SOMBRAS NA NOITE
Ela envolveu-se nas brumas da noite e seu vulto desenhava sombras esquisitas nos muros altos. Quem visse as sombras não imaginaria sequer estar ali passando uma mulher linda e triste. A tristeza alterava sua beleza e um rictus de dor distorcia seus lábios. O capuz que encobria seus dourados cabelos levava a crer que ali passava um frei capuchinho voltando, às pressas, ao convento. A brisa leve por vezes descobria as pernas torneadas, mas tão fugaz era a visão que passava despercebida em meio aos panos da saia longa. Um ruído sutil fez com que ela apressasse o passo e nas passadas longas as sombras dançavam esvoaçantes. Quase correndo, aguçou mais os ouvidos e distinguiu passos fortes e contínuos seguindo os seus. Num rápido e furtivo olhar avistou outra sombra sobre o muro, que não era a sua. Seu coração disparou, suas pernas fraquejaram e de joelhos ela esperou o fim. E foi o fim. O fim da sua dor, o fim do seu andar sem fim. Ao levantar seus olhos ela o viu. Seu coração disparou, suas pernas fraquejaram. Mas não mais de terror. Ali estava o seu amor e na mão estendida ela depositou todo o peso da sua fraqueza e levantou. Os vultos se abraçaram e as sombras se mesclaram como se fossem uma só. Ainda valia a pena viver...