Tudo Em Seu Devido Lugar

Um conto sobre o tempo e suas conseqüências.

Eduardo sentou-se em sua cama, colocou as mãos sobre o rosto, e chorou. Não era um choro estridente, mas um choro silencioso, como uma chuva de lagrimas descendo pelo seu rosto. O peito latejava enquanto sua mente processava diversas memórias de sua namorada Clara. Os dois eram inseparáveis e pretendiam ficar juntos pelo resto da vida, não fosse uma triste virada do destino. Há exatamente 12 horas e 36 minutos, em uma avenida movimentada, onde carros passavam e cruzavam uns aos outros como flechas, Clara, que no momento estava no telefone com a mãe não vira a mudança de semáforo, e por esse descuido insignificante, seu automóvel fora atingido em cheio por uma van que carregava apressadamente 14 pessoas para outro canto da cidade. A garota morreu em questão de segundos enquanto apenas o motorista e seu companheiro que sentava-se ao lado morreram no impacto trágico. A noticia tomou conta do bairro mas em apenas uma semana todos já haviam esquecido do acontecimento, continuando com suas vidas e se preocupando com outras noticias trágicas.

Para Eduardo, aquilo tudo era o começo do fim de sua vida. Ele sentia que sem Clara não conseguiria voltar a viver normalmente como vivia quando ela estava por perto. Sentia também que jamais iria encontrar alguém como ela, pois sua morte o assombraria pelo resto de sua vida.

Enquanto chorava encolhido em seu canto na cama, alguém bateu levemente em sua porta e a abriu vagarosamente. Era sua mãe, gentilmente se aproximando, tentando fazer com que o filho se sentisse melhor com sua presença.

“Filho, como você está?” perguntou dona Marta, acariciando o braço do filho com sua mão que parecia ser feita de veludo. “Está se sentindo melhor?”

“Mãe, você quer que eu seja honesto com a senhora, ou que te conte uma mentira para que se sinta bem? “perguntou Eduardo olhando nos olhos da mãe.

“A verdade, Edu. “

“Não sei se vou ser forte o bastante para passar dessa. Esta muito difícil. A dor é insuportável.”

“Filho, eu sei que todo mundo fala isso, mas é a verdade. Quando passamos por um momento difícil em nossas vidas nós achamos que nunca mais seremos felizes, mas só o tempo cura. O tempo cura tudo.”

“No momento que estou vivendo o único jeito que o tempo curaria o que estou sentido é se eu pudesse voltar nele.”

Dona Marta o abraçou e Eduardo desabou, a chuva que descia seus olhos virava uma tempestade carregada de tristeza e saudade. A mãe tentava dizer coisas que fariam o filho se sentir melhor, mas nada adiantava, pois ela sabia que seu filho tinha um longo caminho a percorrer até o dia em que iria finalmente sorrir de novo. Eduardo deitou-se em sua cama e caiu no sono. Dona Marta o cobriu e o beijou no rosto, enquanto sussurrava em seu ouvido que tudo iria ficar bem.

Eduardo acordou sentindo-se um pouco melhor. Quando dormia, os problemas pareciam desaparecer e tudo ficava mais tranqüilo, mais calmo. Mas aos poucos, a dor voltava, atingindo-o em cheio, como se um buraco negro estivesse sendo aberto dentro de seu peito. Sua mente não conseguia parar de pensar em Clara, em seu sorriso, nos momentos maravilhosos que tiveram juntos, e no tempo onde tinham poucas preocupações e onde tudo estava em seu devido lugar.

Ele não conseguia compreender como a vida podia ser tão injusta com Clara, uma garota boa, inteligente, e dedicada que por estar no lugar errado na hora errada, fora uma vitima de um destino incerto, deixando tudo que amava e todos que a amavam para trás. A vida inteira da garota resumiu-se em um momento de descuido e fechou-se dentro de um caixão lacrado, colocado a sete palmos debaixo da terra.

Eduardo agarrou seu travesseiro e o fixou em seu rosto gritando o mais alto que pode. O ódio foi tomando conta dele, uma força imensa que consumia sua mente e fazia com que ele sentisse raiva de sua própria existência.

