedo para me sentir salvo.
Com muito pouca terra para pisar, fui chegando aos lugares mais altos.
Até que dividi uma pequena elevação, com uma raposa e um mão pelada, os dois filhotinhos.
Querendo ou não ficamos encostados um no outro, pois não tínhamos alternativa.
Não sei que hora da noite, mas desmaiei.
Quando acordei, o sol já batia em meu rosto, a tempestade há tempos já havia desaparecido.
Ouvi gritos, era meu pai e amigos me procurando.
Dizem que todo antídoto também é veneno, fui salvo juntamente com meus mais novos amigos e por causa do perigo esqueceram até de me castigar.
Minha mudança foi radical.
Comecei a estudar de verdade, sempre que terminava de fazer as lições, ia brincar ia brincar com meus novos amigos.
Enfim toda esta mudança se deu por causa da tempestade.
Hoje quando o céu escurece, com um prenúncio de chuva, corro para minha casa, que é o único lugar seguro, para fugir da Tempestade.


                                                   Oripê Machado.





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Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 28/12/2011
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