"Anacleto".
 

Quando os rapazes do bar e bilhar do Rainha viam aquele fusquinha tremiam na base. Chegou o Anacleto, Dizem a boca pequena, que ele nunca foi policia, “é um bate-pau”, inspetor de quarteirão. Mas quem é o doido de dizer isto para ele? Anacleto não usava algemas. Andava com um feixe de talas de couro cru. Amarrava o caboclo, igual a animal colocava pêia, todos bêbados, suspeitos, ou qualquer coisa que ele não gostasse. De manhã, ia com um caminhãozinho resgatar os camaradas amarrados em postes e arvores do vilarejo. Às vezes o cidadão se soltava, mas não seria inteligente ir embora, era melhor esperar. Este safado era analfabeto, todos tinham medo dele. Já havia tirado deste mundo mais de cinqüenta almas, embora o povo afirmasse ser mais de cem. Havia até um caso que ele matou depois descobriram que o sujeito foi atropelado pelo trem. Tínhamos também o Seu Geraldinho, caboclo do mato, nunca ia à cidade, mandava sempre seu filho, ou alguém para buscar mantimentos. Um dia, Seu Geraldinho chegou com a mulher grávida e as crianças três ou quatro. Comprou “Di cumê” na venda, perguntou por serviço. Naquela época o sítio “Aroeira” tava largado, o dono morreu e o filho de S. Paulo não queria saber de trabalho na roça. Alguém com dó da mulher e da criançada apresentou os dois. Já fazia dez anos e o sitio “Aroeira” dava inveja de se ver. Izaltino filho mais velho do Seu Geraldinho, foi na cidade fazer as compras do mês. Fez as compras e quando carregava a carroça, parou um fusquinha a seu lado. Dentro do carro Anacleto falou rispidamente. –Aonde você vai com esta faca? O rapaz estava com uma faca à cinta. Onde os pés me levarem, também ríspido, não conhecia o homem. Com esta resposta ganhou na loteria. O gigante Anacleto desceu do carro e foi até a carroça. Izaltino magrinho, não tinha conhecimento da cidade e nem sabia que o homem era da policia. Tomou um tapa na nuca que bateu com a cabeça na carroça, quando voltou tomou um murro no estômago. Caiu e semi-inconciente, foi arrastado e amarrado em um poste de madeira. Seu irmão menor acompanhou a cena e correu para casa avisar o pai. Seu Geraldinho foi para a cidade, primeiro soltou o filho, depois quis saber quem fez aquilo. Na delegacia não tinha ninguém. Levou o pessoal para casa. De manhã voltou para a delegacia. Esperou até que às onze horas mais ou menos chegaram o delegado e o escrivão. Explicou a situação, mas na delegacia ninguém sabia de nada. Então foi brincadeira de alguém, se quiser fazer queixa? Não preciso. Enquanto Seu Geraldinho conversa com o escrivão, chega Anacleto, quer dizer que o senhor soltou meu preso? Tomou um sonoro tapa na cara. Isto é para aprender a respeitar a polícia. O delegado e o escrivão puseram panos quentes. Já terminou seu filho foi embora então não se fala mais nisso. Anacleto concluiu, na próxima amarro um de costas pro outro. Passaram os dias e comentaram. O sítio “Aroeira” está abandonado. Parece que o Seu Geraldinho pegou a família e foi embora. Seu Gealdinho havia passado tudo para seu vizinho, entregado tudo que ele fizera até dinheiro para o proprietário. Na cidadezinha vida normal. Anacleto foi visitar a namorada, como sempre fazia. Quando chegou viu dois cavalos amarrados no portão. Desceu do fusquinha rapidamente, pegou um porrete de madeira e assim que entrou viu a moça amarrada em uma cadeira. Quando quis levantar o porrete tomou uma pancada na cabeça. Quando acordou estava firmemente amarrado com suas fitas de couro. Seu Geraldinho estava juntamente com o rapaz que ele havia amarrado à sua frente. Meu nome não é Geraldinho, venho de muito longe de um lugar de muita violência. Vivi na violência até que resolvi parar. Peguei minha família e vim para cá. Sempre respeitei a polícia, mesmo quando fazia coisa errada. Mas a polícia também me respeitava o trabalhador. Nestes dias que temos andado atrás de você, descobrimos que nem polícia você é, ofendeu minha família, e a mim. Só tem uma atitude. Você não se importa, mas a moça que ficou amarrada para não morrer, também sei que ela te aceita obrigada. Além de resolver nossa pendenga, vou fazer um favor para ela. Tudo isto é para que você saiba que trabalhador, não é palhaço, e como palhaço vou te vestir. A lâmina rápida cortou os dois tendões do calcanhar de Anacleto. O gigante desmoronou, começou a chorar e pedir perdão. Depois o rapaz cortou suas duas orelhas. Podia matá-lo, mas você não merece. Arrastaram até a praça e amarraram em um poste. Estava tão bem amarrado que foi difícil conseguir soltá-lo. A partir daí viveu o gigante de esmolas, porque era tão covarde que nem tinha coragem de se suicidar. Virou um cadeirante, ninguém nunca mais ouviu falar em Seu Geraldinho e sua família. Ou chegaram a vê-lo em quatro lugares diferentes quase duzentos quilômetros um do outro todos na mesma hora. A policia desistiu de procurar e em algum lugar espero que numerosa família, do Seu X viva bem.
“Se bandido soubesse que determinada hora, mesmo o mais honesto e pacato dos homens, reage. Tome cautela.”

OripêMachado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/11/2011
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