“Clara, eu faria de tudo, de tudo mesmo se eu pudesse trazer você de volta, mas não há nada que eu possa fazer. Se eu pudesse ter ido em seu lugar, eu realmente não ligaria, pois pelo menos você estaria vivendo sua vida, e eu não estaria me sentindo assim.”disse Eduardo entre lagrimas olhando para cima. “Me sinto fraco, inútil, sem esperança. Por que estou passando por isso? O que eu fiz para merecer isso?”

Um pensamento repentino mas cheio de maldade e desespero surgiu em sua cabeça fazendo com que Eduardo descobrisse que a única forma de acabar com sua dor e sofrimento fosse com que pusesse fim em sua própria vida. O rapaz então olhou em sua volta, procurando algo que servisse como inspiração para o ato, mas não encontrou nada. Foi então que o rapaz pensou na ponte que ficava á alguns quilômetros de sua casa. Eduardo rapidamente agarrou as chaves que estavam em cima de seu criado-mudo ao lado de sua cama. Ele abriu a porta, desceu as escadas rapidamente, e saiu pela porta de entrada da casa. Eduardo apalpou seus bolsos e encontrou a chave de seu carro junto com sua carteira e uma foto de Clara. Dona Marta correu para fora de casa, perguntando onde que seu filho estava indo, Eduardo entrou dentro de seu carro, deu ré e dirigiu o mais rápido que pode para a ponte. Naquele momento o rapaz tentava não pensar em nada alem de chegar em seu destino. Alguns minutos depois Eduardo já podia ver a ponte se aproximando. Seu coração batia aceleradamente dentro de seu peito e o suor frio descia sua nuca. O sentimento de adrenalina era tão forte que ele sentia que fosse explodir à qualquer momento. Ele parou em uma rua ao lado da ponte, jogou sua carteira e suas chaves no banco do passageiro, saiu do automóvel e correu o mais rápido que pode para a ponte. Um vento frio soava em sua volta, fazendo com que seus dentes batessem uns aos outros como uma dentadura de brinquedo. Quando chegou a ponte, o rapaz olhou em sua volta e não encontrou ninguém à não ser o movimento leve de carros que passavam de vez em quando. Eduardo segurou o guarda corpo da ponte e fixou seu olhar para baixo. A queda era um pouco menor que 20 metros, mas a correnteza carregava o rio violentamente para baixo da linha do horizonte. Se a força que o corpo de Eduardo iria bater na água não o matasse, a correnteza iria o engolir e o garoto iria ser encontrado quilômetros de onde estava. Eduardo pensou em sua mãe por um momento, no estado em que ela estava agora, e no estado em que ela ficaria depois que descobrisse que seu único filho morrera. Eduardo era a única pessoa que Dona Marta tinha em sua vida. Matheus, marido de Dona Marta e pai de Eduardo, morrera após 6 anos de luta contra um câncer de pulmão devastador, e desde então a mãe tratava o filho como um santo e como a única pessoa presente em sua vida que à trazia felicidade.

Eduardo estapeou sua face com força para fazer os pensamentos desaparecerem. Eduardo olhou para baixo outra vez e lentamente colocou uma perna sobre o guarda corpo, fazendo força para subir e sentar-se no mesmo. Seu corpo inteiro tremia com medo e frio. Ele olhou para baixo e sentiu uma força o puxá-lo, como se estivesse esperando para engolir o rapaz. Eduardo começou a chorar e olhou para o céu cinza e nublado, que parecia encará-lo com decepção. Um carro passou pela ponte buzinando para Eduardo, enquanto uma garota gritava para que ele saísse dali. Eduardo olhou para o rio negro que corria por baixo e lentamente deixou seu corpo escorregar. O rapaz estava centímetros de sua morte certa quando uma mão tocou seu ombro direito. Eduardo quase escorregou com o susto, mas a mão o puxou para trás e ele caiu de costas no chão, batendo sua cabeça fortemente contra o asfalto. Eduardo sentiu uma leve tontura enquanto a mão o agarrava e o levantava pela gola da camisa. Um homem desconhecido o segurava com um estranho sorriso no rosto. Seus olhos o encarava como se ele fosse um pedaço de lixo, e por um momento Eduardo pensou ter visto os olhos ficarem vermelhos.

