Persona
A barba negra destoa no rosto pálido. Vive com a mãe! Optou por isso, enquanto ela viver. Solitário! O certo é que não é feliz! Fica remoendo como seria a vida se estivesse casado com Francisca. O sangue entra em ebulição ao lembrar-se das suas pernas torneadas. Uma luz o acompanha em todos os momentos.
Ali, sentado em frente à tela do computador revive partes do seu passado com a amante. Profissional liberal não lhe falta serviço! Considerado um gênio na informática resolve problemas de pequenas, médias e grandes empresas.
Teve outros relacionamentos, mas nenhum tão forte como; o que teve com Francisca! O trabalho o envolve e o pouco tempo que consegue entra nas salas de bate-papo na internet. Ali, se realiza contando vantagens sobre a sua pessoa. A imaginação voa solta. Um dia é um empresário do ramo do calçado, no outro um poeta, e a cada nova interação vai se enrolando ainda mais nesta teia famigerada da mentira.
Sua mãe alerta ao fato de vê-lo sempre só, o incentiva para procurar suas antigas amizades. Ele inclina a cabeça num afirmativo encabulado e continua obsessivo em seu trabalho.
Durante a madrugada resolve dar um tempo no trabalho e entra numa dessas redes sociais, conhecida como Facebook, e, de repente, uma fotografia o faz prender a respiração. Ele recebe um convite de Francisca para adicioná-la na sua lista de amigos. Instintivamente, aperta os comandos lá está ela bem a sua frente! Linda! Explorando com sua beleza madura os seus instintos mais animalescos. Seu corpo intumescido vibra com a foto dela de biquíni. Lá está ele e seu objeto de desejo. Ele a devora com os olhos. Suas mãos ágeis passam pelo teclado buscando mais fotos numa vertiginosa loucura.
A cada novo dia o trabalho faz uma pausa e a rede social se entrelaça em seus movimentos repetitivos. Sua mãe sente que algo muda em seu menino ao percebê-lo mais alegre.
Manhã de domingo, Rodrigo sai todo perfumado sem dizer para onde vai. Volta à noite esquivando-se para não ser interrogado pela mãe. Entra no quarto e fica em frente à luz! O barulho do teclado é um convite para a sua mãe entrar no quarto. Diferente dos outros dias ele fecha a porta.
A maçaneta vira de um lado para o outro e o tec tec continua naquela rapidez vertiginosa. Vez ou outra ele sai sem dizer aonde vai. Sempre volta á noite sem dar explicações. Em silêncio se tranca no quarto e recomeça a sua rotina diante do computador. Francisca sempre o interrompe com suas fotos provocativas.
Logo na manhã seguinte sua mãe o escuta cantarolar no banheiro. Barba raspada sinaliza o rosado das bochechas. Mudança radical para quem nunca ousou se barbear por anos a fio.
No domingo o moço repete a sua saída, mas não volta! A mãe em desespero procura a polícia. O detetive propõe a Iracema entrar no quarto do seu filho. A mulher procura um chaveiro e a porta se abre. Ela não acredita no que vê: as paredes do quarto do seu filho, literalmente estampadas com as fotos de Francisca em posições eróticas. Na tela do computador seu filho lambe o pé de uma mulher, enquanto olha dentro dos olhos da mãe.