MUNDO DAS NOITES BRANCAS - PARTE 6
A surpresa de Igor desconcertou-me! De alguma forma, havia-me conformado à ideia de que ele era detentor de um sobrenatural poder de adivinhação.
“Hoje, durante a missa, pareceu-me ver Lourenço e...”
“Tens medo que ele te descubra aqui.”, concluiu ele.
Assenti com a cabeça.
“E que tente fazer mal à criança...”
Um tremor percorreu-me o abdómen. “Um movimento do bébé.”, assumi intuitivamente. O primeiro que me era perceptível! A ideia da criança transforma-se numa existência física. Senti-me invadida por uma emoção indescritível.
Mas Igor convocou-me à realidade.
“Tens de proteger a tua filha.”, disse sucintamente com um ar grave.
Levantou-se novamente e encaminhou-se para o antigo aparador francês. Retirou da parede o quadro que estava pendurado por cima dele. Uma natureza morta de matizes sombrios, cujos contornos o tempo já esbatera quase por completo e que nunca me suscitara grande curiosidade. Atrás dele escondia-se uma portinhola de madeira. Igor abriu-a com uma das chaves presas no chaveiro que trazia pendurado à cintura. Introduziu a mão no interior densamente escuro e retirou um objecto que não consegui divisar.
Transportou-o para a mesa e depositou-o cuidadosamente na minha frente.
“É para ti!”, disse.
“O que é isto?”, perguntei, examinando a pequena caixa de madeira lisa.
(continua...)
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