O Carteiro e os Fantasmas
Logo que o dia amanheceu, Antônio já tinha pegado a lotação para ir ao seu trabalho. Eram as últimas entregas, ou melhor, as últimas semanas de trabalho antes da sua aposentadoria tão esperada. Era um homem feliz, realizado e de bem com a vida! Chegando à Agência Central do Correio, no setor de entrega, pegou a sua cota de cartas do dia e saiu, como sempre, apressado. Chegando à Rua do Destino, Bairro Vila Nova, parou o seu veículo de trabalho, a velha bicicleta alemã, encostando-a no poste passando a corrente de segurança, logo após começou a entregar as correspondências nas devidas casas. Faltando uma, que só tinha o destinatário especificamente, procurou a residência que se destinava aquela correspondência e pode perceber que estava totalmente abandonada. Mesmo assim abriu o portão e colocou a carta por baixo da porta. “Missão cumprida” pensou alegremente! Uma semana depois mais uma carta endereçada para a mesma casa abandonada. E isso foi se repetindo por vários dias até que num certo momento, dia de sua folga, ele mesmo foi de novo até a casa abandonada para verificar se existia alguém morando lá, ou devia ser que nos horários que entregava as cartas não estava lá o seu “relaxado” proprietário. A “espionagem amadora” durou por volta de uma hora até o momento em que um dos moradores da rua aproximasse e perguntasse o que ele queria:
___O senhor está a procurar alguém que mora nesta rua?
Falou uma senhora o olhando da cabeça aos pés.
___Sim. Eu trabalho no correio, e sendo assim, há dias que eu venho entregando as correspondências nesta casa. E o que mais me intriga é que eu nunca encontro ninguém em que eu possa entregá-las! E por esse motivo é que eu estou aqui. Mas já que eu preciso saber sobre o que acabei de te dizer, você não gostaria de me ajudar?
___Olha! Eu não sei se poderei te ajudar o bastante. E nem sei se você levará o que eu vou dizer a sério!
___Como assim?
___É que há décadas que esta casa está sem nenhum morador, e por isso que eu te disse que não sabia se poderia te ajudar! Agora você deve saber que estar perdendo tempo e que não adianta ficar aí plantado em frente dessa casa como se estivesse sondando para roubá-la. É melhor seguir o meu conselho.
___Obrigado. Você tem toda razão. E nem é o meu papel fazer isso. Devo só entregar as correspondências, e pronto! Bem... , vou-me indo. Até outra hora!...
Conformado, saiu naturalmente como se nada tivesse acontecido de anormal. Digo “anormal” pelo motivo de que um experiente carteiro não se deixaria levar por uma curiosidade tão medíocre assim. Faltando apenas três dias para iniciar a sua nova fase da vida, a fase de um trabalhador que serviu ao seu país, em especial, aos seus cidadãos dignamente, a tão esperada aposentadoria! Foi precisamente no último dia de trabalho que tudo mudou: alguém estava dentro da casa abandonada!! Ele finalmente teve a oportunidade de entregar em mãos a última correspondência, e para a sua felicidade, ao proprietário “relaxado!” Bateu três vezes na porta. Nada de ninguém atender. Voltou a bater com mais força. Nada de contato pessoal. Resolveu bater palmas na intenção de ser ouvido no interior da casa. Viu que todas as suas tentativas foram em vão. Não tendo alternativa, voltou a colocar a correspondência em baixo da porta. Já estava de volta para casa quando encontrou a velha senhora no meio da rua. Nisso ela lhe dirigiu a palavra:
___Finalmente acreditou em mim. Veja que aquela casa está completamente vazia. Engraçado nisso tudo é que agora eu pude perceber que você é o nosso carteiro há anos. E a aposentadoria sai ou não sai?
