O ANJO DA MEIA NOITE

O ANJO DA MEIA NOITE

Natália era uma pequena órfã. Ela permaneceu no abrigo por três anos, esperando que alguma família a tirasse dali. Já esta com onze anos, quando um casal na casa dos quarenta resolveu adotá-la. Depois de toda a burocracia, Natália foi para seu novo lar. Era tímida e quase não pronunciava palavra. A senhora Juliana, estava muito feliz com a menina. Era bonitinha, tinha os olhos cinzentos, o rosto cheio de sardas e os cabelos louro dourados. Era realmente uma menina diferente das que fora apresentada pelos inúmeros abrigos que visitara.

Natália tinha um apelo no olhar, que fora quase irresistível. Juliana levou muitos dias pensando na menina, o mesmo aconteceu com o Luís seu marido, até que depois de um ano, conseguiram finalmente a guarda provisória.

Natália foi para a escola e estranhava tudo. Não gostava de nada. Sentia-se tímida, solitária, assustada com os costumes. Vinha de uma pequena cidadezinha do sul, e agora morando numa metrópole como o Rio de Janeiro, sentia-se tragada.

As primeiras noites o casal ficou assustado, depois que o ritual começou a se repetir, eles nem iam dormir antes da meia noite. Natália deitava-se cedo, e lá pela meia noite sofria uma transformação radical: Começava dando uns pulos na cama, depois dava uns gritos que pareciam uns uivos, ou alguma coisa do gênero. Era de arrepiar. O casal assistia a tudo sem fazer nenhum barulho. Às vezes Natália, abria os olhos e como se não os visse ali na sua frente, e como se fosse outra pessoa, falava gritando: - Quero meu cigarro! Sua vadia, vá logo arranjar alguma bebida para mim. A rotina era quase sempre a mesma. Dava meia noite e Natália começava a se exaltar. Em vão, tentaram arrancar alguma coisa da menina durante o dia e nada. Ela apresentava-se normal. Calma, tranquila, falava pouco, observava muito, mostrava preferência pela vida caseira. Não tinha muito interesse nos estudos, não gostava das primas, as filhas da irmã de Juliana, que eram quase da sua idade.

De noite para noite as coisas iam se modificando, até que Natália deixou de grunhir, de uivar e passou a chorar, e gritava muuuuuuuuuuito: - Quero minha mãezinha, desgraçado você tomou ela de mim. Dava medo, horror, pavor e muita pena de ver a menina sofrendo assim.

Juliana e Luís eram muito atenciosos, carinhosos e preocupados com a filha. Ela foi encaminhada ao psicólogo, posteriormente a um psiquiatra que a estava acompanhando.

O tempo passava-se e Natália continuava com as suas sessões a meia noite e o desfile de personagens que assumia era uma coisa fictícia. Tinha de tudo, o bêbado vagabundo, a vadia, a menina que chorava procurando pela mãe, o policial. Passados alguns meses, Natália ficou mocinha e quando estava na época da menstruação parecia que ficava mais atacada.

Em vão, Juliana e Luís, tentaram levá-la a igreja. Ela se recusava. Dizendo que naquela igreja não poria os pés. No décimo terceiro aniversário de Natália, eles fizeram uma pequena festinha e convidaram umas coleguinhas da escola para ver se ela se entrosava. Ela apresentava simpatia por uma menina moreninha de nome Sara. Esta amiguinha deu-lhe de presente um maravilhoso diário, onde Natália passou a escrever com certa frequência.

Treze anos se passaram, vamos encontrar Natália terminando a faculdade de Psicologia. Lembranças daqueles “pesadelos” ficaram registradas em sua memória, sem causar-lhes maiores problemas. Aos dezesseis anos, ela passou a pesquisar por conta própria, em livros, na internet e em todo o lugar que havia, informações sobre mediunidade, espiritismo, e para normalidade. Encontrou vasto material, que digeria com cuidado, pois era muito desconfiada de certas teorias. Seus pais a acompanharam em sua longa jornada. Natália tinha uma sensibilidade muito aflorada e após registrar suas primeiras páginas no diário que a Sara lhe deu. Ela passou a captar ideias extraordinárias sobre romances, contos e outras histórias. Foi fazendo uma seleção e conseguiu material suficiente para publicar seu primeiro livro: “O anjo da meia noite”. A história começava numa casa pobre onde a menina de cinco anos, morava com os pais e um irmão de sete anos e uma irmã de dez anos. A menina sempre acabava chorando, gritando pela mãe. Que ela sabia não ia voltar jamais.

Natália agora livre dos traumas da infância com a ajuda da Psiquiatria e de seus amigos espirituais conseguiu reatar o fio das lembranças e reescreveu sua história, que lhe foi ditada por sua mãe biológica que faleceu antes de Natália completar seis anos.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 17/12/2011
Código do texto: T3393069
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