MUNDO DAS NOITES BRANCAS - PARTE 6

A surpresa de Igor desconcertou-me! De alguma forma, havia-me conformado à ideia de que ele era detentor de um sobrenatural poder de adivinhação.

“Hoje, durante a missa, pareceu-me ver Lourenço e...”

“Tens medo que ele te descubra aqui.”, concluiu ele.

Assenti com a cabeça.

“E que tente fazer mal à criança...”

Um tremor percorreu-me o abdómen. “Um movimento do bébé.”, assumi intuitivamente. O primeiro que me era perceptível! A ideia da criança transforma-se numa existência física. Senti-me invadida por uma emoção indescritível.

Mas Igor convocou-me à realidade.

“Tens de proteger a tua filha.”, disse sucintamente com um ar grave.

Levantou-se novamente e encaminhou-se para o antigo aparador francês. Retirou da parede o quadro que estava pendurado por cima dele. Uma natureza morta de matizes sombrios, cujos contornos o tempo já esbatera quase por completo e que nunca me suscitara grande curiosidade. Atrás dele escondia-se uma portinhola de madeira. Igor abriu-a com uma das chaves presas no chaveiro que trazia pendurado à cintura. Introduziu a mão no interior densamente escuro e retirou um objecto que não consegui divisar.

Transportou-o para a mesa e depositou-o cuidadosamente na minha frente.

“É para ti!”, disse.

“O que é isto?”, perguntei, examinando a pequena caixa de madeira lisa.

(continua...)

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olinda morgado
Enviado por olinda morgado em 18/10/2011
Reeditado em 18/10/2011
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