COISAS INEXPLICÁVEIS - 2



Haviam passados quase trinta anos quando Frederico nasceu. Sua mãe dona Irene teria em conversa com o marido dito que, se fosse menina gostaria se chamasse Isabel, em homenagem a sua querida mãe. Mas, se fosse menino, fazia questão que se chamasse Frederico em homenagem ao pai do Marcos, seu marido.

Dona Irene não teve a oportunidade de conhecer o pai de seu marido, pois, este havia falecido abruptamente num desastre de caminhão, quando Marcos tinha apenas dez anos de idade. O pai de Marcos era caminhoneiro, passava com o menino muito pouco tempo devido às viagens que fazia pelo interior do estado de Minas Gerais e de outros estados brasileiros, chegando por vezes, ficar cerca de vinte dias fora de casa.

Sabia ela por contar sua sogra Ibrantina, que Marcos quando pequeno, sentia muito a ausência do pai e o pouco tempo que estava junto Frederico, seu marido, não dava ao filho a tenção que Marcos precisava.

_ Pai, vamos brincar? Seu pai sempre dava a mesma resposta.

_ Vá brincar com seus amigos, não gosto de brincadeiras com crianças.

Por outro lado, cada vez que a mãe de Marcos reclamava de algo que seu filho fizera na sua ausência, O Senhor Frederico o castigava severamente, batendo no menino com seu cinto de couro, para logo depois, fazer com que ele permanecesse meia hora de joelhos em cima de não menos de uns vinte caroços de milho. Por tudo isso Marcos, dizia dona Ibrantina, cresceu guardando grande mágoa do pai tanto que, não viu escorrer nenhuma lágrima por ocasião da morte do seu marido tão pouco seu filho, jamais se interessou em conversar com ela, sobre o pai.

Apesar de tudo Marcos, não se opôs em dar ao filho o mesmo nome de seu pai, afinal era um desejo da sua jovem e linda esposa, Irene.

Irene e Marcos casaram-se cedo, ele com vinte e ela com apenas dezessete anos de idade. Marcos tinha um bom emprego numa fábrica de eletrodomésticos na cidade do Rio de Janeiro e talvez por isso, o casamento dos dois não demorou a acontecer.

O menino que dona Irene esperava, nasceria um ano após seu casamento. Ao nascer Marcos, ficou encantado com o filho. Todos haviam ficado, mas, a fascinação de Marcos pelo filho, marcava a todo instante sua face com sorrisos de felicidade. Nos finais de semana o pequenino Frederico passava mais tempo no colo do pai do que propriamente no colo da mãe.

_ Poxa, você nem liga mais para mim, depois que o Frederico nasceu...

_ Mas ele é lindo não é? Não que não sejas igualmente linda, amor. Mas, talvez por não ter tido uma boa relação com o meu pai esteja agora, tentando não cair no mesmo erro.

O tempo foi passando, quando Frederico atingiu cinco anos de idade, o país já não era o mesmo do tempo do seu nascimento, a recessão havia tomado conta da sociedade e por quanto do fato, muitos funcionários foram dispensados na fábrica, inclusive o Marcos.


Marcos tentou por dois meses outros empregos, mas, as dificuldades só cresciam, assim, resolve vender a casa que havia comprado em Madureira, juntar com o dinheiro da sua indenização trabalhista e retornar para sua cidade natal, onde ainda morava sua mãe. A notícia da mudança, não fora bem recebida por dona Irene e principalmente por seu filho Frederico.

O menino havia criado laços de amizades com outros meninos da escola e adorava a professora que para ele, sempre tinha uma história interessante para contar.

Em conversa com a esposa e filho.

_ Iremos para a casa de minha mãe, vocês nunca foram lá, sei que vão adorar.

_ Mas pai, como ficarei sem meus amigos? E a professora de que gosto tanto?

_ Olha meu filho, sei que ainda é jovem para entender certas coisas, mas, não há como permanecermos nessa cidade. Além do mais lá, em Sete Lagoas existem excelentes colégios e tenho certeza que vocês vão adorar.

Marcos, conversa por telefone com sua mãe. Vende rapidamente sua casa e partem todos para Minas Gerais por lá, o pai de Frederico, pensa comprar uma casa e com o restante do dinheiro, abrir um pequeno negócio.

Ao chegar à Sete Lagoas, Frederico fica encantado, uma sensação estranha se apossava do menino, de falante tornou-se mudo, estarrecido com as ruas, alamedas, as palmeiras. Tudo aquilo lhe parecia familiar. Marcos ia mostrando a cidade para a esposa e o filho.

- Ali fica a mais bonita das sete lagoas, chama-se Lagoa do Paulino, brinquei muito por essas ruas quando ainda nem eram asfaltadas. Hoje está essa beleza, tem até alguns cisnes servindo de barquinho, qualquer hora Frederico, levo você para um passeio nessa Lagoa.