___Sim, hoje é o meu último dia de trabalho na Agência do Correio. A partir de amanhã serei um homem aposentado!
___Muito bom! Mas agora eu preciso voltar para a minha casa. Ser dona de casa não é fácil não!
Ela retornou para a sua casa como tinha dito. Ele, com um ar de despedida, retornou para a agência onde iria recolher alguns pertences e de lá para o seu lar. Finalmente o seu último trabalho foi realizado com sucesso! Estava cheio de planos na cabeça. Queria ainda realizar vários sonhos que não pode realizar devido ao ofício de carteiro. Desde pequeno sonhava que queria ser saltador de pára-quedas. O seu segundo maior sonho era ter uma cabana em plena selva. E o terceiro e último era conhecer o deserto do Saara! Vinha juntando algumas economias há anos e anos, ininterrupto. Há um mês precisamente tinha ido a uma agência de turismo, uma imobiliária e a uma escola de pára-quedismo. Teve êxito na imobiliária, pois encontro a cabana tão sonhada num preço excelente; fez um pacote turístico para o deserto do Saara, e, finalmente se matriculara como aprendiz de pára-quedista. O primeiro passo dado em direção foi passar uma semana na selva, em sua cabana. Levando contigo esposa, filhos e um amigo íntimo da família. Amigo este que já foi fuzileiro naval especializado em “sobrevivência na selva”. Assim todos se sentiriam mais seguros. Passando os programados retornaram para as suas casas. Estavam felizes e realizados! Na escola de pára-quedismo teve grande êxito. Tinha completado seus vintes saltos e recebera o diploma de conclusão do curso. Agora só restava a excursão ao deserto do Saara! Vendo uma data em que todos poderiam se ausentar por uns dias, devido também ao início das férias das crianças. A viagem foi marcada para o décimo terceiro dia do mês de Dezembro. Faltando uma semana antes recebeu uma visita de um homem que se dizia funcionário da agência de turismo e que vinha conferir se estava tudo certo e que poderia marcar a hora e data exatas. Concordando, ele foi embora se despedindo com as seguintes palavras:
___Boa viagem!!! Não se esqueça de ninguém!...
O que realmente é estranho para um funcionário de uma empresa de turismo, acostumado todos os dias a ter contato com pessoas e experiente, recomendar que “não se esqueça de ninguém”.Era uma falta de delicadeza de sua parte chamar um estranho, indiretamente, de “irresponsável”. Mas como a vida de carteiro é dia a dia tendo contato com todo tipo de personalidades, não seria um que o tiraria do sério! Levou na esportiva!...
Chegou o dia da viagem. Toda a sua família estava pronta para a grande viagem dos seus sonhos! O seu grande amigo, o fuzileiro naval aposentado, já se encontrava no aeroporto. Conferiu as passagens e ficou aguardando-os no saguão. Finalmente todos chegaram eufóricos e nisso o Carteiro foi pegar as passagens para distribuir com os seus familiares. Após as passagens serem conferidas pelo funcionário da agencia de viagem embarcaram na aeronave. No horário marcado levantou vôo. Todo percurso foi normal. Finalmente pousou no Cairo, capital do Egito. De lá foram para o hotel. À noite fizeram a primeira visita turística a um dos grandes monumentos egípcio: a Pirâmide de Quéops. Bem no seu interior o carteiro teve uma estranha sensação de que estava sendo perseguido. Olhava para todos os lados e via que estava tudo normal. Num dos corredores que dava acesso a urna funerária dos faraós, alguma coisa te deu um solavanco em seu braço esquerdo, dizendo em seu ouvido: “Acorde-me!..., ou você irá dormir para sempre!!!” . O pobre carteiro ficou apavorado pensando que se tratava de uma “maldição!”