Marcas de Sangue – Parte 1
Tio Beto sempre me dizia que a dor purifica o homem, faz dele uma pessoa com menos medos, mais apta a vencer os desafios da vida. Ele também me dizia que um homem tinha que se manter forte, não importa o que acontecesse, um homem jamais poderia demostrar fraqueza, dor ou medo. Eu nunca entendi o que tio Beto falava, mesmo assim eu sempre ouvia com muita atenção.
Eu não lembro como meu pai era, dizem que ele me abandonou quando eu nasci, mas nunca entendi o porquê. De minha mãe eu quase não me lembro, mas lembro que ela tava sempre chorando, talvez por isso ela tenha feito aquilo. Foi meu primeiro contato com a morte, e eu só tinha seis anos, muito novo para entender o que estava acontecendo. Eu só fiquei lá, brincando com meu carrinho vermelho na sala, enquanto minha mãe balançava, pendurada na mangueira do quintal. Eu só parei de brincar quando meus tios chegaram, foi a primeira vez que vi meu tio Beto chorando. Depois disso uma moça me levou pra um lugar estranho, era cheio de crianças que eu não conhecia. Ela me disse que meus tios não tinham condições de ficar comigo, então eu teria que esperar até achar alguém que quisesse cuidar de mim.
Eu gostava daquele lugar pra onde me levaram, fiz um monte de amigos, e as moças que tomavam conta da gente me tratavam muito bem. Mais o lugar que eu mais gostava era a escola. Achava muito divertidas as brincadeiras que as professoras faziam, principalmente a professora Lúcia. De vez em quando eu estranhava um pouco, porque eu percebia que a matéria que ela me passava era diferente das dos meus colegas, os textos eram mais longos, as contas eram mais difíceis, e as vezes ela passava muito tempo ao meu lado me ensinando coisas que ela não ensinava para os outros. Ela dizia que fazia isso porque eu era diferente dos outros, porque eu era especial. Teve um dia que ela me levou até a sala de um homem, ele me deu um monte de testes pra eu fazer, não entendi o porquê, mas mesmo assim eu fiz. Depois que eu acabei ele pegou pra corrigir, quando ele acabou estava meio assustado, disse que meu QI ultrapassava os 140 pontos. Por causa disso eu fui colocado em uma escola especial, era legal lá, mas eu tinha saudades da professora Lúcia.
Eu fiquei nessa escola até completar dezessete anos, depois disso eu entrei na faculdade e cursei medicina. Quando eu estava no terceiro ano estupraram e mataram uma moça da minha sala, todo mundo ficou muito triste por isso, menos o namorado dela. Ele tinha sumido, alguns diziam que tava fugindo da policia, diziam que tinha sido ele. Eu não era muito amigo dela não, mas mesmo assim não achava certo o que tinham feito com ela. Uns dias depois o namorado se entregou a polícia, mas como era réu primário poderia responder em liberdade. Não era certo. Ele tinha matado ela, e mesmo assim iria ficar livre, com certeza aquilo não era certo.
Uns dias depois eu o vi caminhando na rua, era tarde. Ele parecia estar seguindo um grupo de meninas que andavam juntas, resolvi ir atras dele. Uma das moças, que não devia ter mais de 12 anos, entrou numa casa bastante humilde que dava de fundos a um terreno baldio, enquanto as outras continuaram caminhando. Ele parou em frente a casa e ficou um bom tempo olhando em volta, acredito que checando se ninguém mais estava ali.
– O que esse cara ta planejando fazer? Eu pensava comigo enquanto ele dava a volta na casa.
Eu continuei seguindo ele. Ele parou no terreno atras da casa e ficou espiando por uma janela, enquanto começou a se masturbar. Era uma cena grotesca, nojenta. Ele estava espiando a menina que tinha entrado na casa. Aquilo era a gota d'água. Fui até ele em silêncio para não ser notado e tirei um bisturi que tinha comprado pra aula. Ele não notou minha presença até eu estar atras dele. Eu o agarrei pela boca e passei o bisturi em sua garganta, de um modo que cortasse suas cordas vocais, mas não o matasse. Pude ver a expressão de dor em sua face, era tão grande que ele nem pode reagir. Eu o joguei no chão, e fazendo o máximo de silêncio possível, o coloquei de costas e cotei um dos nervos de sua espinha, ele começou a tremer de dor. Enquanto ele agonizava eu o me levantei e fui embora, com as roupas manchadas de sangue.