Memórias daquela fatídica noite...
Há um mês eu havia comprado um carro novo, lindo! Meu primeiro carro zero. Lógico que eu queria mais é sair pra mostrar pro mundo a minha felicidade, o prêmio do meu trabalho duro, do meu suor! E assim foi... eu me sentia leve no meu “brinquedinho novo”, sentia-me flutuando! E foi numa noite de lua cheia que resolvi dar um passeio de carro. Fui à praia, caminhei sozinha, respirei aquele delicioso ar, o vento que vinha do mar era algo sublime! Parei num quiosque, tomei a água de coco mais deliciosa da minha vida! Após quase duas horas ali, naquele paraíso, senti sono e resolvi ir pra casa descansar, pois afinal, era domingo e no outro dia eu tinha que trabalhar bem cedo.
Entrei no carro e parti em direção à minha casa, resolvi pegar um atalho, por uma ruazinha mal iluminada, que sairia direto na entrada do meu bairro. Isso me pouparia uma volta enorme. Porém, essa foi a pior decisão que tomei na vida. Ao entrar na rua, percebi uma movimentação diferente, anormal por ali, mas para meu alívio, era uma blitz. Alguma rotina! Imaginei eu. Mal sabia que o meu maior pesadelo estava para começar! Ao passar pelos policiais, fui abordada e orientada a encostar o carro. Parei, desci do carro, pediram meus documentos, mostrei, estava tudo em ordem, nada havia contra mim. Imaginei que eles me mandariam entrar e seguir meu caminho, ledo engano! Um dos policiais deu-me um soco na boca, eu cambaleei e antes de recuperar e equilíbrio, socos e pontapés foram dispensados a mim, por cinco policiais armados de cassetetes e metralhadoras. Não entendia nada! O que foi que eu fiz pra merecer aquele tratamento? Nada!
Depois de uma eternidade (pelo menos me pareceu assim), eles pararam de me bater, jogaram meus documentos dentro do carro e me mandaram sumir dali. Aliviada, levantei com muita dificuldade, tirando forças nem sei de onde, entrei no meu carro, fechei a porta, dei partida, ouvi um disparo de arma de fogo... tudo ficou escuro, longe, não vi nem ouvi mais nada...
E agora, a sete palmos de fundura, não ando mais com meu carro, nem tomo água de coco na praia, a única coisa que sei, é que não estarei sozinha, pois tenho absoluta certeza, de que basta esperar... que outras inocentes vítimas venham me acompanhar!