. Com vergonha de comentar com os seus familiares o acontecido dentro da Pirâmide, resolveu deixa em sigilo por enquanto. Depois que visitaram toda a parte interna do monumento egípcio, Pirâmide de Quéops, voltaram para o hotel. Foram jantar e após descansar em seus quartos. Todos dormiram cedo. O Carteiro estava com o sono muito perturbado então resolveu ir para a varanda do quarto observar a beleza do grande deserto à noite! Olhando para o horizonte teve uma visão muito estranha! Uma caravana, sobre uma forte luz do luar, mais parecida com aquelas dos contos de “mil e uma noite”, passava numa distancia não mais de duzentos metros. E quando menos esperou a caravana sumiu em sua frente. Colocando a mão na cabeça começou a falar em voz alta que “o deserto estava te fazendo mal...” Começou a duvidar de sua sanidade mental. Resolveu trocar de roupa e ir para o bar do hotel para tomar uns drinques. No lado de fora existia uma extensão do bar com algumas mesas postas em cima da areia do deserto. Uma proteção de acrílico servia como uma parede transparente para reter o frio trazido pelo vento da noite no deserto. Quando já se encontrava mais relaxado uma mulher com trajes típicos de uma dançarina da “dança do ventre” sentou em sua mesa. Ficou surpreso pelo atrevimento daquela mulher desconhecida. Começou a ficar preocupado. O que diria a sua mulher se por acaso o procurasse para saber onde estava e o porquê estava com aquela companhia? Foi nessa hora que se levantou pedindo licença em sua própria língua e foi em direção do bar para acertar as contas. Não dando mais do que vinte passos a mesma mulher já se encontrava por trás do balcão a sorrir para ele, um sorriso amigável e sedutor. Era uma linda mulher puramente egípcia! Mas como um homem de responsabilidade resolveu voltar para o seu quarto e dormir um pouco antes que a sua esposa percebesse a sua ausência. Saindo do elevador teve um susto. A mulher de novo em sua direção. Apressando os passos para fugir da sua insistência, ele finalmente conseguiu abrir a porta e entrar. Foi até a varanda para ver se estava tudo bem lá fora. Foi quando olhando para a piscina lá estava ela totalmente nua a mergulhar em suas águas. Ficou sem entender como era rápida a sua locomoção, e, como um hotel permite aos seus hóspedes tomar banho de piscina nu, ou melhor, nua!
Na manhã seguinte, voltando para o bar, na intenção de saber quem era aquela mulher, por medida de segurança, devido ao seu comportamento estranho e até assustador, procurar informação a respeito com os garçons que fizeram o plantão noturno. Mas para isso era preciso que alguém falasse a língua nativa bem. Que não era o seu caso. E também qual seria o próximo plantão dos mesmos. Sendo assim resolveria a questão.
Toda a sua família e o seu amigo fuzileiro já tinham descido para o desjejum. Ele também sentou para tomar o café em família. Era só alegria e comentários a respeito da visita na noite anterior ao magnífico monumento egípcio! Todos não paravam de admirar e questionar como foi que uma civilização tão antiga conseguiu construir com tanta beleza capacidade a Pirâmide de Quéops? Quando todos já tinham desocupado a mesa o guia turístico se aproximou e comentou que nesta manhã iriam visitar o Museu do Cairo. Ficaram todos apreensivos, pois se tratava da história da formação das dinastias egípcias e todas as obras de artes que fizeram a história materializar-se. Chegando, o carteiro logo se aproximou do guia e começou a perguntar sobre as “maldições dos faraós”. Gentilmente ele o respondeu que deixaria para outra hora por que se tratava de uma história muito detalhada. Precisaria de um tempo mais específico, fora do seu expediente. Quando terminaram a visita ao museu, o carteiro se aproximou do seu amigo fuzileiro e comentou:
___ Preciso lhe contar algo. Você precisa acreditar em mim. Prometa-me que o que eu vou te contar ficará em segredo, só nós dois saberá da verdade. Isso é muito sério!... Não é qualquer homem que tem a coragem de abrir o seu coração assim. A minha alma está repleta de emoções!... Desde que eu cheguei aqui no Cairo vivo perturbado interiormente. E...
___Calma meu amigo!! Esse seu papo está muito estranho!... Você está tendo uma crise existencial na área sexual? Se estiver, tudo bem! Sou um cara de cabeça aberta e...
___Não!... Não!..., não é nada disso. Eu acho que estou vendo, ouvindo e pressentindo a presença de fantasmas?
___De quê!!!
___Isso mesmo: FANNN... TASSS... MAAA!...
O seu amigo fuzileiro começou a se preocupar, achando que o sol do deserto fez muito mal a sua saúde, ou seja, de tanto ficar exposto aos raios solares nas areias do deserto o seu amigo carteiro ficou meio “lelé”, “o sol comeu o seu juízo!” Mesmo assim fingiu que estava acreditando na sua história.
