O TEMPO NÃO ESPERA , NÃO PASSA E NÃO ACABA

Caminhava apressado pela calçada a chuva fina caía sem parar, o vento frio penetrava pelo paletó tornando o dia ainda mais gélido e tenso, apertava um envelope contra o peito com muito cuidado, precisava chegar rápido ao fórum, não tinha tempo a perder..., para ele era questão de vida ou morte. Não havia estacionamento por perto, teve que deixar o carro a dois quilômetros do destino, enfrentava a chuva desviando-se dos passantes com grande agilidade para seus 60 anos, homem honrado sempre chegava aos compromissos no horário marcado.

Aquele era um dia muito especial! Finalmente provaria sua inocência, demonstraria a culpa do seu desafeto que o acusara de desviar todo o dinheiro da empresa da qual eram sócios. Muito tempo passou entre os problemas financeiros da empresa a acusação leviana do sócio e o processo que movia contra o mesmo, depois de dez longos anos, depois de idas e vindas, recursos e outros adiamentos, poderia receber seu dinheiro de volta e muito mais que isso, teria enfim seu nome restabelecido na praça, seria enfim feita a justiça! Pois era uma vitima do sócio inescrupuloso e desonesto que além de falir a empresa, desviou o capital e jogou seu nome e sua vida na lama.

Pensava, enquanto caminhava rápido na chuva, que faltavam apenas vinte minutos..., e tudo estaria resolvido, tinha perdido quase tudo: o dinheiro economizado por vinte anos de trabalho, a família que o abandonara quando o escândalo foi a público, os amigos que não acreditavam nele, a saúde, pois passara a fumar ainda mais depois do ocorrido, só restava sua própria honestidade, que iria provar, acima de qualquer coisa. Enfim, depois de muito tempo... muita luta, tinha conseguido as provas da sua inocência e fez questão de guardar segredo até mesmo de seu advogado, iria levar pessoalmente para a audiência.

Agora, somente uns dez minutos..., o separavam da sua redenção, bastava andar mais um pouco, atravessar a rua e apresentar ao juiz a documentação que trazia no envelope e ficaria definitivamente provada a sua inocência. Aumenta o passo, o tempo é curto, a audiência começa em apenas cinco minutos..., o juiz é muito severo não admite atrasos, corre para cruzar a rua que o separa entre ter a sua vida de volta e acabar o inferno que estava vivenciando.

Não há mais tempo..., tudo acabou não precisa mais correr, alguém com mais pressa avançou o sinal vermelho e selou seu destino, o envelope vou alto e caiu junto ao corpo, em meio às poças de chuva, misturando-se com o sangue, agora ele teria todo tempo do mundo..., toda a eternidade.

Paulo Melo
Enviado por Paulo Melo em 29/06/2011
Código do texto: T3064185
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