“Algum problema?”disse o homem calmamente, olhando-o nos olhos.

“Por favor, me deixe aqui. Eu não quero mais viver, eu cansei, eu já não consigo viver mais. Me deixe por favor.” Respondeu o rapaz em desespero. “Me deixe sozinho.”

O homem soltou Eduardo e ajeitou a camisa do rapaz com uns tapinhas. O sorriso curvo e irônico no rosto do homem fechou-se em uma expressão indiferente. O homem vestia um sobretudo preto, com uma calça jeans vermelha-sangue e sapatos vermelhos.. Seu rosto era fino, ossudo e seus dentes eram amarelos; seus cabelos eram loiros, compridos e sujos e o homem cheirava a cigarro e perfume.

“Vai se matar?” perguntou o homem.

“Vai embora, por favor.”

“Só estou lhe fazendo uma pergunta. Estou curioso para saber o que leva alguém a tirar a própria vida. Principalmente um rapaz jovem e com um futuro inteiro pela frente como você.”

O homem soltou uma risada abafada e o cheiro de cigarro parecia exalar-se por todos os cantos de seu rosto. Eduardo sentiu-se envergonhado e decepcionado com si mesmo por estar passando por um momento tão ridículo como aquele. Ele sentiu como se estivesse tendo um pesadelo, e desejou que em momentos acordasse em sua cama debaixo das cobertas. Com Clara ao seu lado.

“Bem, acho melhor você se matar outro dia. Venha comigo.” Disse o homem virando as costas para o rapaz e seguindo em frente. Eduardo ficou encarando a figura desconhecida por um momento, sentindo-se congelado e estupefato com aquela situação tão estranha. O homem continuou seguindo em frente, e de repente parou.

“Prometo que você não vai se arrepender.” Disse o homem em voz alta, virando-se para Eduardo. “A Clara está esperando!”

Eduardo correu atrás do homem o mais rápido que pode e o agarrou pelo braço. O homem encarou novamente com indiferença.

“O que você disse?” perguntou Eduardo em desespero.

“Disse para que você viesse comigo.” Respondeu o homem, com o sorriso irônico lentamente curvando em seu rosto.

“Não, depois disso. Como você sabe o nome dela?”

“Não sei do que esta falando rapaz, acho que você bateu a cabeça forte demais quando te salvei do ato inaceitável.” Disse o homem apertando os ombros de Eduardo com força. “Mas venha comigo. Eu prometo que vamos achar uma solução para seus problemas.”

Eduardo acompanhou o homem misterioso até o fim da ponte e os dois viraram a esquina e foram de encontro ao carro do garoto.

“Entre no carro.” Disse o homem sorrindo.

Os dois entraram no carro. O homem fechou a porta e virou-se para Eduardo.

“O que vou dizer agora, vou dizer só uma vez. Se você me interromper com perguntas, eu simplesmente vou embora e irei deixar você com seu destino. Entendido?”

“Como assim?”

“Sem perguntas! Responda sim ou não.”

“Sim.”

“Ótimo. Sem perguntas a partir deste momento, certo?”

“Sim.”

“Eu quero fazer um acordo com você. Um acordo descente e legitimo que ira colocar sua vida de volta ao normal. É um acordo simples, e tudo o que ele requer é uma assinatura. Um simples sim, e irei colocar tudo de volta ao seu devido lugar. Você pode voltar a viver normalmente com sua amada Clara, sua mãe, e voltar a ter momentos felizes. Tudo o que eu preciso é de uma simples assinatura.”

Eduardo sentiu o medo tomar conta de seu peito. O pensamento que estava tendo um pesadelo mais uma vez cruzou sua mente. O homem o encarava com seu olhar fixo e sua expressão indiferente. Eduardo ouviu o homem estalar os dedos em frente ao seu rosto de repente.

“Está me ouvindo? Esta prestando atenção?”

“Sim.”

“Vou deixar você me fazer uma pergunta, então.”disse o homem sorrindo.

“Como?”disse o rapaz rapidamente.

