Coitadinha. Tão frágil. Tão desprotegida.
Fui o primeiro a chegar. Saí do meu apartamento às oito da noite. Peguei um táxi e trinta minutos depois já estava no Caledônia. O restaurante estava lotado, mas como Ana só chegaria depois das dez, haveria tempo para vagar uma mesa. Resolvi beber alguma coisa. Fui ao bar. O garçom estava ocupado e não pode me atender. Felizmente Luigi estava saindo da cozinha e me viu.
- Carlo! – disse ele, estendo-me a mão.
- Como vai, Luigi?
- Tudo bem! E você? Há quanto não aparece, hein! Vai jantar conosco hoje ou vai ficar largado aí se embebedando como da última vez?
- Não, dessa vez vim pra jantar. Só não sei se vou conseguir com todas essas mesas ocupadas. – disse isso e apontei para o centro do salão, onde os funcionários se espremiam para levar e anotar pedidos.
- Que isso, Carlo! É só me dizer onde quer sentar que eu arrumo pra você!
- Se você puder, reserve pra mim aquela mesa da janela, aquela que gosto.
- Tudo bem. Mas você vai jantar sozinho ou está esperando alguém?
- Estou esperando alguém. – respondi.
- Aquela loira bonita que veio com você da última vez? – quis saber Luigi, indiscreto.
- Que loira? Ah, Patrícia, né? Não, não é ela não. É uma outra. – falei, enquanto ocupava uma cadeira no bar. Luigi aproveitou e chamou o seu gerente. Pediu que reservasse a mesa da janela para mim. Um casal a ocupava. Assim que saíssem não era para deixar ninguém sentar lá. Agradeci e Luigi voltou a inspecionar o serviço dos seus funcionários. Nessa altura já havia conseguido pedir o uísque. A alguns passos de mim, uma família jantava. Um casal com as suas duas filhas. Uma delas deveria ter uns quinze anos. Estava emburrada e comia sem muita vontade. Provavelmente estava ali a contragosto. A outra, era uma menininha de uns sete anos. Uma loirinha que não parava de falar um minuto. Ao contrário da irmã, parecia feliz. Quando me notou, ficou cruzando e descruzando as perninhas e me mandando beijos. Olha só engraçadinha, pensei, não deve ter nem pelinho na perereca ainda e já tem todos os trejeitos de uma puta. A mãe percebeu a inconveniência da menina e chamou sua atenção:
- Quieta Marcele! Não incomode o moço!
A menina sossegou um pouco, mas nem por isso deixou de se comportar como uma putinha. Pedi mais uísque. Minha mesa vagou. Agarrei meu copo e fui até ela. Olhei meu relógio. Nove e meia. Acho que cheguei cedo demais, pensei. Tirei uma caderneta do bolso e comecei escrever algumas besteiras. Fiquei fazendo isso por uns trinta minutos. Finalmente, quando me cansei e ia pedir ao garçom mais uma dose de uísque, a executiva apareceu. Foi até o bar e levantou a cabeça tentando identificar onde eu estava sentado. Levantei e lhe fiz um sinal. Ela veio até mim.
- Oi Carlo. Consegui sair mais cedo. – disse-me, enquanto me beijava.
- Maravilha.
Sentamos e perguntei o que ela queria beber. Disse-me que queria vinho. Mandei vir logo uma garrafa.
- Ainda faltava muita coisa pra eu fazer lá na editora, mas não consegui ficar mais. Estava louca pra ver você! Mal consegui trabalhar! Uma loucura! – disse Ana, segurando minha mão por cima da mesa.
Ia me dizer mais alguma coisa, mas o garçom apareceu com o vinho e o cardápio. Escolhemos uma massa qualquer e o homem foi embora com o nosso pedido. Novamente a sós, ela falou:
- Sabe, Carlo, há muito tempo não me envolvo com ninguém. Depois do que passei com Gabriel me tornei desconfiada. Saí com alguns sujeitos, mas nunca permiti que eles fizessem parte da minha vida. Agora com você sei que a história vai ser diferente. Nós temos tudo pra dar certo. Seja gentil comigo, por favor.
- Eu vou ser.
Quando a comida chegou, a garrafa de vinho já tinha acabado e pedi outra. Ana falava sem parar. Só fechou um pouco a boca, quando começou mastigar a sua comida. Estava muito feliz e me disse que há tempos não se divertia tanto. Acrescentou que eu era uma companhia deliciosa e mais alguns outros elogios. Luigi, num dado momento, abeirou-se de nossa mesa. Queria saber se tudo ia bem e se queríamos mais alguma coisa. Fiz as apresentações.
- Ah! Mas é muito bonita! – exclamou Luigi.
Ana sorriu e agradeceu. Depois disso o dono do restaurante nos deixou e voltou para a cozinha.
- Parece que você fez uma conquista, Ana. – comentei, sorrindo.
- Pará, seu bobo!
E deu um tapinha nas minhas costas. Seu vestido oferecia a visão de um pedaço do seu seio. Fiquei olhando para ele e depois perguntei:
- Nós vamos pra onde depois daqui?
