A Bailarina, Romance, Cap. XIV
Ingrid acordou assustada com o barulho do telefone, lembrando-se então de que era domingo, 8h. Marluce continuava dormindo.
-Ingrid? É Wanda. Dentro de meia hora estaremos saindo com o micro-ônibus para outro tour pela cidade. Vocês não vêm?
-Acho que não. Marluce está queixando-se de enxaqueca. Vou ficar para dar um apoio. Se não descermos até oito e meia, podem ir.
-Ok. Melhoras pra menina. Ela tem que estar em forma hoje à noite.
-Claro, claro. Vai estar. Um beijo.
Ingrid notou que a ligação não tinha sido suficiente para que Marluce tivesse acordado. A penumbra no quarto era um convite à continuação do sono. Mas Ingrid viu logo que não conseguiria dormir. Havia tomado a decisão por Marluce. E se ela quisesse continuar com a visita aos pontos turísticos? Com essa dúvida, levantou-se e foi ao banheiro. Lavar a boca, escovar os dentes, o xixi matinal. Ao regressar ao quarto, teve a certeza de que penumbra alguma poderia impedi-la de distinguir aquele corpo nu de menina, deitado de bruços, sob a maciez do fino lençol de algodão. Insuficiente para encobrir a visão da linha separadora das ancas, realçada por uma das pernas levemente dobrada e a outra não.
Aproximou-se cuidadosamente da cama, detendo-se por alguns instantes antes de se deitar por trás da aluna com a preocupação de que ela não acordasse. Pousou a mão sobre a bunda de Marluce, como faz o pernilongo, que chupa nosso sangue sem que possamos percebê-lo no início. A cabeça cheirando o cangote de Marluce, que mantinha a sua cabeça voltada na direção da perna direita dobrada. A mão direita de Ingrid, em movimentos quase que imperceptíveis, sentindo a pele fresca da menina praticamente na sua totalidade, com o favorecimento do fino lençol de algodão. Que não obstante subia vagarosamente, como resultado dos movimentos da mão direita de Ingrid. Ao sentir o contacto direto com a pele de Marluce, agora inteiramente descoberta da cintura para baixo, com o corpo semi erguido, Ingrid pode notar que a perna dobrada de Marluce havia subido um pouco mais, provocando o alargamento da fenda entre as ancas. Ingrid deteve-se então para avaliar o nível de participação de Marluce. Estaria acordada, sonhando ou simplesmente dormindo? Definindo-se pela última opção, voltou a massagear separadamente as nádegas de Marluce, procurando depois com o dedo médio a vagina da menina. Dedo médio que serviu para besuntar o ânus de Marluce com os líquidos por ela produzidos. Já aí a perna direita de Marluce havia alcançado a posição de alongamento máximo, a fenda entre as ancas unindo-se ao talho da vagina. Já não importava mais para Ingrid se ela estava acordada, sonhando ou ainda dormindo.
-Hum... hum... hum... hum... hum... hum... hum...
Marluce manifestava-se como um disco de vinil que estivesse arranhado. Mas o som abafado e rouco que era produzido conduzia a uma excitação incontrolável de Ingrid que, substituindo o dedo médio pela língua, passou a lamber avidamente o ânus da menina. E depois, com igual ardor, toda a vulva de Marluce, fartando-se daquele sabor que finalmente agora começava a conferir.
Às 11h45 elas ainda permaneciam na suíte. Cabelos desalinhados, olhos fundos, aparência de cansadas. E cheiro de sexo no ar. Apesar do resumido café da manhã, servido no quarto há algum tempo.
Marluce considerou que a troca fora positiva, referindo-se ao fato de não ter completado a visita aos pontos turísticos relacionados por Wandinha. Não seria exagero dizer que se sentia de bem com a vida. Pensava até em ligar de novo para seus pais, o que não tinha garantido a eles de fazê-lo. E Ingrid experimentava um momento de felicidade como há muito não lhe acontecia. Havia ainda espaço para Eleonora. Mas sentia, pelo menos no momento, que devia ser sob o ponto de vista de um comprometimento compulsório. Não percebia a presença de indícios de uma carga afetiva. E muito menos do que pudesse indicar uma necessidade física. No meio desses pensamentos, em que uma brincava com os cabelos ou pentelhos da outra, ambas ainda inteiramente nuas, o telefone soou de novo.
