Segure na minha mão. Parte 6

17 de agosto de 2014, ás 07ho02min. Parte 6

Já estou com saudades do meu velho Opala. Meu primeiro carro, e se ele falasse, passaria anos contando boas histórias.

Depois de caminhar pela rodovia durante 25 minutos a pé, avistei uma moto caída no chão. Mal acreditei no que vi, uma XT 660 da Yamaha completamente abandonada. Dei partida e prossegui meu caminho de moto, mais não conseguia andar muito rápido, pois tinha que desviar dos carros abandonados na rodovia. Tentei imaginar o que poderia fazer com que as pessoas abandonassem seus carros! Para onde elas foram? Como se todos tentassem fugir do interior, sentido centro de São Paulo. Passei novamente onde tinha visto aquela mulher infectada, presa ao cinto de seguranças, e ela ainda permanecia lá. Decidi não incomodar desta vez.

Após andar lentamente pela rodovia, com uma quantidade grande de infectados me seguindo, avistei uma saída que dava acesso ao castelinho da pamonha, uma lanchonete bem conhecida naquela região. “Talvez eles ainda estivessem servindo” – Pensei antes de seguir. Em frente à lanchonete havia três carros da policia militar e um caminhão do corpo de bombeiros, ao lado de alguns policiais mortos. Mesmo armados não conseguiram manter-se vivos, alguns policiais não haviam nem sacado as suas armas, ainda presas ao coldre. Seja lá o que os atacou, era muito rápido e destrutivo. Aproveitei a situação e peguei as armas e munições que encontrei dentro das viaturas, recolhi uma pistola 380, pentes de munição, e também uma máscara facial que tinha dentro do caminhão do corpo de bombeiros. Já munido, andei em direção a entrada da lanchonete, onde me esperavam dois infectados, um deles com o uniforme dos bombeiros. Pensei em recuar, não queria atirar em um bombeiro, mas algo me disse para continuar em frente e verificar dentro da lanchonete, então tive que atirar. Naquele momento pensei em como em apenas 48 horas havia me tornado um assassino, sem culpa ou remorso.

Ao ter acesso a parte interna da lanchonete, pude ver muito sangue no chão. Um dos cadáveres, ou o que restara dele, havia virado refeição, e mais adiante, atrás de uma porta onde se lia os dizeres “Acesso restrito a funcionários”, mais três funcionários caídos no chão. De repente, ouvi tiros não muito longe, e corri para o estacionamento. Um policial militar disparava contra um cão, enquanto vários outros iam se aproximando. Pareciam muito agressivos, e quando vi que ele não daria conta sozinho, me aproximei para tentar ajudar. Quase levei um tiro quando ele me viu, mas por sorte consegui gritar antes que ele disparasse. Saquei minha arma e atirei contra os cães, mas os malditos não morriam facilmente.

Vendo que não conseguiríamos, ele sinalizou para que saíssemos dali o mais rápido possível. Corremos para dentro da lanchonete e trancamos a porta, enquanto os cães latiam e tentavam forçar a entrada. Vendo que as trancas não durariam muito tempo frente à força dos cachorros, comecei a pensar em algo que nos tirasse daquela situação. Falei que a minha moto estava na entrada, e deveríamos tentar chegar até lá, mas ele disse que nunca daria certo. Frustrado, perguntei qual era o plano dele. Ele pensou por alguns segundos, e vendo que não havia outra saída, disse que distrairia os cães enquanto eu saía pela janela lateral e pegava a moto. Não era o melhor plano, mas era tudo que tínhamos. Então pulei, e logo corri em direção a moto. Mal dei a partida, já ouvia ele vindo em minha direção, gritando para que eu ligasse logo aquela porra de moto. Dava para ver o quanto ele estava desesperado, os cachorros correndo em nosso encalço. O filha da puta não havia seguido o plano, mas conseguimos escapar.

Daniel Tenorio
Enviado por Daniel Tenorio em 25/12/2011
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