Dia, 14 de outubro de 2009, Hospital Psiquiatrico, Santa Helena, a enfermeira Rose, estava preparando o quarto 6b da ala 2, pois seria ocupada por um novo paciente, já que o anterior, após 10 anos de internação, havia falecido, encontrou na gaveta da mesinha de luz, uma carta, achou raro pois o referido paciente que era carinhosamente chamado de Dr. por causa de seus delírios e, que dizia que era um grande jurista, nunca tinha recebido nenhuma visita, pois sua esposa e seu único filho faleceram num acidente em que ele era o motorista e, pensando nisso começou a ler a carta que dizia:
 
Amado filho:
 
Hoje é seu aniversário, parece que foi ontem que eu andava de um lado pro outro no corredor da maternidade tal era a felicidade pelo seu nascimento. Quando o médico se aproximou e me disse, é menino! Pensei que o meu coração ia explodir e, quando te segurei em meus braços, não posso descrever você era exatamente o que sempre imaginei: perfeito...
Os anos foram passando e, eu seguindo os passos que programei para sua vida, o colégio, sua vida social, enfim, você seria um grande jurista como é a tradição familiar.
Quando comemoramos os seus 15 anos, não sei se você lembra, eu te disse: faltam 3 anos para ganhar o carro e entrar na Universidade. Pensando bem, agora me dou conta do olhar da sua mãe, não parecia feliz, agora sei que era preocupação. Passados alguns dias, ela me disse: vou levar nosso filho em um psiquiatra, pois tenho percebido que algo está mal.
Fiquei furioso! Respondi-lhe: psiquiatra pra que?!   Tá ficando louca? Proíbo-te, filho meu não precisa disso. Bati a porta e fui, tinha muitas audiências importantes, inclusive um jantar beneficiente e sabia que iria sozinho.
Quando retornei a casa, já passava da 01h00min da manhã e para minha surpresa, sua mãe estava na sala me aguardando e, sem rodeios falou: amanhã o Dr. Sérgio vai fazer várias avaliações em nosso filho para um melhor diagnóstico e tratamento, mas, ele tem certeza absoluta que o Júnior sofre de esquizofrenia, mas como ele é jovem, tem certeza de que responderá bem ao tratamento e com o nosso apoio, poderá ter uma vida normal.
Vida normal?  O que você pensa que é vida normal?  O que você acha que os meus colegas e amigos vão pensar de tudo isso?
A partir desse dia, minha vida se desmoronou e junto com ela o meu casamento.
Não pude aceitar e nem conviver com as crises que começaram a te afetar, principalmente quando você se recusava a tomar a medicação.
Hoje sei que a minha atitude foi covarde, egoísta, infame, na verdade não existe palavra adequada que explique e, menos ainda que justifique tal decisão.
Quero que você saiba que não passou um dia siquer da minha vida em que não deixei de pensar em você, sei que é tarde para mim, mas assim mesmo peço o seu PERDÃO e, espero que Deus me receba bem e se apiede da minha alma.
 
Com amor,
 
Papai
 
verdades e mentiras
Enviado por verdades e mentiras em 29/03/2011
Reeditado em 29/03/2011
Código do texto: T2877322
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