“Funciona da seguinte forma: Você escolhe um dia, hora, lugar, e ano para voltar. Você tem uma oportunidade de voltar no tempo e mudar as conseqüências do mesmo.”

“Impossível.” Respondeu Eduardo. “Isso é impossível, você só está querendo me enganar.”

“Bem, já que é impossível eu vou embora. Passar bem.” Disse o homem abrindo a porta do carro e colocando uma de suas pernas para fora.

“Não! Me explique, por favor.”

O homem virou-se, encarou Eduardo firmemente e fechou a porta do carro.

“Para que explicar? Não existem explicações para atos impossíveis, certo?”

“Mas como isso funciona? Eu posso voltar para qualquer lugar no tempo? E como eu faço para voltar para o presente?”

“Ah! É por isso que você deve ter cuidado. Você pode viajar para qualquer lugar no tempo, mas só funciona uma vez. Por isso você deve ter cuidado para onde viaja, pois é uma viagem sem volta porque você estará mudando o futuro, então você não terá mais a chance de voltar para o passado; que é o presente que estamos vivendo agora.” O homem ficou em silencio por um momento e tirou um envelope de seu bolso. “Eu sei que parece complicado, mas tudo irá fazer sentido depois. Tudo o que eu preciso é de sua cooperação.”

Eduardo olhou para o envelope que o homem misterioso carregava, um envelope amarelado, com um selo vermelho que o lacrava. O rapaz pensou na chance de rever Clara de novo, e se o que aquele sujeito estranho estava falando fosse verdade, talvez ele pudesse voltar para trás e se livrar de toda a sua dor e tristeza.

“Pense bem, Eduardo. Eu fiz você vir até mim pois eu sabia que você estava passando por um momento difícil...”

“Como assim?”

“Sem perguntas.” Respondeu o homem abrindo o envelope com seus dedos compridos e sujos. “Vai aceitar ou não?”

“Sim, é claro. O que tenho que fazer?” perguntou o rapaz em desespero.

“Leia atentamente, e assine embaixo.”

Eduardo agarrou o envelope; a carta parecia ter sido escrita em letras desconhecidas, em uma língua que Eduardo nunca havia lido antes. O homem o ofereceu uma caneta negra com ponta fina, sem tirar o sorriso estranho de seu rosto.

“O que esta escrito aqui?”

“Sem perguntas.”

“Mas...”

“Sem perguntas, Eduardo. Quer ver sua amada de novo ou não?” perguntou o homem franzindo sua testa.

Eduardo encarou a carta, hesitou por um momento, mas finalmente agarrou a caneta e escreveu sua assinatura rapidamente na parte de baixo do papel. De repente a carta ficou em chamas, uma chama vermelha e preta, mas sem fazer com que Eduardo a sentisse, e depois de alguns segundos, desintegrou-se e desapareceu, sem deixar vestígios. O garoto ficou de boca aberta enquanto o homem ria ao seu lado.

“Muito obrigado! Agora vamos ao que interessa. Já escolheu para onde quer ir?” perguntou o homem.

“Eu quero voltar três horas antes da morte de Clara.” Respondeu o rapaz rapidamente.

O homem agarrou um relógio de bolso prateado do bolso de seu sobretudo encardido, virou os ponteiros do relógio no sentido anti-horário, e o entregou para o rapaz. Eduardo o segurou em duvida e olhou para o homem que sorria mostrando seus dentes amarelados de forma assustadora.

“Foi um prazer ajudá-lo. Boa sorte.” Disse o homem abrindo a porta e saindo do automóvel.

“Espere! Quem é você?”

“Sou seu novo Deus! Adeus garoto.” Respondeu o homem entre um riso estridente e zombador, batendo a porta do carro com força.

Eduardo sentiu sua vista escurecer e de repente desmaiou.

Eduardo acordou de repente. Sua visão voltou vagarosamente enquanto o rapaz tentava entender onde estava. Ele olhou em sua volta e descobriu que estava deitado em sua cama, no seu quarto. Era tudo um maldito sonho. Eu sabia. Pensou. O rapaz levantou de sua cama e olhou para o despertado ao lado de sua cama. O relógio marcava 21:36. Três horas antes da morte de Clara. Eduardo agarrou o celular de seu bolso e checou a data. 26 de Março de 2011! Clara morreu as 00:36 do dia 27 de Março.

