A morte pede passagem
A MORTE PEDE PASSAGEM
Na rodoviária Dalmo não conseguia esquecer o terrível sonho que tivera a noite inteira. Numa curva da estrada nublada, o ônibus capotara e ele parecia estar vivendo todas as cenas horrendas da noite passada. Tentava controlar-se, antes de embarcar. Já tinha ido ao banheiro, várias vezes, mas continuava tenso.
Olhou o bilhete da passagem. A poltrona era a de número treze. Pensou número fatídico. Tomou uma decisão. Rasgou o bilhete. Ainda poderia chegar de madrugada, ficar um pouco com a namorada e depois ir para o trabalho. Foi no guichê decidido a comprar uma nova passagem. Ficou aliviado, nem precisou comprar do vendedor. Na mesma hora que perguntava ao homem do outro lado do guichê, apareceu uma jovem loura, bem vestida, de corpo escultural e lhe ofereceu um novo bilhete pela metade do preço. Tinha desistido de viajar.
Dalmo ligou para Maria e avisou: - Amor vou chegar só um pouquinho mais tarde, coisa de uma hora. Aconteceu um pequeno problema, te explico depois. Meus pais? Não está tudo bem com eles.
Sentou-se confortavelmente na poltrona de número sete, estava contente, pois tinha certeza, que agora tudo ia dar certo. Ficou meio surpreso, quando viu a loura entrar, e sentar-se por último ao seu lado, estendendo-lhe aquele sorriso convidativo. Pensou que estava mesmo com uma sorte enorme, viajaria ao lado de tão bela companhia.
A alguns quilômetros dali, Maria ainda sonolenta tomava uma xícara de café na madrugada que começara bem antes do esperado. O telefone tocara insistentemente até que ela compreendeu que não estava tendo um pesadelo. Dalmo era uma das vítimas fatais do terrível acidente que arrastara o ônibus em que viajava para fora da estrada.