___Me relata como esses “Fantasmas” apareceram para você?
___A primeira vez eu ouvi uma voz que me advertia dizendo-me: “Acorda-me!..., ou você irá dormir para sempre!! Na segunda vez, em forma de nômades, atravessavam as areias do deserto. Eram dezenas deles. A terceira vez uma dançarina da “dança do ventre” me perseguia por todo o hotel e aonde eu ia ela estava lá me esperando. E a danada ainda foi tomar banho peladinha na piscina no mesmo momento em que eu estava observando o ambiente. Sabia que eu a olhava. Mas sabe o que mais me intrigou? Ela nem ligava, sorria para mim totalmente provocante! Está vendo o que está acontecendo em minha vida é muito sério?
___Com certeza!... Acho que você precisa de ajuda!
Dizia o Fuzileiro com certo questionamento, olhando-o como se estivesse fazendo uma análise “Freudiana”. Estava mais preocupado ainda com o seu amigo!... A partir desse momento sentiu a necessidade de ficar mais atento aos seus passos. Não mais se distanciou do Carteiro, o seu fiel amigo!
De volta ao hotel todos foram para os seus quartos na intenção de se prepararem para o almoço. O almoço começava a ser servido às 10h: 00 min. da manhã. Toda a família desceu precisamente às 10h: 45m. Foi um almoço totalmente tranquilo. Após terminarem a refeição resolveram passear na parte externa do hotel. Por medida de segurança ninguém poderia se afastar mais do que trezentos metro de distância. Ainda existiam muitos “ladrões do deserto” a solta! Estavam todos seguindo as normas de segurança, passeavam tranquilamente sobre as areias do Saara quando o Carteiro de repente eufórico começou a gritar: “Deus!!!... , quantas múmias!... Ai meu Deus elas vão nos pegar...” Gritava sem parar fazendo com que todos ficassem apavorados. Algumas crianças que por ali também passeavam entraram em pânicos, choravam desesperadamente. Idosos corriam sem saber o que estava acontecendo de verdade. Alguns começaram a repetir: “Múmias! Múmias! Múmias! Era a revolução do medo! Foi nessa hora que o Fuzileiro com a sua experiência de “Homem de Guerra” usou um método desconhecido para parar com toda aquela bagunça:
___Olhem a bola de fogo que está caindo do céu! Olhem a bola de fogo que está caindo do céu! É o fim dos tempos!... Eu sou o “Jesus de Nazaré!!!”
De repente todos pararam e ficaram a olhar para ele sem entender do que ele falava, ou melhor, o que ele falava quando se referiu que era “Jesus de Nazaré”. Não entendendo bem o seu método, todos de sã consciência viram que o que ele provocou foi uma total paralisação naquela loucura. Já no hotel sendo atendido pelo médico responsável o Carteiro recebeu alta. E para surpresa de todos, estava tudo normal com ele. O que ficou mesmo como doido varrido foi o Fuzileiro diante todos os turistas e funcionários. Nesse mesmo dia resolveram ir a umas lojas para fazerem compras de produtos artesanais local. Lá ficaram por toda à tarde. O guia resolveu chamar todos para o interior do furgão, pois precisavam voltar para o hotel, se aproximava uma tempestade de areia e ficaria difícil o retorno se fossem pegos no meio da estrada sobre o deserto. Mas nada aconteceu que viesse provocar uma tragédia. O Fuzileiro deu um toque para o Carteiro que precisaria falar com ele. Era um assunto muito importante. Finalmente quando chegaram ao hotel foram os dois para abeira da piscina para terem a conversa:
___Meu amigo, quantos anos faz que nos conhecemos?
___Bem..., pelas minhas contas mais de trinta anos.
___Então veja o que eu vou te dizer! Não sei qual foi a sua fantasia sobre múmias que você não conseguiu realizar na sua infância! Viu o terror que provocaste nas velhinhas que quase morreram de ataque cardíaco em pleno deserto? E no fim de tudo levei os apelidos de “O Santo Maluco”, O maluco do Saara!”, “Terrorista de Velhinhas!”, e , para piorar, Blasfemador Maluco Latino!!”. Então venha me explicar que diabo aconteceu com você pra sair gritando enlouquecido “múmias...,múmias...,múmias.... ?
