Little Child (Parte I)

Daniele acordou sentindo um vazio na cabeça, olhou em volta e não reconheceu o lugar que estava. Voltou a deitar esperando a sensação estranha passar quando ouviu um soluço.

Decidiu procurar a pessoa que pelo visto precisava de companhia. Talvez o motivo do choro fosse apenas solidão.

O apartamento era minúsculo, não demorou a encontrá-lo prostrado no canto do quarto.

Ao vê-lo, teve certeza que o conhecia, sabia de sua dor, só não lembrava seu nome, algo bloqueara sua mente. Talvez houvesse tomado algum anestésico para dormir e esquecera-se de algumas coisas, o melhor seria esperar o efeito passar. Mas seu amigo estava precisando de ajuda.

Entrou de fininho com medo de assustá-lo como acontecera no dia anterior. Lembrava-se de sua expressão quando a vira, parecia apavorado.

Quando ele notou sua presença dessa vez, começou a chorar ainda mais alto. Mesmo assim se aproximou tentando tocá-lo, fazer um carinho. Queria confortá-lo. Ele a repeliu de forma enérgica.

- Vá embora, já pedi mil vezes que me deixe em paz. Eu quero ficar sozinho.

- Não vou te deixar! – Estava decidida a tentar ajudá-lo dessa vez. – Você precisa de mim!

Sentou-se na cama próxima a ele que se encolheu ainda mais.

- O que você quer de mim?

- Só quero te ajudar.

- E por que você iria querer me ajudar? Não mereço que ninguém me ajude. Só machuco quem eu amo. – Falou com amargura limpando o rosto com as costas da mão.

- Não é verdade, você é bom. Abrigou-me em sua casa e respeita meu espaço.

- Não! Eu não sou bom, eu sou um ser horrível! – Começou a gritar descontrolado deixando-a assustada.

Ela se levantou procurando manter distância enquanto ele socava a parede com violência.

Queria consolá-lo, dizer que tudo ficaria bem, mas não agora; ele a estava apavorando. Saiu do quarto tremendo e se sentou no sofá-cama onde acordara pouco antes e decidiu esperar o ataque de fúria passar.

Enquanto esperava, começou a lembrar de fatos que a ligavam ao amigo problemático. Agora sabia que ele se chamava Leo; que o conhecera pela Internet; se falavam há muito tempo e um sabia tudo sobre o outro.

Lembrava-se que no inicio da amizade havia tomado todas as precauções, não dera sequer seu nome verdadeiro, ele a conhecia por D.A. e ela o conhecia por Lucy. Só depois soubera que dera esse nome porque amava a musica Lucy in the Sky with Diamonds que era uma espécie de hino para ele.

Com o passar do tempo, a reserva foi se desfazendo, foram ficando íntimos. Lucy, ou melhor, Leo foi cativando-a com sua amizade sincera, contou-lhe seus problemas, falou-lhe sobre a mãe que amava a ponto de vê-la mesmo depois de morta, sobre a dor que sentira quando o pai foi embora e falou também de um papagaio que teve e que morreu engasgado. Para ela era uma historia engraçada a do bichinho, mas sabia que ele levava o caso muito a serio. Ora sua segunda maior perda na vida, a primeira fora a mãe. Ainda lembrava-se do carinho com que ele falava do querido Paulo, seu companheiro desde menino.

Enquanto lembrava-se das horas e horas gastas com ele na internet, um sentimento bom a invadia, uma sensação de carinho, de uma afetividade que os ligava ainda mais. Em pensar que temera tanto o primeiro encontro dos dois no passado? A primeira vez que o vira, fizera questão de marcar em um lugar publico e com muito movimento por medo de que ele fosse um maníaco e apesar de já se falarem até por telefone, não se sentia segura o suficiente para confiar cegamente nele. Mas quando o vira, todas as duvidas sumiram; foi como se já se conhecessem a milhões de anos.

Agora se lembrava até de como fora parar ali. Leo lhe telefonara desesperado, estava tendo uma crise de pânico e precisava de sua ajuda. Dizia que queriam matá-lo, que era perseguido por homens de capuz preto. Então não pensou duas vezes e por isso ainda estava lá, o amigo precisava dela.

Sabia que tinha o dever de voltar para casa, mas não agora, ele ainda não estava bem. E os pais não estavam merecendo que se preocupasse com eles. Estava fora há dias e eles nem deram um telefonema para saber como ela estava ou se estava precisando de alguma coisa.

Um tempo depois percebeu que o amigo estava silencioso, levantou e foi verificar se ele havia adormecido. Entrou cautelosa e sentou em silêncio ao lado dele que ainda estava acordado e no mesmo lugar de antes.

Ele era tão sozinho, parecia um menino desamparado. Tinha o dever de ajudá-lo, não o deixaria tão cedo...

Yane Faria
Enviado por Yane Faria em 13/08/2011
Código do texto: T3157903
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