“Não é possível.”disse Eduardo em voz alta.

Ele acessou as ultimas ligações e viu o numero de Clara. A ultima ligação que Clara havia feito para Eduardo fora as 19:30. Eduardo ficou encarando o numero de clara, enquanto seus olhos lacrimejavam e a dor afundava dentro de seu peito. Finalmente o rapaz apertou o botão verde no aparelho para fazer a ligação. Ele lentamente aproximou o aparelho em seu ouvido. O tom de chamada soava vagarosamente, e cada segundo parecia durar uma eternidade para Eduardo.

“Oi, Du.” Disse a voz alegremente do outro lado da linha.

Eduardo começou a chorar. Seu choro era uma mistura de alegria e desespero.

“Edu, o que aconteceu? Esta tudo bem?”perguntou Clara, preocupada.

Eduardo tentava falar com ele mas não conseguia fazer com que as palavras saíssem de sua boca.

“Edu, fala comigo, por favor. Esta tudo bem?”

“Eu preciso te ver, Clara. Agora, por favor.” Disse Eduardo entre lagrimas.

“Já estou indo, Du. O que aconteceu?” disse Clara, que começara a chorar também. “Me responde. “

“Eu te explico quando você vier pra cá. Tome cuidado, por favor.” Disse Eduardo em desespero.

“Pode deixar, Du. Eu chego em uns dez minutos.” Respondeu Clara.

“Eu te amo.”

“Eu também, amor.” Disse clara desligando o telefone.

Eduardo deitou em sua cama e chorou. A alegria e euforia que sentia dentro de seu peito era algo que nunca havia sentido antes. Aquele momento sobrenatural parecia ser algo dos sonhos. Eduardo tentou lembrar do homem misterioso que havia feito o acordo com ele. Aquele dia parecia ter sido um sonho, ou melhor um pesadelo. Eduardo mal podia esperar para ver e abraçar Clara novamente. Ele não conseguia entender o que acontecera. Mas isso não mais importava, pois agora o rapaz tinha certeza que sua namorada estava viva. Que o acidente, o enterro, e toda aquela dor horrível não passava de um pesadelo. Eduardo tentava lembrar o que havia feito antes de ir dormir, mas não conseguia. A ultima coisa que o rapaz lembrava era do relógio prateado, e do homem misterioso saindo de seu carro, rindo maldosamente.

Eduardo fechou seus olhos e caiu no sono. Minutos se passaram e o rapaz acordou ao som de alguém subindo as escadas apressadamente. Eduardo levantou o mais rápido que pode e correu para a porta. Clara estava parada em frente a sua porta, assustada e desesperada. Ele a encarou enquanto lagrimas desciam pela sua face. Era realmente Clara, seus cabelos compridos presos com um elástico para trás de sua nuca, seus olhos esverdeados, seu rosto fino, suas curvas belas, e sua pele branca como mármore. A garota o olhava com duvida, enquanto Eduardo repentinamente corria para abraçá-la. Eduardo a abraçou e a beijou pelo rosto.

“Edu, o que esta acontecendo? Por favor me explique eu estou desesperada.” Disse Clara tentando se expressar por baixo das beijocas que seu namorado a dava no momento. “Edu, estou falando sério, por favor, me explique.”

“Fique comigo esta noite, eu te imploro. Durma comigo, amanhã você vai para casa, mas por favor, fique comigo esta noite.” Disse Eduardo desesperadamente. “Eu te imploro, Clara. Por favor.”

“Edu, eu não posso. Minha avó esta doente e eu preciso ir visitá-la hoje no hospital. O que esta acontecendo?”

“Clara, por favor. Fique comigo hoje a noite. Não vai fazer diferença alguma. Eu te levo para visitar sua avó amanha. Por favor.”

Eduardo puxou Clara para dentro de seu quarto e fechou a porta. Os dois começaram a se beijar amorosamente. Clara parou de repente e segurou Eduardo pelos ombros.

