Remédio de Pólvora e Sangue

A respiração atritada contra o frio tecia a sua volta uma cortina gélida. Mirava os olhos tristes e quase sem vida que lhe dirigiam um pedido de misericordia. As mãos trêmulas buscaram algo dentro do casaco, e quando encontrou o que tanto queria, se puseram para fora da roupa, empunhando um arma, que reluzia contra o filhete de luz que escapava da avenida central, e que adentrava naquela viela onde agora estavam.

Por um momento sentiu-se um Deus, por ter a certeza de que a vida daquele pobre ser que rasteja no chão era sua. Puro devaneio de quem se encontra entre a dor, o ódio e a loucura. Tentou por muito tempo achar a cura para aquele desejo insaciável, não encontrou, e desde então, seu remédio sempre teve gosto de pólvora e sangue. Incostante desde sempre, encontrara finalmente na vida furtiva da noite a inspiração para a forte ausência de sentimentos que tinha, graças ao mundo.

Os olhos banhados em lágrimas pareciam ter a certeza de que estava perto do fim a vida que os regia. Um grito seco, um estampido cortando a noite, um corpo caido em mais uma de muitas ruas escuras da cidade. Finalmente parecia ter acabado com o único mal de sua vida, e agora com um sorriso no rosto, deflagrava o sinal de que finalmente encontrara a paz que tanto quis. Luzes, carros e milhões de curiosos logo se amontoaram no local, mas agora já não poderia mais escutar nem sentir nada, finalmente havia reunido toda coragem que tinha para se matar.

Felipe de Oliveira Ramos
Enviado por Felipe de Oliveira Ramos em 14/06/2011
Código do texto: T3034248
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