O Assalto
Parte nove
A Conversa Com O Homem Do Espaço
Estou sentado no chão. Não sei que horas são. Sei que é outro dia pela claridade da janela. Meus amigos... Dois mortos na minha frente. Nunca tirei a vida de ninguém. Jamais fui assassino. Um assalto cruel que atirasse nas pessoas. Usava revolver para intimidar, apenas isso. Só ontem assassinei três pessoas.
Alguém senta do meu lado. Sei quem deve ser. Seu barulho é bem incômodo. Não viro meu rosto. Parece calmo. Não há cheiro vindo dele. Ele está bem. Coça alguma parte do seu corpo. Ouço a unha roçar algo seco nele. Talvez a pele. Fico um tanto constrangido com a maneira dele se coçar quase peço para parar. Não demora, logo não coça mais. Não me viro. Aposto que sente meu medo. Meu medo pelo ar. Acho melhor como está. Nós em silencio...
Por que sentou do meu lado? Por que está aqui? E o silencio vira lâmina em mim. Nele não. Deve estar acostumado. Matarei o silencio, pois se pensa que não sei quem é está encanado e posso mata-lo. Com qual arma? Com qual instrumento? O revolver não tem munição e estou longe da cozinha pra buscar a faca. Prefiro quebrar o silencio.
- Seu Mendes? É o senhor mesmo?
- Sim.
- O senhor não morreu? Não está morto?
- Morto estou. Você fez isso. Não lembra?
- Como poderia esquecer. Atirei no seu peito.
- Verdade. Tirou minha vida. E eu gostava de viver como um humano.
- O senhor não é humano, não é?
- Olhe pra mim e comprove?
Não tinha vontade de virar. Com esforço viro e vejo Seu Mendes. Olhos escuros e opacos, altura pequena, pele acinzentada, seis dedos nas mãos e pés, a pele seca e a grande cabeça num corpo pequeno. Não tive pavor. Talvez incômodo e nada mais.
- O senhor veio para me matar?
- Não tenho condições.
- Então, por que veio?
- Não posso responder.
Levanta. Ouço seus passos. Passos secos no chão. Também não sei que direção foi. Começa a perambular. Mexe nas panelas, destampa. Aproxima-se dos meus amigos. Estou nervoso. Nervoso com a sua presença. Não tinha que aparecer. Não tinha que mostrar medo.
Ergo-me.
- O quer de mim? Fale!
Ela não se encontra. Não há ninguém. Ninguém!
Sento-me. Espero sair do outro cômodo, que mexesse nas tampas das panelas. Nada. Não há ninguém. Silencio.
A pedra. A pedra gera o medo. O medo em mim.
Não quero sair de perto dela. Ela me pertence e morreria caso fosse necessário...
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Quem está acompanhando amanhã é a ultima parte do conto.
obrigado.