A Bailarina, Romance, Cap. XV
Por volta de uma hora de domingo, praticamente todos já haviam almoçado. Ninguém comia muito mesmo, excetuando-se os dois assistentes, que não precisavam manter tanto a forma. Mas a preocupação de Roger e Wandinha com as suas respectivas reuniões como que se transmitiu a todo o grupo.
Ao se aproximar da mesa do café, Afonso observou que Marluce servia-se sozinha. Aproveitando-se dessa chance, o diretor segredou-lhe rapidamente ao ouvido:
-Preciso que você vá à minha suíte às duas horas. É muito importante.
A partir desse momento, Marluce teve que se esforçar para que não percebessem que algo a preocupava. Lembrou-se do que ocorrera no Teatro Municipal de sua cidade. Só que agora o recado não fora dado por nenhum contra-regra. O encontro estava sendo combinado diretamente com ele. O que ele deve estar querendo comigo? Já não tem o Marcel? Mas por que há de ser algo relacionado a isso? Na verdade, do encontro lá na sala dele no teatro ele nem sabia. Foi invenção do Marcel. Deve ser alguma coisa relativa à companhia que ele quer criar. Marluce lembrava-se de alguma coisa nesse sentido que Ingrid lhe contara. O que a ajudava a se tranqüilizar um pouco.
A subida de Ingrid para a reunião com Wandinha e a saída de Roger e Marcel para o encontro com os dois cubanos, como todos ficaram sabendo, certamente para tratarem de assuntos que se relacionavam, contribuíram para a maior tranqüilidade de Marluce. Que às cinco para as duas estava acionando a campainha da suíte presidencial.
Marluce surpreendeu-se ao ser recebida por Afonso vestindo um robe vermelho, com os cabelos cuidadosamente penteados, sobrancelhas feitas e exalando o agradável odor de uma essência que só poderia ser de origem francesa.
-Entre, por favor, senhora bailarina.
Apesar da sua relativa altura, Marluce sentiu-se pequena dentro do short azul-marinho que vestia, com a blusa amarela de mangas compridas de malha, diante da ampla sala da suíte, com espaço para dois conjuntos de sofá, em que caberiam com todo o conforto mais de dez pessoas. Antes de se sentar, pode observar os inúmeros óleos sobre tela nas paredes da sala e teve a atenção atraída para o home theater, no lado contrário ao da lareira, em que se sobressaía o telão, um plasma com 42 polegadas.
-Tudo bem, Marluce?
-Nossa, que luxo!, respondeu a bailarina, não se contendo diante da opulência do ambiente.
-Toma alguma coisa?
-Não, acho que não. Acabamos de almoçar, não é?
-Um suco talvez.
-Tá bem, só um suco.
Ao se dirigir à cozinha para pegar o suco, Marluce teve a chance de verificar que a suíte era na verdade um apartamento completo e maior que muitos onde vivem famílias com dois ou três filhos. Uma sala ampla, uma saleta um pouco menor ao lado, e uma cozinha e um quarto que também deveriam ser de área espaçosa. Todos os cômodos devidamente iluminados, a julgar pela luz do dia, abundante no interior da sala e iluminando o pequeno hall por onde se acessava a cozinha. Ao voltar da cozinha, Marluce percebeu que Afonso não deveria estar vestindo nada sob o roupão, cujo tecido não era suficientemente espesso para impedir a ação, ainda que incompleta, dos raios luminosos.
Sentando-se no sofá ao lado do de Marluce, Afonso colocou na mesinha entre os dois sofás o copo com o suco e, esforçando-se para que ela não percebesse, uma latinha de tampa colorida com motivos floridos, cerca de cinco centímetros de diâmetro e da espessura de um dedo. Após servir-lhe o suco, Afonso não se mostrou preocupado com a leve abertura frontal do robe, revelando parte ainda não considerável de seus pelos negros e do pênis que parecia querer acordar. Era evidente a intenção do diretor. Afonso queria terminar o que haviam começado naquele ensaio no Teatro Municipal da cidade natal dos dois. Marluce sentiu-se desconcertada pela situação. E incapaz de qualquer reação. Foi a voz de Afonso que a tirou do imobilismo.
-Queria dizer que estou muitíssimo satisfeito com você.