___Eu sabia que não ia acreditar se eu contasse o que eu venho vendo desde que cheguei aqui. Eu acho que eu tenho mediunidade! Só é esta explicação cabível para poder explicar o que eu vejo é real e não uma alucinação. O médico disse que nada está anormal comigo. Tudo ok!
___Pelo o que eu estou vendo agora o seu papo é de gente normal. E sei o quanto você é equilibrado mentalmente. Mas ainda devemos ter cuidados. Sei lá! de repente você está tendo surto de maluco, não?
___Não se preocupe. Qualquer loucura minha amarre-me e me jogue no rio Nilo!!
Realmente estava confuso agora saber se ele estava normal ou estava iniciando uma fase de loucura em sua vida. Para quem sempre viveu regado de normas, compromissos, responsabilidades com a família, religioso, cumpridor do seu dever como cidadão e homem de grande moral, ficar louco agora seria o fim da picada em sua vida.
Depois da conversa que os dois tiveram nada mais aconteceu de “espantoso” na excursão. Foi marcada para o último dia de estada na cidade do Cairo a visita ao túmulo e múmia do Faraó Tutancâmon. Estavam muito apreensivos em conhecer esse lendário Faraó! Tudo ocorreu em plena harmonia até o momento em que chegaram a Tumba de Tutancâmon. O Carteiro, meio desconfiado, seguia todo o percurso bem atrás de todos. O fuzileiro em instante em instante dava uma olhadinha para o seu amigo, para conferir se tudo estava bem com ele. Numa das galerias estava sem iluminação e por isso era preciso cortar caminho por outra. O guia pediu que todos dessem as mãos para que ninguém se perdesse. Assim todos fizeram. Como estava por último o Carteiro deu a mão que foi segurada por outra. Ficou se sentindo mais seguro, pois alguém daria retaguarda se caso precisasse diante de uma suposta “assombração faraônica!” . Finalmente estavam na galeria onde Tutancâmon se encontrava. De repente o Carteiro sentiu que a mão que segurava a sua não a largava. Virou a cabeça e se deu com a “Tarada dançarina da dança do ventre” diante dos seus olhos. Não conseguia falar nada, não tinha força para dar um “piu”. E para piorar, ela começou a tirar as suas roupas até ficar totalmente nua em sua frente. Não vendo que ninguém a notava, ele viu que realmente se tratava de uma alma de outro mundo! Já apavorado, sabendo que nada poderia fazer para se livrar daquela alma, mesmo que tentasse sabia que não receberia ajuda, resolveu perguntá-la o que ela queria. Discretamente recuou um pouco indo para o lado mais escuro da galeria falando em voz baixa:
___Se queres algo de mim, diga-me e eu farei o possível por você. Tenha fé, alma perdida!
Ela apenas sorriu e saiu sem nada falar desaparecendo em plena escuridão. Sem saber o Carteiro não tinha percebido que o mesmo lugar que a aparição ocorreu se encontrava o guia da excursão. Sem entender o motivo do diálogo, mas entendendo o discurso na língua materna do Carteiro, por infeliz hora, o danado do guia era gey! Com isso ficou se sentindo “cantado” pelo Carteiro. Daí em diante ficou o guia “caidinho”, cheio de amor!
No momento que estavam saindo da galeria do Faraó Tutancâmon, o Carteiro teve outro contato espiritual: o próprio Tutancâmon agarrou em seu braço esquerdo e com um olhar de pavor lhe disse:
___Você precisa me fazer um favor? Estou sendo traído por uma das minhas mulheres. A safada é uma vadia irrecuperável, quenga de primeira! Não posso me distrair que ela bota um par de pontas em minha cabeça. Eu não agüento mais esse sofrimento!... Não sei o que fazer com essa mulher. Dei ouro, jóias, carinho, amor, ombro amigo, mas ela nem aí com os meus sentimentos. O que eu quero é que você na próxima lua cheia em pleno deserto do Saara, a meia-noite precisamente, com um cálice de pura prata pura, colocando vinho até a sua metade, invoque estas palavras: “Ó lua dos deuses alados! Luz que transforma o coração em poesia do amor sensível, venha me transformar no que o meu mundo interior me aprisiona,solte-me a fênix enlouquecida de liberdade! Só assim essa mulher que está fora de mim, venha para o interior dessa minha solidão me transformando em pura felicidade divina!!! Depois disso vá embora e nunca mais volte ao deserto do Saara.
