UMA TRAGÉDIA POR AMOR

Jack Dornfeld era meu chefe. Um executivo que morava em Londres de 33 anos. Um homem bonito, feições maduras, cabelos pretos, olhos castanhos, pele branca, másculo e uma respeitável figura na sociedade.

Minha vida sempre foi tranquila, trabalhei na Empresa de maneira correta, mas depois de algum tempo, percebi que ele estava me olhando com outros olhos.

Eu também sempre me considerei uma mulher bonita, apesar dos 30 anos. Sendo sua secretária, acabamos nos tornando muito amigos o que favoreceu ainda mais para que a atração acontecesse.

Os dias foram se passando e Jack continuava me dando suspeitas de seu interesse por mim. Até que finalmente me convidou para jantar num finíssimo restaurante no fim de semana. Muito feliz, aceitei o convite subitamente.

O dia do jantar chegara, e ele me buscou em minha casa. Chegamos até o local, ele muito educado, puxou a cadeira para que eu pudesse sentar. Eu estava com um vestido belíssimo, preto, com alguns strass no contorno da cintura. Havia passado uma maquilagem suave combinando com o vestido e um bator cor bronze. Ele também estava encantador: de camisa e calça social, com um perfume que exalava a sua masculinidade que enfeitiçava qualquer mulher.

Conversamos muitos e para minha felicidade, a o assunto foi tomando um outro rumo:

-Selena, sempre gostei de voce e a considero uma excelente profissional e grande amiga. Mas, acho que já é tempo suficiente para lhe revelar meus segredos mais intimos. Posso?

Super aflita, surpresa e contente respondi-lhe:

-Claro Jack!

-Sou solteiro e preciso de alguém para me fazer feliz. Eu não parei de pensar na sua irmã, desde o dia em que ele fôra até a empresa, por isso, gostaria que você me ajudasse.

Naquele momento, meu mundo caiu. Minha feição involuntariamente mudara e os olhos anseavam por derramar lágrimas que com muita força, não deixei cair.

-O que houve Selena?

-Não é nada Jack. - tentei disfaçar - Quero e vou ajudá-lo sim. Afinal, é a sua felicidade e de minha irmã que estão em jogo. Amanhã mesmo falarei sobre o senhor.

-Obrigado Selena. Você é uma pessoa maravilhosa. Uma amiga que quero ter por toda a vida. É muito bom poder contar com alguém como você, não só em assuntos profissionais, mas também em minha vida pessoal e minha felicidade.

Continuamos conversando e logo saímos do restaurante. Eu estava fora de mim. Jack me levou em casa e eu sempre disfarçando a grande dor que dilacerava minha alma.

No outro dia, conversei com minha irmã sobre o caso e ela que também estava interessada nele, decidiu conhecê-lo melhor.

Por volta de três meses eles foram se conhecendo e saindo juntos em quase todos os finais de semana. Para minha infelicidade, numa noite, Susan chegara em casa radiante e com um anel no dedo: ele havia a pedido em namoro. Dissimuladamente fingi estar contente. Não tinha culpa dele não me amar e amar a minha irmã. Cabia a minha aceitar a realidade e a grande dor de ter me apaixonado pela pessoa errada.

Os dias foram passando e eu tentava me distrair, conhecer outros homens, mas nada adiantava. Meu trabalho já não tinha o rendimento de antes. Jack um dia até me perguntara o por que eu estava tão aérea naqueles últimos dias. Eu sempre negava, dizendo que não era nada, somente um pouco de cansaço, e ele dizia que se eu quisesse tirar umas férias, ele aceitaria. Jack não sabia que o motivo da minha tristeza, era vê-lo amando minha irmã.

Dois anos se passaram e num terrível dia, descobri que ele havia pedido para se casar com Susan. Ela, mais feliz do que nunca me abraçava, dizendo que era a mulher mais feliz do mundo. Eu sorria disfarçadamente... Susan não sabia que era uma punhalada para eu aceitar tudo aquilo que estava acontecendo.

Fui sujeita a ser madrinha do enlace matrimonial e a ajudar em todos os preparativos. Ninguém sabia como tudo aquilo era torturante. Eu queria estar casando com Jack no lugar dela.