-Obrigada. Fico contente em saber, disse Marluce, procurando nos olhos de Afonso indícios que lhe garantissem a sobriedade de seu estado emocional. É... é só isso?, reconhecendo o arrependimento, logo em seguida, de ter feito a pergunta.
-Claro que não. Não tenha medo. Você sabe que me atrai muito. Sempre me atraiu.
-Não faço nada pra isso. Apenas tento cumprir aquilo que deve ser feito, defendeu-se Marluce, sempre com os olhos nos olhos de Afonso, o que não lhe impedia de imaginar ou até mesmo perceber que o membro dele já deveria estar praticamente descoberto.
Fato que inevitavelmente a remeteu ao dia em que sentira a cabeça do pênis de Afonso deslizando-lhe pela fenda da vagina sobre o collant, possivelmente favorecida a lembrança não só pela beleza e charme do homem à sua frente como também pelo luxo e sofisticação do ambiente. Parecendo adivinhar o que se passava na cabeça de Marluce, Afonso como que pulou para cima dela, beijando-lhe com sofreguidão. O pau imediatamente alojando-se entre as pernas da menina. A ação foi tão rápida que Marluce não teve tempo de reagir (ou preferiu não reagir, ou não quis – iria pairar-lhe para sempre a dúvida), achando-se em segundos sem o short que vestia e a calcinha amarela, mantendo no corpo apenas a blusa de mangas compridas da mesma cor da calcinha. As duas mãos do homem cingiram-na pela cintura, sustentando-lhe o corpo um pouco acima do assento do sofá. Manteve-o nessa posição, valendo-se depois da própria ajuda de Marluce e de uma de suas mãos ainda por trás dela, para que com a outra pudesse fazer deslizar pela fenda da garota a cabeça de seu membro. Agora sem o empecilho do collant. Marluce não tinha a inibição de admitir que a sensação não fosse agradável. E a sua participação começou a ser mais intensa na medida em que a penetração iniciava de forma vagarosa, delicada, sem o menor açodamento. Os dois passaram a olhar o pau entrando e saindo em movimentos ritmados, a buceta se arreganhando para receber o intruso que por ela se metia com civilidade. Quando chegou ao ponto do orgasmo, com os olhos já cerrados e a cabeça pendendo para trás, Marluce sentiu o invasor saindo de dentro de si para a tentativa de Afonso de esfregá-lo agora em seu ânus. Para o que ela contribuiu, procurando manter-se erguida contra as costas do sofá, valendo-se ainda da outra mão de Afonso. O diretor então, depois de mais alguns minutos de esfregação, afastou-se dela para abrir a latinha que deixara sobre a mesinha entre os sofás e que agora Marluce ficava sabendo tratar-se de uma pomada ou vaselina. Quando voltou, Afonso levou-a a ficar de costas para ele, aproveitando-se dessa posição para beijar-lhe as nádegas e lamber-lhe demoradamente o ânus. O que lembrou a Marluce a ação de Ingrid, incomparavelmente mais delicada. A pele sardenta adorada. Sentiu logo em seguida o dedo de Afonso besuntando-lhe o orifício e depois a penetração dolorosa que imediatamente passou a repelir com vigor. Afonso esforçava-se para mantê-la na posição, mas a dor intensa fez com que ela se erguesse mais e gritasse de pavor, por certo na intenção de inibi-lo e assim demovê-lo do intento:
-Aiii... Aiiii... Aiiiii... Não, não Afonso... Aiiiiiiiiiii...
Com movimentos cada vez mais violentos, que o deixaram assustado, Marluce liberou-se afinal do incômodo usurpador.
-Assim não, Afonso... Assim não... De jeito nenhum, disse a menina com a voz alterada, e voltando-se para o diretor, que reconheceu em sua face o transtorno e a revolta de quem se achou agredida.
-Está bem, Marluce, está bem, concordou o diretor, preocupado com o efeito dos gritos dela no corredor. Nessa nova posição, com o membro ainda enrijecido e percebendo-a de novo mais calma, Afonso puxou-a para si e, valendo-se de novo de suas duas mãos na cintura de Marluce, penetrou-lhe a vagina com movimentos outra vez cadenciados.
Afonso atingiu logo o orgasmo, não percebendo que Marluce, além de não o acompanhar, considerou-se agradecida pelo término da ação. Estranhamente o seu contentamento aumentou ao ouvir o toque da campainha.
Era Marcel.