O Carteiro teve agora a certeza que era um dom espiritual que tinha se manifestado nesse momento de sua vida. Não sabia o porquê disso, mas resolveu seguir os passos dado pelo seu novo “guia espiritual”! “Estava otimista principalmente em saber que ficaria livre da “puara” do Faraó Corno”. O único problema que te afligia era explicar a sua família que precisaria ir ao deserto a meia-noite para fazer um despache faraônico! Por que existia uma “quenga faraônica” que necessitava abaixar o fogo por que o Tutancâmon era caidásso pela tal “fulaninha”. Assim que chegou ao hotel pediu para um funcionário que lhe comprasse um cálice de prata, e, que mantivesse sigilo sobre a compra. Quando todos já se encontravam dormindo o Carteiro saiu nas pontas dos pés, desceu pelo elevador de serviço e saiu em direção das areis do Deserto do Saara a meia-noite precisamente. Estava morrendo de medo. A única companhia que pode perceber era o vigia da piscina que se encontrava dormindo em pé. Tirou do bolso o papel que tinha anotado os dizeres do Faraó e colocando vinho no cálice começou o “ritual macabro”! De repente apareceu do nada a dançarina. Ela estava com os olhos tristes. O seu sorriso não existia mais em seu semblante. Algumas lágrimas escorriam dos cantos dos lindos olhos azuis! E foi nessa hora que apareceu o Faraó segurando na mão de sua amada esperando as sagradas palavras ditas por ele. O Carteiro começou o ritual e quando terminou os dois sumiram em um círculo de luz azul diante dos seus olhos incrédulos! Não tendo nada afazer mais no deserto voltou para o seu quarto e finalmente conseguiu pela primeira vez dormir em paz, isto é, sem nenhuma perturbação espiritual.
De manhã, após o café, foram pegar as suas bagagens e se dirigiram para o aeroporto. Iriam partir de volta para a sua terra natal. Dentro da aeronave, todos já acomodados, o seu amigo Fuzileiro lhe dirigiu a palavra em um tom confidente:
___Que loucura foi aquela lá no meio do deserto ontem, por volta da meia-noite, com aqueles dois fantasiados de rei e rainha?
___Então você também viu? Por que não se aproximou?
___Eu pensei que fosse um lance de fantasia sexual, sei lá!
___Você é um grande amigo mesmo..., né? “Jesus de Nazaré”!...
___Ta brincando! , Ta brincando! Não está mais aqui quem falou!!!
Fuzileiro ficou toda a viagem pensando o que fazia aquele casal esquisito por volta da meia-noite bebendo com o seu amigo no meio do deserto? E também quem era aquela mulher que ficou a te olhar na tumba do Faraó Tutancâmon? E quem foi à outra mulher que passou a última noite transando com ele insaciavelmente, dizendo em seu ouvido: “Eu sou a preferida de Tutancâmon!...”
Chegando finalmente ao seu país de origem o Carteiro aproveitando o embalo de aventureiro passaou mais uma semana em sua cabana na floresta. Começou a participar do Clube dos Paraquedistas Amadores. Seu amigo Fuzileiro resolveu comprar um barco e sair pelo mundo a fora. A sua mulher se tornou aluna de uma academia de dança, onde, a sua especialização era “A Dança do Ventre!”, pedido feito pelo seu apaixonado marido. Os dois filhos terminaram a universidade, um se formando Arqueologia, o outro, História Geral. Quanto ao cálice de prata pura ninguém sabe o que aconteceu. Diz uma lenda recém-descoberta, em um pergaminho com mais de dois mil anos, encontrado nos escombro de uma galeria que estava submersa a quinhentos metros de profundidade, que um homem viajante do tempo brindou com um famoso faraó e sua intocável mulher divina! ( F I M )