“Edu, eu sei que já faz um tempo que agente não faz nada desde que nós brigamos semana passada, mas você não me fez passar por todo esse desespero só para agente transar, certo?”

Eduardo sorriu para ela. O garoto não conseguia acreditar que estava sorrindo, e principalmente, não conseguia acreditar que estava com Clara, mas ao mesmo tempo não sabia o que dizer para sua namorada, pois sabia que se ele contasse a verdadeira história, a garota não iria acreditar.

“Claro que não, Clara. Eu prometo. Eu preciso te contar uma coisa, mas antes promete que você dorme aqui hoje. Por favor.”

“Ah, Edu, eu não sei...”

“Eu te imploro.”disse Eduardo beijando-a na testa.

“Se a sua história for legitima, eu fico aqui. Prometo.”

“Certo.”

Eduardo a segurou pela mão e os dois sentaram na cama. O rapaz tentou procurar em sua mente o melhor jeito de explicar sua história inacreditável.

“Clara, aconteceu algo muito estranho. Eu tive um tipo de um sonho em que você morria em um acidente de carro. Tudo era tão claro e perfeito que eu sentia a dor no meu peito, a dor da perda, como se toda a felicidade tivesse sido arrancada de mim.”

“Credo...” Respondeu a garota rindo.

“É sério, amor. Eu não estou brincando. No sonho você morria a meia noite e pouco. Você estava falando com sua mãe no celular e não percebeu que o farol tinha ficado vermelho. Com isso, uma van bateu ao seu lado e você, o motorista, e o passageiro morreram na hora. Eu presenciei tudo; sua mãe ligando para mim dizendo que você morreu em um acidente, seu enterro; tudo mesmo.”

“Nossa, Edu. Que horror!” disse Clara enquanto uma expressão de terror surgia em seu rosto.

“Depois que eu voltei do enterro eu fiquei horas deitado em minha cama pensando que nunca mais seria feliz de novo. Não conseguia compreender como a vida podia ter sido tão injusta com você. Então, de repente, um pensamento surgiu em minha cabeça. Do nada.”

Eduardo parou por um momento e olhou para o chão. Clara o beijou no rosto e o abraçou.

“O que era esse pensamento?” perguntou Clara.

“Eu não consigo explicar a origem dele, pois ele veio do nada. Eu pensei que o único jeito em que iria me livrar de toda aquela dor e sofrimento fosse se eu me matasse. Então eu dirigi até a ponte para me matar. Quando estava prestes a pular um homem horrível me salvou.”

“Quem era?”

“Eu não sei. O cara era muito estranho. Ele parecia gostar de ver o meu sofrimento, e sempre tinha um sorriso maléfico no rosto. Então ele me levou até o meu carro e fez eu assinar um papel, e em troca ele deixaria eu voltar no tempo para te salvar.”

“O que estava escrito no papel?” Perguntou Clara horrorizada.

“Eu não sei, eu não conseguia entender. Parecia que estava escrito em um linguagem estranha. Mas mesmo assim eu assinei.”

“Meu deus, que horror. Será que era o diabo?”

“Eu não sei.” Eduardo ficou pensativo por um momento. “Nossa, isso nunca me passou pela cabeça.”

“Ele provavelmente estava fazendo você vender sua alma em troca de voltar no tempo.”

“Enfim, eu assinei a carta, que misteriosamente desintegrou em minhas mãos, e ele me entregou um relógio de bolso de prata em minhas mãos. Eu disse para ele que queria voltar três horas antes da sua morte. Ele saiu rindo do meu carro, e eu acordei.”

Os dois ficaram em silencio por um momento. Nenhum dos dois sabiam o que dizer. Aquela situação macabra parecia tão real que Clara estava com medo de fazer perguntas. Eduardo a beijou. Os dois deitaram juntos na cama.

“Que horas você acordou, amor?” Perguntou Clara olhando Eduardo nos olhos.

“Exatamente as nove horas e trinta e seis minutos. Três horas antes de você morrer no sonho.”

Os dois se encararam. Uma lagrima desceu o rosto de Eduardo. Clara o beijou e os dois fizeram amor, silenciosamente. Os dois caíram no sono. Eduardo a abraçava como se Clara nunca mais fosse escapar de seus braços.

