A hipótese
- Olá Paulo! Como vai?
- Oh meu amigo Gerson! Que prazer vê-lo!
- Há quanto tempo? Dez anos?
- Acho que sim Gerson.
- Está trabalhando aonde?
Gerson lembrou ao Paulo o quanto rejeitava lidar com computador, mas que fora justamente por ter vencido este “preconceito” com a máquina que havia se dado bem, vindo a tornar-se referência e progredido na empresa onde estava.
- E aquela estória que uma vez você me contou? Esqueceu?
- Que estória?
- Aquela das conversas das velhas senhoras...
- Hum... Você ainda lembra? Uma delas era minha mãe, cara!
Gerson havia sido uma criança daquelas que quase não saía de casa. Seu contato era mais com pessoas adultas. Ouvindo suas estórias e captando o que conseguia entender. Entre várias das conversas que ouvira de sua mãe, uma delas, em particular, lhe marcara. Era essa a conversa a que Paulo se referira. Gerson havia lhe falado que ficara no mínimo, intrigado quando sua mãe conversava com uma amiga sobre o futuro. Estavam nos anos finais da década de 1950.
- Maria, a bíblia diz que no fim dos tempos a humanidade será dominada pelo Anticristo.
- E é Dona Joaquina?
- É sim senhora! Ele vai enganar a todos com seus truques. Vai trazer um tempo de bonança. De coisas que nunca se imaginou. Vai ajudar a humanidade em tudo: nas fábricas, nas escolas, nos hospitais... Até nas casas!
- Eu que não quero a ajuda do “demo” dona Joaquina! Cruz Credo!
- Diz-se que vai estar em todo lugar, vai saber tudo de todo mundo e que cada ficará tão agradecida a ele que vai ter um em casa! Que vai adorá-lo!
- Dona Joaquina!
-É. E tem mais: cada pessoa receberá uma marca. Um número! Quem não tiver aquele número não vai conseguir comprar comida, arranjar emprego e nem fazer nada. Ficará à margem. Ninguém vai querer estar com aquela pessoa.
- Puxa vida Dona Joaquina!
Mais tarde...
- Mamãe. Aquilo que a senhora estava dizendo à Maria é verdade mesmo?
- Você estava ouvindo Gercinho?
- Estava. Mas o diabo não é muito feio?
- É. Ele tem uma boca grande e um olho só, na testa.
- E as pessoas vão ficar olhando pra ele mamãe? Eu não vou não!
- Mas isso só vai acontecer no fim dos tempos meu filho. Falta pouco, mais ainda temos alguns anos antes disso acontecer. Cada um que se cuide!
Gerson, na época com 7 anos, se impressionava com a estória, porém, devido ao fato daqueles tempos ainda estarem longe de chegar, ele via como uma coisa distante... Ainda mais essa idéia da sua mãe de dizer que “iriam ficar olhando para a cara do cão”. Ele, Gercinho aqui, não iria mesmo!
Voltando ao encontro de Gerson com Paulo...
- Gerson, depois de considerar as coisas que você me contou, eu, com meus princípios evangélicos, como você sabe, não acho que seja dessa forma que o anticristo virá. Não foi assim que aprendemos na bíblia.
- Meu amigo, vocês das igrejas, são muito conservadores. Incorrem no mesmo erro que os fariseus. Ficam sempre interpretando as escrituras ao pé da letra. Você acha que o demônio é um ser primitivo? Que não tem poder e uma inteligência acima de nossa capacidade de compreensão?
- Que é isso Gerson! Você está valorizando satã?
- Não se trata de “eu” valorizar. Trata-se de valores que nem eu e nem você poderia medir. Nenhum de nós teria capacidade para isso.
- Então você está comparando-o a um deus?
- Entenda Paulo! O grau de sofisticação e de envolvimento que ele usa contra nós é tão alto que mereceu a vinda do próprio Cristo à terra. São vocês mesmo que pregam essa verdade. Então, não seria de se estranhar que ele usasse recursos não percebidos e, mais do que isso, com adesão voluntária da humanidade. No estágio em que estamos, nem mais é apropriado chamar-se adesão, mas necessidade, euforia até. Os escritores de ficção e os estúdios de cinema há muito perceberam isso, e têm feito trabalhos que: se não têm o nome do inspirador da idéia, têm algumas sugestivas conjecturas do plano.
- Como assim?
- Você já assistiu “O Exterminador do Futuro” ou “Matrix”?
- Já. São filmes em que as máquinas dominam... Então você está convencido mesmo que o computador é a máquina chave? Que ele é o anticristo?
- Convencido totalmente não. Mas pense: A idéia é sutil? Há envolvimento de toda a humanidade? (números que controlam) Há interligação progressiva do que chamamos todas as mídias? Houve evolução da civilização a partir da evolução dessas “idéias”, isto é, dos computadores em geral? Você, sua família, seus vizinhos, o padre, o pastor, o presidente, a ong, as forças armadas, os médicos, e todo o mundo está ou não está dependente, cadastrado, controlado e às vezes emocionalmente ligado a essa máquina?
Gerson e Paulo ficam um pouco calados pensando na possibilidade. E vocês? Já pensaram?