O último gole

Abriu o guarda-roupas e lá estava o revólver calibre 38 do seu pai. Ao pegá-lo observou que estava carregado. Colocou a arma em cima da cama e foi tomar banho. Vestiu, cuidadosamente, o seu melhor jeans. Era sexta-feira e o aroma desagradável de cerveja curtida tomava conta da casa. Voltou para o quarto e tomou mais um gole.

Lá fora estava uma tarde agradável, um dia parecido com aquele em que nos conhecemos.

Certa vez, em uma de nossas bebedeiras, ele me falou que os bons morrem antes. Eu não dei muita atenção.

Depois de um longo silêncio, a tela do computador trazia apenas uma carta de amor com aquele que seria o último beijo para a sua amada.

A melancolia que tanto assombrou os Românticos tomou conta do meu jovem e eterno amigo. Assim como Hamlet, de Shakespeare, ele teve que escolher entre a vida e a morte.

Agarrou com firmeza o cabo do revólver e encostou o cano contra a cabeça.

A casa estava vazia e o estrondo seria inevitável, ele tinha certeza disso.

E então, ele se foi.