Sacrifício
O natal estava se aproximando, mais uma vez honraria a tradição de passá-lo junto de minha família. Aquela data não era de todas a minha preferida, nem chegava perto de ser. Entretanto, eu tinha que ir, já que se tornara uma obrigação ante a uma promessa proferida. Arrumei minha mala e parti receosa.
A viagem demorou algumas horas a mais do que de costume, o mau tempo me pedira maior cautela na estrada. Quando cheguei, só queria descansar, então me deitei, não demorei muito para adormecer. Em meio a sonhos conturbados, despertei. Já era tarde, a lua tomara o lugar do sol e eu estava atrasada com meu cronograma. Resolvi que antes de ir direto para o meu destino, passaria em algum barzinho no caminho. Naquela curta parada para lanchar, pude ouvir que estava acontecendo algo estranho durante a madrugada que começara a perturbar os moradores, ainda que estes não estivessem cientes dos fatos, mas dos boatos. Não fiquei para decifrar o resto da conversa.
Não chegava a odiar aquele ambiente, muito pelo contrário. Ler nas campas os nomes das pessoas, os indícios de que sobreviveram de certa forma, me consolava. Podia ainda sentir, sem que quisesse admitir, bem no fundo de minha alma, uma certa felicidade por estar viva entre tantos mortos. Porém, antes que eu pudesse prestar minhas homenagens anuais, algo chamou a minha atenção. Era um grupo de aura sombria, vestiam mantos negros com capuz e se moviam silenciosamente na calada da noite.
Aproximei-me sorrateiramente para observá-los. Sobre um pentagrama invertido, símbolos foram desenhados, quatro velas pretas acesas, tudo sendo preparado no sentido anti-horário. Um sino foi então tocado nove vezes, palavras de invocação foram ditas. E após beberem de um cálice, o círculo se incendiara.
Uma sensação de terror tomou lugar em meu coração, queria fugir, correr, sair dali. Mas algo me impedia. Sentia como se estivesse perdendo meus sentidos, minha consciência. Foi então que desmaiei. E no segundo seguinte, eu me encontrava lá, sobre um altar, despida e prestes a servir como sacrifício. Tendo meu coração arrancado no solstício de inverno, cumpri com tal destino.