A Guerra do Céu

A luz da lua cheia iluminava o altar da pequena capela que fica dentro do cemitério de uma cidade do interior. Um lugar afastado dos grandes centros e por isso o lugar ideal para um encontro proibido.

Sentado em um dos bancos da capela onde a luz do luar não iluminava, um homem grande, de cabelo escuro curto, vestindo roupas pretas, esperava com os olhos fechados a chegada de alguém. Ele tinha uma postura quase militar, porém ele transmitia muita calma e serenidade ao lugar. Um lugar quieto por natureza, mas que com a presença daquele homem, ficava ainda mais tranqüilo.

O homem ouviu um barulho vindo do lado de fora, como se uma pessoa fosse entrar na capela. Sem abrir os olhos, ele levantou a mão direita e fez um sinal muito leve com a mão para que a pessoa fosse embora, mesmo sabendo que a pessoa não havia entrado ainda.

Do lado de fora, o coveiro se aproximava da porta da capela para verificar em sua ronda se estava tudo bem, porém ao chegar perto da porta, sentiu uma onda de paz e tranqüilidade tão grande, que resolveu voltar para sua sala, confiante de que estava tudo bem por ali.

- Quanta bondade a sua com esse mero humano meu irmão. – disse uma voz forte e carregada de sarcasmo vinda do fundo da capela.

- Não queria que um deles visse nosso re-encontro após tantos anos. – disse o homem sentado e continuou – Saia para luz meu irmão, saia para que eu possa vê-lo após todos esses séculos.

O homem no fundo da capela, se moveu lentamente para frente e parou assim que encostou no altar, ficando com o lado esquerdo do rosto iluminado pela luz que vinha da lua cheia. Ele era alto, com aproximadamente 1,90m, olhos azuis, aparentava ser forte, com cabelo comprido loiro amarrado em um rabo de cavalo e usava um terno preto que parecia ser bem caro.

Ao ver aquele homem se aproximando do altar, o homem sentado também se levantou revelando sua altura que era um pouco maior que a do outro.

Eles se aproximaram um do outro e então os dois sorriram e se abraçaram como dois irmãos que não se vêem há muito tempo.

Segurando nos ombros um do outro, o loiro falou:

- Miguel, há quanto tempo! Estou feliz por revelo! Obrigado por ter vindo.

- Faz muito tempo mesmo Samael. Não acreditei quando consegui decifrar sua mensagem. Achei que era algum tipo de truque. Estou feliz de que tenha sido você mesmo. Você disse que era urgente. Em que eu posso ajudá-lo meu irmão? Você quer que eu fale com nosso pai para que ele lhe receba em sua casa novamente?

Samael soltou os braços de Miguel e foi até a janela como se fosse se certificar de que estavam sozinhos.

- Não meu irmão. Infelizmente esse dia ainda não chegou. Eu e nosso pai ainda resolveremos nosso impasse. Mas não será dessa vez. – ele disse isso com certa solenidade na voz e continuou: - Você sabe que de traições e armações, eu entendo um pouco não é irmão? – Miguel abaixou a cabeça concordando – Tenho muitos seguidores nesse mundo e alguns espiões na casa de nosso pai. E alguns dos caídos que trabalham para mim, descobriram que entre vocês há um traidor. – Miguel levantou os olhos espantado. – Pois é meu irmão. Outros conspiram contra o criador. E eles estão muito mais perto do que você imagina.

Inconscientemente Miguel fecha os punhos e seu semblante que era calmo passa a ser questionador. Milhões de coisas passam por sua cabeça naquele momento.

- Os traidores estão tentando juntar um exercito, pois eles sabem que quando o plano for revelado eles terão que enfrentar a fúria do arcanjo da guerra e de seus seguidores. O que eles não sabem é que eu já testemunhei essa fúria e ela foi lançada contra mim! Eu sou a prova viva de sua força. E eles sabendo disso, estão tramando por suas costas.

- Quem são eles Samael? – perguntou Miguel com a boca semi-serrada.

