Carta de uma jovem morta...(parte 1)

Era dia de comemorar, não por causa do meu aniversário, nem lembraram, era porque Rafael meu irmão se livrou do exército, nunca queria fazer, se livrou por ser gordo demais, sempre mimado por mamãe e papai, tudo o que ele pedia ele ganhava, eu não existia, eu não existo, Rafael sempre me chamou de Lucia Ninguém, eu não posso descrever o que eu sentia, apenas engolia a seco. Meu quarto é no sótão, acho que era difícil eu ficar com um dos três quartos de hóspedes, meu irmão tinha dois, um traste na minha vida, nunca o vi com olhos de amor, ternura, como poderia? A cada dia que eu me deitava no colchão duro da minha cama sentia o que era ser tristeza, mas não chorava, não me permitia chorar, apenas a olhar a madeira apodrecida do teto, onde eu vivo jogando meus chicletes mastigados, era o meu céu colorido. Eu não queria sair dali, pois não queria ver a cara dos meus pais me olhando torto, como se não quisessem eu ali, e realmente não queriam.Sai do quarto, Rafael estava deitado no sofá que de tanto aguentar o peso dele já estava começando a ceder. Minha mãe estava indo para cozinha, estava preparando o almoço, ela fazia questão que eu não comesse com eles, tanto que colocava meu prato e levava para meu quarto, isso que era mãe, se isso significa que ela gosta de mim, imagina se não gostasse.

Eu me identificava com Harry Potter, um filme de bruxos, garoto órfão, criado e maltratado por seus tios. A diferença é que eu não sou órfã, nem sou criada por meus tios, talvez seria melhor viver com eles do que com meus pais, eu assisti o filme e vi a minha vida. O primo de Harry parecia meu irmão, só que meu irmão é mais gordo, meus pais também, pois sempre davam o resto do resto para mim e se deliciavam com as guloseimas feitas pela mamãe, porque será que mamãe e papai me odiavam tanto?

Fiquei no quarto e como sempre não comi a comida dela, para eles ela fazia um arroz soltinho, um feijão feito na hora e uns pedaços enormes de carne que dão água na boca de olhar, além da sobremesa, tortas, sorvetes, pavês, bolos e muito mais, para mim ela colocava sempre um arroz grudento, um feijão azedo e uns mexidos de ovo que nem teve a coragem de tirar alguns pedaços de casca que caem dentro, me sentia um lixo, até que eu não aguentei e resolvi: __Vou fugir.

peguei minhas coisas e coloquei numa mochila (já que não era muita coisa coube), esperei anoitecer, eles nem ligavam se eu estava dormindo ou não. Quando deu quinze para a meia noite eu resolvi descer, sai do meu quarto, passei pelo corredor onde havia um banheiro só para Rafael, aquele porco imundo, sempre tive vontade de chutar o traseiro, mas tinha medo do meu pé ficar preso(momento sarcástico), nunca se sabe o que sai dali, deve ficar umas duas horas para tentar esfregar a barriga, acho que de baixo de uma das banhas deve sair coxas de galinha que ele deve ter guardado para mais tarde, e muitas outras coisas que eu não quero pensar, dá ãncia de vomito. passei em frente do quarto dos meus pais, só que estavam tão preocupados em ver a televisão que não me viram, desci a escada feita de concreto(pudera, para aguentar o peso daquele imbecil)e fui direto a porta, mas antes de sair eu vi a carteira do meu pai sobre a bancada, ele nem se importava, tinha tanto dinheiro que não me assustaria se ele guardasse no rabo, eu peguei a carteira, tinha mil e duzentos reais nela, peguei os mil, deixei duzentos, para ele pensar que perdeu, ele estava nem ai com o dinheiro, eu peguei também um dos treze cartões de crédito dele e sai. Eu já tinha dezoito anos e já tinha conta no banco, sorte minha.

Andei muito até achar um caixa eletrônico e fui ver quanto ele tinha, fiquei espantada, eu sabia que tinha bastante dinheiro, mas não sabia que era muito, nunca vi tanta grana reunida, decidi passar um pouco para a minha conta, ele não iria perceber mesmo. Passei 90 mil, parece muito, mas para ele é o mesmo que perder uma moeda de 10 centavos.

Andei mais um pouco até achar uma pousada, lá a diária era menos que 10 reais, ai achei melhor ir, não quero gastar o dinheiro de uma vez, tenho que fazer render. eu fui na frente da pousada, as paredes eram cor verde água, a porta de vidro estava com um pequena placa pendurada dizendo "Aberto", entrei, estava cheio de pessoas, muitas já hospedadas ali, eu fui até o balcão para consegui um quarto e fui atendida de uma forma muito ruim, o cara estava com um chapéu de vovô, tinha barba, estava com um charuto dos vagabundos na boca, sua blusa florida estava entreaberta e o resto abotoado de forma desleixada, deixando a barriga de chopp aparecendo, parecia que estava grávido, que nem meu pai, uma poça de banha igual ao meu irmão.

Decidi sair, aquilo estava parecendo furada, andei mais um pouco, cada vez mais com medo daquela viela escura, de repente eu ouvi um barulho que fez a minha espinha se contorcer, era um ruido estridente, como algo de metal. Corri para ver o que era, uma garota de carro acabará de bater contra uma parede, ela estava muito machucada, mas viva, eu chamei uma ambulância, eu acompanhei ela até o hospital, estranhei, pois quando ela bateu com o carro só eu apareci na rua para saber o que aconteceu.

Fiquei esperando umas 2 horas para saber o que aconteceu com ela, até que o médico veio até mim, perguntou se eu era parente, eu menti, falei que era prima dela, senão ele não me falaria nada. Ele me disse que ela estava em coma profundo, que a batida havia feito um machucado profundo no crânio e que a bala que tinha acertado ela ainda não tinha sido removida, estava em um ponto crítico ao lado do coração. Eu fiquei espantada fiquei pensando "Bala? meu deus, é pior que eu pensava". Eu não era da familia dela mas senti um aperto como se ela fosse uma irmã, mesmo que eu nunca tinha visto ela antes...

(continua)

Layla Vimorat
Enviado por Layla Vimorat em 11/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
Código do texto: T3028784
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