DEU A LOUCA EM ZABELEZA

Tudo corria bem, como de costume, e talvez fosse mais uma madrugada tranqüila naquela risonha e pacata cidadezinha, conhecida por Zabeleza, talvez, se algo inesperado não estivesse para acontecer. Algo inacreditável. Algo sui generis. E aconteceu.

Foi exatamente no meio da madrugada, mais precisamente ás duas horas da manhã que o profundo silencio da noite, foi bruscamente rompido numa explosão de luz e som e por esse motivo o Vicente Todynho: o pinguço mais antigo daquele lugar, acordou o soldado Moura aos berros e apontando para o céu, onde se via um enorme clarão acompanhado de um barulho incessante.

- Soldado Moura, Soldado Moura! Acorda, estão invadindo a cidade, deve ser uma Gangue de fora, olha, olha!!!

A escuridão noturna foi violentamente consumida por uma luz resplandecente, fazendo da noite, um dia na sua claridade máxima, variando as tonalidades como faria um sol enlouquecido. Em apenas, alguma horas, tinha-se a impressão que várias alvoradas haviam acontecido, o barulho incessante nos fazia crer que o céu estava prestes a cair sobre a terra. Todo aquele lugar entrou em polvorosa. Os sinos da igrejinha badalavam desesperadamente. Ouviam-se gritos, gemidos, clamores, correrias, choro e ranger de dentes.

Moradores, apavorados corriam sem direção, para todos os lados se viam pessoas buscando proteção, alguns, abraçavam-se, outros, pediam perdão, uns poucos, buscavam o abrigo de seus lares e a benção dos seus pais.

Dona Socorro, a Parteira e Benzedeira da cidade, ainda não havia terminado sua reza, depois de colocar no mundo mais um cidadão de Zabelê, filho primeiro de Soninha Formosura, a manicure e diante daquele fenômeno todo, correu para a porta, com seu Rosário em punho.

- Vai de reto Malassombro, que Deus é maior!!!! Gritou com a sua voz de Taquara Rachada a Dona Socorro.

Dona Jorgina, Proprietária do jornal de fofocas local, juntamente com as suas colaboradoras: Ana Costela, Celinha Clã, Telma Lindo Olhar e Dione da Saúde, ainda estavam atualizando a ultima novidade, quando tudo teve inicio.

-Corram Meninas, vejam se foi algum marido ciumento, que pegou o Ricardão no flagra, ordenou Dona Jorgina.

O padre Sergio Doiana Placenta, meu amigo particular, corria desengonçadamente pela praça central e aos gritos, pedia, que todos orassem, pois era chegado o dia do juízo final.

O Prefeito Austerbeto Duvidoso, por sua vez, pedia que cada eleitor fosse fiel á sua escolha e em caso de intervenção federal, pois, pensava ele, que tudo aquilo seria, as forças armadas invadindo a cidade, pelo fato de seu governo está sendo investigado pela Policia Federal, lutassem para que o seu nome fosse inocentado.

Da escuridão do beco do velho mercado, saíram, ainda descabelados, o Delegado Damião Cachorro d’agua e o Gerente do banco local, o Sr Miranda de Fátimo. Vinham á passos largos, mas, num ritmo delicado e numa cadencia que lembrava de longe, a leveza de um nado sincronizado.

O coveiro Zé mortalha ouvia, atentamente, o que dizia o Severino porca solta:

- eu avisei que eles um dia chegariam! – comentava em tom solene, ele que também era conhecido como o profeta do absurdo. Zé Mortalha espantado perguntava:

- Quem? Como?

- ora, mortalha, o ET. Primeiro ele cortou a energia elétrica, a internet e o sinal telefônico, agora ele invade a cidade e...

- Peraí, Porca Solta...que conversa é essa?

- Deixa de ser burro, Mortalha, o ET vem abduzir agente...

- Abdu...o quê?

- sei não, mortalha. Mas vi numa revista que eles queriam estudar nós, e também os seres humanos.

Para desespero de todos, a situação permaneceu assim por várias horas. Em um determinado momento,em meio a todo aquele caos, eis que é visto subindo a ladeira que dava acesso a rodovia, exausto e frustrado, o velho Sidney, carteiro e poeta da vizinha cidade de Ilusópolis. Esse incansável senhor, fora incumbido de levar até Zabeleza, um importante comunicado.

Acontece, Senhores leitores, que a cidade estava sem comunicação havia três dias e foi pega de surpresa. Pois o impagável poeta carteiro, dirigia-se á Zabeleza com a noticia de que o cometa Halls de Uva, havia mudado o curso, curso que outrora compreendia toda a parte superior do hemisfério norte e agora tinha como itinerário, a cidadezinha. Pois é, companheiros, o velho entregador de cartas, dirigia seu velho e problemático automóvel, um Palio Weekend 1999, que a certa altura quebrou e o bravo Senhor boas novas caminhou a pé quinhentos quilômetros, mas, infelizmente chegou atrasado.

Mas, como a tudo, o tempo “fere e cura”, o bendito cometa passou, a calma foi gradativamente se estabelecendo e tudo ficou esclarecido: o clarão foi causado pelo cometa, o barulho pela correria de homens e animais, e tudo voltou a sua normalidade.

Dona Socorro a Parteira e Benzedeira da Cidade, acalmou a Soninha Formosura, a sua ultima parturiente. Dona Jorgina chamou as suas meninas para prepararem as ultimas noticias, com todas aquelas revelações dos moradores, mediante o medo do fim.

O Padre Sergio Doiana Placenta, voltou envergonhado para a sua paróquia, o Prefeito Austerbeto Duvidoso voltou aliviado para o seu gabinete, o delegado Damião cachorro D’agua e o gerente do banco local, Sr. Miranda de Fatimo, voltaram para a escuridão do beco do velho mercado, Zé Mortalha indicou um veterinário para o Severino Porca Solta e o Soldado Moura encontrou o Vicente Todynho num boteco e resolveram bebemorar o final feliz.

FIM