- Nós vamos pra minha casa, Carlo, eu quero que você conheça a minha casa.
Nesse momento o casal com as duas filhas, que já haviam terminado de jantar, se preparavam para sair. No caminho, tiveram que passar perto da minha mesa. As duas meninas vinham na frente, tendo os pais atrás. A garotinha, quando me enxergou não resistiu e mandou mais um de seus beijinhos. Ana ao ver a cena desatou numa gargalhada. Os pais da sujeitinha também acharam aquilo lindo e sorriram, alcançando ao mesmo tempo a saída.
- Que lindinha, Carlo, você também fez um conquista. – disse Ana rindo.
- Não é?
Minutos depois, quando acabamos, pedi a conta. Paguei e saímos. Já na calçada, Ana entregou a chave do carro ao funcionário do restaurante que foi buscá-lo no estacionamento.
- Você precisa comprar um carro, Carlo. – reclamou Ana.
- Impossível, minha linda! Adoro passear de táxi pela cidade. Sou como uma prostituta.
Ana riu. O manobrista encostou com o carro e desceu. Entregou a chave para a executiva e eu lhe dei uma gorjeta. Dentro do carro muito calor. Abri a janela, enquanto Ana ligava o veículo. Tentou duas vezes sem sucesso
- Acho que estou meio bêbada. – disse ela, olhando pra mim e sorrindo.
- Não está com medo, está?
- Apenas de você que está linda! – disse isso e a beijei, deslizando minha mão pela sua perna em direção à parte interna de sua coxa.
- Pará Demônio! – gritou Ana, fechando as pernas.
E em seguida, num sussurro de voz:
- Mais tarde.
Recolhi meus tentáculos e Ana finalmente conseguiu dar partida no veículo. A noite estava abafada. Havia poucos carros nas ruas. Em poucos minutos já estávamos na frente do seu prédio. Ficava num bairro nobre da cidade. Geralmente inacessível a indigentes como eu. Ela embocou o veículo na garagem. O porteiro a reconheceu e o portão levantou lentamente para que o carro descesse a rampa que o levaria ao subsolo. Ana estacionou na primeira vaga que encontrou, pois estava bêbada demais para perder tempo em manobras arriscadas. Desligou o motor e eu o rádio. Apanhou sua bolsa e desceu, batendo ruidosamente a porta do veículo. Também desci. O ar daquele subsolo era frio. Diferente da temperatura da rua.
- Vem Carlo! Vamos sair rápido daqui. Está muito frio.
Fomos correndo para o elevador. Apertei o botão, chamando-o. Enquanto descia, me atraquei com Ana. Enfiei a língua dentro da sua orelha. Ela se excitou e disse:
- Carlo, seu maluco! Aí não!
O elevador chegou e eu fiquei saboreando na minha boca alguns resíduos de cera que a minha língua conseguiu pilhar do ouvido da executiva. No primeiro andar, um casal de velhos entrou e não pude dar prosseguimento à libertinagem. Ana morava no décimo andar e os velhos também. Ela os cumprimentou e depois ficou em silêncio. Todos nós ficamos. Um leve solavanco e pronto, havíamos chegado. Saí primeiro e abri a porta para que todos descessem.
- Boa noite. – disse a velha.
- Boa noite. – respondemos.
O casal entrou no apartamento deles e Ana parou na frente do seu. Abriu sua bolsa e começou a procurar sua chave. Enquanto fazia isso, enlacei os seus quadris e beijei sua boca.
- Espera um pouco, Carlo, pelo amor de Deus! – disse-me rindo, contorcendo-se como uma acrobata.
- Pronto! Encontrei a maldita! – disse em seguida, balançando o molho de chaves na minha frente.
Abriu a porta. Esticou o braço procurando o interruptor. Acendeu a luz.
- Pronto, Carlo, seja bem vindo!
Ela entrou e eu a segui. O apartamento era grande. Realmente muito grande. Foi irresistível não compará-lo ao meu. Aquele ninho de rato fedorento e sujo.
- Senta um pouco. – falou-me, mostrando o sofá. Sentei e Ana foi até à janela abrir as cortinas. Quando voltou, foi até seu bar e me preparou uma bebida.
- Obrigado.
Ana sentou-se ao meu lado.
- Então, gostou?
- Do apartamento? Claro que gostei. É sensacional.
- Vem! Quero lhe mostrar o resto. – disse, pegando-me pela mão e me arrastando pelos outros cômodos do apartamento. Mostrou a cozinha, o banheiro, o quarto da empregada, a área de serviço, sua biblioteca, enfim, tudo. Depois, levou-me até o quarto. Todavia, não entramos imediatamente. Ela encostou-se à porta, que estava fechada e ficou olhando para mim.
- Estou me comportando como uma idiota, não estou?
- Claro que não. – menti.
- É que há muito tempo não recebo ninguém aqui. Quero dizer, um namorado.
Coitadinha. Tão frágil! Tão desprotegida!
- Sou seu namorado? – perguntei, aproximando minha boca da sua.
- Vai ser! – respondeu e me puxou de encontro a si e em seguida me beijou. Depois, abriu a porta do quarto e nós entramos.