_ Olha Irene, quantos barzinhos, quem sabe a gente não consegue comprar alguma loja por aqui para recomeçar nossa nova vida.

Marcos ia falando, incentivando o filho e esposa a gostarem da cidade. Frederico, pouco escutava o que seu pai dizia. Estava mais interessado em admirar a paisagem como quem observava as mudanças de algum lugar já conhecido.

Não demora mais que quinze minutos, para que cheguem à rua onde a avó de Frederico morava. Ao chegarem dona Ibrantina, os recebem em lágrimas de alegria. Só havia visto o neto por fotografia, por sua vez o neto, ao ver a avó, solta a mão da mãe e corre num abraço espetacular e ficam os dois em silêncio por alguns segundos, para logo depois, o menino olhar para dona Ibrantina e falar próximo ao seu ouvido: Amo você, vovó!

Dona Ibrantina chora, aperta o neto num abraço mais apertado ainda e diz bem baixinho: Eu sempre te amei, menino.

Frederico dá lugar para que seu pai possa abraçar a mãe. Mais emoção de lado a lado, enquanto isso acontece, Frederico se aproxima de sua mãe, segura em sua mão, chamando-lhe a atenção para dizer:

_ Mãe conheço esse lugar, já estive aqui, tenho certeza disso. E ao ver sua mãe rindo do seu comentário, Frederico continua...

_ A Senhora ta rindo não é, olha vou mostrar para você. Essa casa, tem uma sala com um quadro da minha avó e do vovô, pendurado na parede, tem dois quartos, tem uma cozinha grande com um enorme fogão à lenha, que vovó dependurava algumas linguiças de porco que Vovô fazia. Lá, atrás no quintal tem uma mangueira e no canto, um lugar onde vovô criava porco.

_ Dona Irene desconversa mostrando para o filho que naquela rua, havia uma descida e que isso, seria muito bom para usar os seus skates.

_ É isso era bom também para o meu avô quando descia a rua na sua bicicleta.

Logo, Dona Ibrantina chama a nora para um abraço e agradece por ela ter cuidado tão bem do seu filho. Dona Irene se emociona com as palavras da sogra e a seguir entram na casa.

A primeira coisa que dona Irene observa foi bem para frente da porta, o quadro do casamento de dona Ibrantina e seu Frederico. Quis logo, percorrer os cômodos e foi à cozinha. Lá, não viu as coisas que seu filho havia descrito e isso a deixou bem mais tranquila, pois, já estava ficando assustada com a reação do filho.

Logo atrás de Dona Irene, entra na cozinha Frederico.

_ Mãe vem comigo, vou mostrar meu esconderijo.

_ Que isso menino? Do que você está falando, mal chegou e já fez esconderijo?

_ Puxando a mãe pelas mãos Frederico vai a um dos quartos. Mãe me ajuda aqui...

_ Para com isso Frederico, você quer arrastar o guarda-roupa de sua avó, Para que?

_ Aqui atrás mãe é onde guardo minhas coisas.

Dona Irene assustada chama o marido, com ele vem sua mãe, dona Ibrantina.

_ Que foi amor?

_ Olha Marcos, dá um jeito aí no seu filho, ele está estranho de mais, falando que conhecia essa casa e agora quer que eu o ajude a arrastar esse guarda-roupa pesado, disse que atrás dele se encontra seu esconderijo.

_ Que isso filho, o que está acontecendo?

_ Pai, aqui atrás desse guarda-roupa é que eu escondo minhas coisas

_ Está vendo marcos, faz alguma coisa, dona Irene já estava nervosa com aquilo tudo.

_ Então ta, vamos arrastar o guarda-roupa para você ver que nada existe, OK?

O pai junto da mãe de Frederico com uma pequena ajuda do próprio, arrastam o móvel pesado e por detrás avistam um envelope pardo empoeirado pendurado num pequenino prego.

No envelope alguns papéis, Marcos puxa os papéis, encosta numa das paredes do quarto e começa a ler para si, uma das cartas que seu pai havia recebido. Quem assinava a carta era uma mulher de nome Francisca Cardona, onde pedia para o seu pai (Frederico), dinheiro para manutenção da filha que eles tinham na cidade de Cordisburgo cerca de trinta quilômetros de Sete lagoas. Segundo a carta, fazia mais de quinze dias que seu pai, não aparecia à casa daquela Senhora e os mantimentos, seguia ela descrevendo na carta, já haviam se esgotado.

Marcos olha em direção ao filho que também se encontrava num canto do quarto e o encontra com o mesmo sorriso estranho que sempre via nos lábios de seu pai.






Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 15/09/2011
Código do texto: T3221363
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