DIÁRIO DE UMA EX-PROSTITUTA ADOLESCENTE cap. VII -o espelho inquietava o fundo do corredor

Cap. VII

O espelho inquietava o fundo do corredor...

Jorge Luis Borges

Daiane estava na cozinha fazendo uma Caçarola Italiana: ½ quilo de açúcar, 5 ovos, 5 colheres de queijo parmesão, 2 copos de leite, um coco ralado, 5 colheres de maizena e uma colher de baunilha, enquanto acompanhava uma música de Zezé de Camargo e Luciano que tocava no rádio. Nisto chega um dos gêmeos à cozinha e diz:

- Puxa. Isto deve ficar uma delícia! Enquanto olhava a forma para pudim com furo no meio, já caramelada.

- Fica mesmo. Disse Daiane.

- Eu aprendi numa época em que vivi numa fazenda lá no Ceará. Mas o simples toque neste assunto já a deixou com olhos brilhantes, retendo um choro que poderia cair, pelas lembranças amargas.

Daiane pensou: “esta é a única coisa doce que sobrou daquela época”...

Em seguida entrou na cozinha o outro gêmeo dizendo:

- Daiane eu consegui vaga pra você num curso noturno, na Escola Luiz Moschete.

- Meu Deus do céu. Disse a moça feliz.

- Então esta caçarola será para comemorar isto...

No outro dia Daiane já começou a estudar à noite. E isto virou rotina, mas uma rotina cansativa, para quem trabalha o dia inteiro e à noite ainda estuda.

Sua relação com os “meninos” continuava forte, mas ao mesmo tempo inquietante, pois todas as noites depois da aula recebia um em seu quarto. Não tinha conseguido ainda saber se era um ou outro, ou se eles se revezavam nas visitas, mas deixou isto para depois.

Numa determinada noite de sexta feira, chovia a cântaros e por causa da chuva Daiane se atrasou mais do que de costume, por causa do tempo. A luz tinha “ido embora” por causa dos trovões e quando Daiane foi para o seu quarto viu um brilho no final do corredor. Neste dia o espelho a inquietou...

Nesta hora Daiane pensou em sua mãe que quando ela era pequena dizia:

- Depois da meia noite, não olhe dentro de seus olhos, quando estiver diante de um espelho... você poderá se surpreender.

Daiane lembrou disto e ficou com medo. Fechou os olhos e correu para o seu quarto de olhos fechados, pois de pouco adiantaria olhos abertos naquela escuridão. Esbarrou em alguém e gritou com todas as forças. Num grito desesperado que acordou todos os que já dormiam e os que não dormiam correram para ver o que era.

Neste momento a luz voltou e todos a viram no chão, pálida, quase desmaiando, agarrada à uma Maricota de Pano, em tamanho natural...

Mário Feijó

Set/2011

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 06/09/2011
Código do texto: T3204343
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