O "Grande" dia chegara e ambos estavam radiantes. O vestido de Susan era justamente aquele que eu sempre havia sonhado para mim. Assim que iniciara a cerimônia eu comecei a chorar. As pessoas diziam: "A irmã está emocionadíssima" mas, não era emoção. Era a tristeza corrosiva de presenciar a alegria deles, e a viver a minha infelicidade durante mais de três anos. Era torturante ver a minha irmã, se casando com o homem que eu amava. O amor foi acontecendo aos poucos e eu já não tinha mais dúvidas do meu sentimento por Jack.

Tudo foi muito lindo. Eles iriam passar a Lua de Mel no Thousand Miles Happy, um hotel maravilhoso e vista para a praia. A cada vez que eu pensava que eles estariam juntos e se amando, a minha dor era mais forte.

O tempo foi passando e eu procurei manter distância dos dois. Não queria jamais estragar a felicidade daquele casal que haviam sido feitos um para o outro. Eu teria que aceitar que ele não me amava, mas era difícil para mim buscar essa aceitação.

Numa tarde de domingo, chorando muito, eu quis por um fim aquela situação terrível que eu vivenciei durante os quatro anos mais tristes da minha vida. Já não tinha mais sentido viver. Eu buscava amor nos braços de outros homens, mas meu coração pertencia a Jack. Era amor, e um amor tão intenso que eu estava sendo capaz de tirar a minha própria vida para não estragar a felicidade do homem que eu amava e da minha própria irmã.

Eu havia comprado um veneno e decidi usá-lo naquela tarde. Peguei uma água e despejei o pó de veneno, porém quando o levei até a campanhia tocara: eram eles. Acabei deixando o copo de água já com o veneno próximo do filtro e fui abrir a porta. Deparei-me com Susan e Jack, abraçados e sorrindo para mim. Pedi para que se sentassem e ficassem à vontade. Fui tentando manter a calma e começamos a conversar. Para minha tristeza, Susan começou a falar de sua vida de casada e como isso me doía ainda mais. Arrependi de não ter bebido logo aquele veneno, pois pelo menos assim eu teria me livrado daquela dor que eu estava passando.

Debilitada, pedi licença a eles e disse que iria até o banheiro, eu realmente estava descontrolada, não aguentaria olhar mais um segundo para o rosto daquele casal que se amava tanto. Quando eu estava dentro do banheiro, não conseguia mais me controlar, comecei a chorar muito e quando mais eu tentava enxugar as lágrimas, mais intensamente elas rolavam em meu rosto. Susan chegou até a porta e disse:

-Selena, vou até a cozinha beber um copo d'água.

Eu não tinha ouvido direito, e quando parei para refletir a frase, havia acabado de me lembrar que havia um próximo ao filtro: o copo com o veneno. Abri a porta correndo e fui até a cozinha. Susan estava acabando de tomar a água que estava naquela copo. Eu disse:

-Susan, não!

Para minha dor, ela foi caindo no chão: estava morrendo. Jack chegara, quando ouviu o que eu disse e começou a ficar nervoso, trêmulo, debilitado, assim como eu estava. Começou a gritar, a tentar fazê-la acordar, mas nada adiantava. Susan já estava morta. O veneno era fortíssimo.

-Ela tomou veneno Selena? Como assim?

Eu não conseguia falar. Só chorava e estava totalmente arrependida. Era eu quem podia estar morta no lugar da minha irmã. Não queria traçar a infelicidade de Jack. Ele não merecia.

Depois de sepultada, Jack veio conversar comigo a respeito daquele dia. Perguntou-me se era a minha intenção matá-la. Eu disse que não, que nunca iria matá-la e que não tinha o por que fazer isso.

Hoje, passados 10 anos, estou com 45 e me sinto a mulher mais infeliz do mundo. Tentei suicídio várias vezes, mas nunca dá certo. Cheguei inclusive a tomar do mesmo veneno que minha irmã, mas parece que devo receber o castigo desse sofrimento.

Continuo amando Jack da mesma forma, porém depois da morte da minha irmã, ele acabou se aposentando da sua empresa e se afastou de mim.

Não sei o por que tive que passar por tudo isso. Praticamente matei Susan, literalmente matei a felicidade de Jack, matei a família que ambos poderiam ter formado e também matei a mim mesma. A única coisa que nunca consegui matar e o que está me mantendo viva hoje, é este amor que carrego em meu peito, permado pela tragédia de tentar evitar a dor, que se intensifica a cada dia que passa, em meu coração.

Sweet Shadow
Enviado por Sweet Shadow em 16/12/2011
Reeditado em 16/12/2011
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