Eduardo acordou as onze horas do dia seguinte. Clara continuou dormindo. Eduardo desceu, cumprimentou sua mãe com um beijo no rosto e disse que iria levar Clara no hospital para ver a avó que estava com pneumonia haviam cinco semanas. Minutos depois Clara desceu e cumprimentou dona Marta. Os três sentaram-se na mesa e tomaram café. Clara e Marta conversaram sobre o trabalho, a faculdade, e a situação delicada da avó. As 12:25, Clara e Eduardo saíram para o hospital. Dona Marta ficou do lado de fora acenando para o filho e a namorada que partiam.

Um tom de mensagem soou no celular de Clara.

“Edu, minha avó só pode receber visitas até as 13:00. Acho melhor agente cortar caminho pela ponte, é muito mais rápido.”

Eduardo sentiu um aperto no peito, como se a dor que sentia estivesse voltando. Eduardo seguiu em frente e passou pela rua que havia estacionado o seu carro antes. Eram 12:31. Um carro da mesma cor, e do mesmo modelo que o dele encontrava-se estacionado do mesmo lado em que havia deixado no dia de seu sonho. Eduardo ouviu o barulho de Clara abrindo as janelas do carro e colocando metade de seu corpo para fora.

“Saia daí! Você vai acabar se matando!” Gritou Clara de repente para um rapaz que tentava escalar o guarda-corpo da ponte. “Edu, volta! Aquele cara vai se matar!”

Eduardo olhou para o rapaz. Ele mesmo.

“Não Clara vamos embora. Por favor!” respondeu Eduardo em desespero.

“Edu, estou falando sério em frente tem um retorno. O cara vai morrer, Edu.”

Eduardo seguiu em frente.

“Edu, eu estou falando sério!” gritou Clara. “O cara vai se matar.”

Eduardo continuou seguindo em frente.

“Eduardo! O farol fechou!” gritou Clara o mais rápido que pode.

Eduardo seguiu em frente mesmo assim. Ao lado esquerdo do cruzamento, um carro que vinha a 66 quilômetros por hora atingiu o carro de Eduardo em cheio. Eduardo e Clara morreram na hora. O motorista do outro carro sobreviveu. A hora da morte do casal foi registrada como 12:36.

A família de Clara culpou Eduardo pela morte da garota. ‘Se não fosse ela ter dormido na casa dele aquela noite, Clara ainda estaria conosco’ diziam os pais de Clara. Dona Marta perderá seu único filho, e a única pessoa que á fazia feliz. Clara e Eduardo foram enterrados em diferente cemitérios. Amigos e parentes diziam que se os dois estivessem vivos gostariam de ser enterrados juntos e dois anos depois exumaram os corpos e os puseram lado a lado, no mesmo cemitério. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu no dia do acidente. Os dois estavam felizes juntos, e agora estão juntos para sempre.

Dona Marta no dia do aniversario de namoro de Clara e Eduardo presenteia os túmulos com um buque de rosas vermelhas. A mulher olha para o céu e pergunta por que os bons morrem jovem. Dona Marta olha para o nome do filho no tumulo e uma lagrima desce pelo seu rosto, enquanto a dor aperta em seu peito.

Um homem lentamente se aproxima e pousa sua mão no ombro de dona Marta e depois coloca uma única rosa negra no meio do tumulo do casal.

“O senhor os conhecia? “pergunta dona Marta.

“Sim. “responde o homem sorrindo com seus dentes amarelados. “Ao menos os dois tem um ao outro agora.”

O homem vira as costas e caminha para a saída do cemitério.

“Quem é o senhor? “grita Dona Marta.

“Sou o deus que eles merecem, senhora. O deus que coloca tudo em seu devido lugar.”

Dona Marta continua encarando o sobretudo preto encardido do homem balançando contra o vento. O homem caminha com suas mãos no bolso, sem nunca olhar para trás. Dona Marta sente a sensação de já ter visto aquele homem antes, como se fosse um sonho que já não se lembra mais.

Edward Molda
Enviado por Edward Molda em 27/03/2011
Reeditado em 31/03/2011
Código do texto: T2873929
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