-Ingrid? Tudo bem por aí? Era Wandinha.
-Tudo. Perdemos muita coisa?
-Nem tanto. Teve o Trekking Parque Spitzfopf, em que fizemos uma boa caminhada, e várias lojas de tecidos e objetos de porcelana e cristal, em que gastamos o restante do tempo. Marluce melhorou?
-Melhorou sim. Tomou uns analgésicos e ficou tudo bem.
-Olha só: o Afonso me pediu que Roger e eu nos reuníssemos com você para acertar alguns detalhes visando a contratação dessas suas meninas. Parece que ele quer criar uma companhia mesmo, a partir do ano que vem. Com chance de nos exibirmos inicialmente em Cuba. Estou muito animada. E veja você que nem danço!
-Puxa, muito legal. A que horas no seu quarto?
-Logo depois do almoço. Vamos perder aí hora e meia ou duas horas, talvez.
Afonso e Marcel também não desceram para o café da manhã no domingo e nem se preocuparam com os pontos turísticos de Wandinha. Por se tratar da suíte presidencial, incrivelmente maior que as outras, o café da manhã que serviram a eles tinha praticamente tudo o que era encontrado no restaurante. Depois os dois preferiram ficar na piscina. Logo que chegou do passeio turístico, Roger foi se juntar a eles.
-E aí? Não quiseram ir hoje?
-Já conheço Blumenau de outros carnavais. Marcel é que podia ter ido. Não foi porque não quis, respondeu Afonso.
-Isso é sempre a mesma coisa. Preferi curtir a piscina. Além do mais, o principal foi ontem. Hoje a galera, só mulher na parada, ia era querer saber de fazer compras. Tô fora, disse Marcel.
-Por que? Você não gosta de fazer compras, Marcel? Será que você é muito diferente das meninas?
-Não somos, né , Roginho? Trouxe algum presentinho pra mim?
-Vamos parar com essas farpinhas aí. Parece coisa de bicha, pô!, interveio Afonso, olhando sério para Roger. Bem, preciso que você, Marcel, vá com o Roger até ao hotel onde estão o Escobedo e o Ochoa. Apesar de bailarinos, eles têm a representação do Governo Cubano para negociar as bases da nossa apresentação em Havana. Quero que vocês tenham com eles uma discussão preliminar a respeito dos termos do contrato. Depois, na hora dos finalmentes, eu entro. Talvez precise ir a Havana antes da exibição. Estou pretendendo formar mesmo uma companhia.
-Legal, legal, disse Roger. Finalmente você se decidiu.
-É, levei algum tempo porque não é assim tão fácil. É preciso estrutura e uma avaliação correta das possibilidades. Essa menina Marluce é de fato uma grande promessa. Vocês viram lá. Nenhum dos críticos presentes se mostrou reticente à nossa apresentação. Aliás, Marcel, vá tentando se aprimorar. Não quero compará-lo a Marluce. Você tem muito mais experiência. Mas ela tem um potencial muito grande. E com o tempo poderá superar qualquer um de nós.
-Está bem, está bem. Eu me cuido. Ela tem realmente qualidades. Mas não sabe ainda certos pulos do gato, observou Marcel. E você, vai a Havana sozinho?
-Profissionalmente sempre viajo com meus dois assistentes. E você pode ir na aba. Mas é preciso que parem, você e o Roger, com essa viadagem.
-A que horas que você quer que a gente esteja com os cubanos, chefe?, perguntou Roger.
-Logo depois do almoço.
-Com isso o horário dos ensaios vai ficar prejudicado.
-É. Acho que os ensaios podem começar hoje às quatro e meia ou cinco horas. Defina com a Wandinha o horário e avise por telefone ao grupo, deixando recado também na recepção. Vamos de novo insistir na questão da respiração e exercícios físicos. Dançar todo mundo já sabe.