Samael sentiu a raiva nas palavras de Miguel e inconscientemente um leve sorriso apareceu no canto de sua boca e ele prosseguiu:

- Não posso dizer seus nomes ainda, preciso de mais provas. O que posso lhe dizer é que eles encontraram uma mulher humana capaz de gerar o filho de um anjo.

Miguel arregalou os olhos. – Impossível! Nenhuma humana é capaz de suportar uma gestação como essa! A força que teria essa criança... não existe uma pessoa que agüente.

- Existe meu irmão! Meus informantes me disseram que não só ela existe como já esta esperando por essa criança.

A idéia de uma mulher grávida de um anjo, abalou tanto Miguel que ele se sentou no banco da capela atordoado.

- Irmão, eles estão escondendo essa mulher e a protegendo. Eles querem usar a criança contra nosso pai!

Isso foi como uma pancada na cabeça de Miguel. A única coisa que vinha a sua cabeça naquele momento era a pergunta “Do que será capaz uma pessoa com o poder dos anjos e o livre arbítrio dos humanos?”. Miguel olhou nos olhos de Samael e disse:

- Onde esta essa mulher?

- Ainda não sei. Eles a escondem muito bem, mas meus informantes estão tentando descobrir.

Depois de um breve silêncio, Miguel perguntou:

- Samael? Porque você esta fazendo isso?

- Isso o que?

- Porque você esta me contando tudo isso? O que você ganha com isso? Não era você que queria o lugar de nosso pai?

Samael olhou para Miguel antes de responder e disse:

- Exatamente isso meu irmão! Eu quero aquele trono! E não vou deixar nenhum outro anjo ou muito menos um humano tomar aquele lugar.

Quando Samael terminou sua frase, os dois instintivamente olharam para a portada frente da capela. Eles sentiram duas fortes presenças.

- Vá embora. – disse Miguel para Samael que assentiu com a cabeça e foi andando para trás do altar sumindo nas sombras.

Miguel começou a andar em direção a porta da capela, quando ela se abriu com um estrondo. Do lado de fora dava para ver duas figuras altas, paradas e olhando na direção da porta.

- Saia irmão! – disse uma das duas pessoas do lado de fora.

Miguel reconheceu a voz e saiu calmamente.

- O que vocês querem meus irmãos? Disse sarcasticamente.

- Nós ouvimos dizer que você estava com problemas e resolvemos vir averiguar.

Quando Miguel saiu da capela pode ver seus irmãos, Rafael e Gabriel, ambos olhando em sua direção com um ar questionador em seus olhares.

- De quem você estava se escondendo aqui nessa cidadezinha erma? – perguntou Gabriel.

- Se você me conhece bem, sabe que não estava me escondendo de ninguém meu irmão.

- E com quem você estava ai dentro? Sinto um cheiro estranho vindo daí de dentro, um cheiro familiar que não sinto há muito tempo. – perguntou Rafael tentando olhar para dentro da capela.

- Eu não estava com ninguém e o cheiro familiar que você esta sentindo deve ser o meu. E agora eu gostaria de saber por que estou sendo interrogado? Vocês estão querendo me acusar de algo?

Os dois se olharam por um momento e Gabriel falou:

- Não queremos lhe acusar de nada irmão. Ficamos apenas preocupados com você. E já que você esta bem, podemos voltar aos nossos afazeres.

Com um leve cumprimento de cabeça Gabriel e Rafael abriram suas asas e foram para o céu estrelado, iluminado pela luz da lua cheia, enquanto Miguel ficou ali por mais alguns instantes lembrando-se de sua conversa com Samael. Decidiu que precisava de mais informações para montar esse quebra-cabeça, porém não sabia por onde começar. Depois de algum tempo, ele respirou fundo, abriu suas asas e seguiu em direção ao céu.

Assim que Miguel foi embora, Samael saiu pela porta da frente da capela fumando um cigarro. Ele olhou para o céu e ficou sorrindo, enquanto pensava na conversa que teve com seu irmão, o mesmo que fora responsável por sua queda na grande batalha.

Samael jogou fora o cigarro e voltou para seu lar de sombras.

Continua...

Igor Martins
Enviado por Igor Martins em 09/09/2011
Código do texto: T3210107
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