A executiva

Combinei com Ana que a esperaria na frente da editora. Quando lhe contei que viajaria sozinho, quis de toda forma que eu fosse com ela. Concordei e antes das cinco da tarde já estava no local combinado, esperando-a e fumando um cigarro. Para não ficar parado como um idiota na frente da editora, peguei minha mala e entrei no restaurante que ficava ao lado e, no qual, Ana e alguns colegas costumavam almoçar. É claro que poderia esperar dentro da editora, mas não queria correr o risco de encontrar alguns dos imbecis que trabalhavam lá dentro, o quê, infelizmente acabaria ocorrendo na viagem. O rapaz atrás do balcão me reconheceu. Pedi um uísque e sentei num banco que me permitia olhar quem entrava e saía do prédio. Dentro do restaurante alguns executivos. Meus olhos se encontraram com os da garçonete e ela sorriu. Sorri de volta. Não me custava nada fazer a felicidade de uma tontinha qualquer. Dei uma espiada no relógio. Quase cinco e meia. Pedi outro uísque e acendi mais um cigarro. Ana estava demorando. Nunca achei muito condizente com a minha dignidade ficar esperando por ninguém. Nem mesmo por uma mulher bonita. Mesmo que dessa mulher bonita dependesse a publicação ou não de alguns contos da época da faculdade. Era nisso que pensava quando finalmente a executiva deixou o hall da editora. Vinha acompanhada por dois sujeitos que trabalhavam com ela. Ela se despediu deles e começou a olhar a sua volta. Fui até a calçada e fiz um aceno. Ana sorriu e atravessou a rua vindo até mim.

- Oi Carlo, você veio! Muito bom! - disse ela, abraçando-me.

- Sinto não ter subido, Ana. É que resolvi comer alguma coisa antes da viagem.

- Sei. - respondeu Ana, olhando meu copo de uísque.

- Que tal uma bebida? - ofereci.

Olhou para mim, pensativa.

- ok. Mas só um copo. Não se esqueça que vamos pegar estrada. - disse Ana, sentando-se ao meu lado. Usava um vestido não muito curto, mas o suficiente para deixar os homens do lugar meio malucos.

Pediu uma bebida com um nome diferente e eu aproveitei a deixa e pedi mais um uísque.

- Fiquei muito feliz que você aceitou a viagem!

- Com você ela vai ser maravilhosa!

Ela respondeu com um sorriso, mas não disse nada. Limitou-se a passar vaidosa as mãos nos cabelos e me olhou atentamente.

- Então, sua namorada não quis vir?

- Patrícia? - perguntei meio aborrecido. Ter de ficar respondendo perguntas sobre aquele estrupício não estava nos meus planos.

- Nós terminamos - respondi, injetando na minha veia algumas ampolas de cinismo - a garota me traiu, Ana! Estou tão triste! Quase seis meses juntos e ela fez uma sujeira dessas comigo. Até agora não estou muito bem! Você sabe o quanto eu gostava dela, né.

- Sinto muito. - falou a executiva.

- Obrigado.

- Li sua tradução. Ficou muito boa. - disse Ana, mudando de assunto.

- Você acha?

- Claro que acho, seu bobinho. Você é uma grande promessa da editora.

Só que os veados não me publicam, pensei.

Talvez Ana tenha adivinhado meu pensamento, pois falou a titulo de consolação.

- Tenho certeza que logo poderemos publicar alguma coisa sua.

- É o que eu espero. - comentei, acendendo um cigarro.

- Mas não vamos falar sobre trabalho não! Quero apenas viajar com você e esquecer todo o resto. - falei.

- É o que eu desejo também, Carlo. - disse Ana sorrindo. Depois, terminou sua bebida e foi ao banheiro. Enquanto isso, corri até o caixa liquidar a fatura e comprar algumas garrafinhas de vodka, daquelas que são distribuídas em alguns vôos. Quando Ana saiu do banheiro, eu já estava pronto.