Um Conto de Partida
A sala estava repleta de gente chorosa, todos a velar o ente querido que se fora. O garotinho, triste por ver tanta dor, subiu as escadas e entrou em seu quarto. Em meio à tamanha tristeza, ele alegrou-se ao ver sua avó sentada à cama. Ela estava pálida, parecia muito abatida, mas ergueu a cabeça e, olhando-o saudosamente, sorriu.
– Está tudo bem, vovó?
A avó sinalizou um sim com a cabeça e chorou.
– Pois se está tudo bem, vamos lá para baixo dizer a todos que não têm por que ficarem chorando! Vovó... – O menino calou-se por um instante – Ainda vou ver a senhora, não vou?
– Vai sim, meu amor. Um dia iremos nos ver novamente. Um dia...
O garotinho sentou-se ao lado de sua avozinha e pôs a mão, suavemente, sobre a cabeça dela, e uma paz inebriante tomou-lhes os sentidos.
– Você tem medo? – Perguntou delicadamente a avó.
– Tenho um pouco. – Respondeu rouco o menino.
A velha senhora olhava para o neto e este a olhava com o mesmo ar de partida. As palavras ficavam meio que presas, mal conseguiam sair pela boca de ambos. Após alguns minutos mudos, o silêncio se desfez.
– Vovó, eles estão me chamado. Preciso ir agora.
– Vá com Deus, meu amor! – Falou a avó, em prantos – Há um céu maravilhoso esperando por você do outro lado.
Como um facho de luz intenso, aquela doce e imaculada alma criança se foi em paz.