A Lenda do Cavaleiro Negro (Final)
Fiquei em pé, imediatamente. Um cavalo se aproximava e eu me desesperei. Se fosse o cavaleiro negro, então ele me levaria embora! E eu não estava interessada em virar uma lenda. Pus-me a correr, apavorada, meu coração parecia querer saltar pela boca. Os galopes se aproximavam e eu nem ousava olhar para trás. As únicas coisas que se escutavam naquela noite escura era o som dos cascos do animal e a minha respiração arfante.
Na minha desabalada corrida, tropecei em alguma coisa e me estatelei no chão. Antes que eu conseguisse me levantar, o maldito cavalo parou bem ao meu lado. Paralisada pelo terror, não consegui sequer abrir a boca para gritar por socorro. E, apesar do cavaleiro não estar vestido de preto, eu tinha absoluta certeza de que seria raptada naquele momento.
- Venha, levante-se - disse o homem, calmamente - Eu levo você para a casa da sua avó.
Aos poucos, fui reconhecendo quem ele era. O bonito tratador de cavalos desceu do cavalo e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Fiquei desconcertada. Se Cláudia não estava com ele, estaria com quem, então?
- Eu... eu estou procurando minha prima.
- Bem, talvez ela não queira que você a encontre - retrucou o rapaz, com um sorriso malicioso e me pondo em cima do animal - Está frio demais para você ficar perambulando por aí. E sua avó não vai gostar nem um pouco.
Tomamos o rumo da casa e por alguns momentos eu até quis que ele me levasse para dar uma volta pelas redondezas. Nunca havia conhecido um homem tão gentil... Porém, para minha tristeza, ele me deixou exatamente na porta da casa e, sem dizer uma palavra sequer, foi embora sem esperar meus agradecimentos. Fui direto para o quarto, nas nuvens. Cláudia ainda não tinha aparecido e Jaque quase roncava. Deitei na cama, apaixonada, e sonhei a noite toda com o empregado da minha avó.
No outro dia pela manhã, encontrei minhas duas primas na mesa do café. Quando a Jaque saiu para atender ao celular, não aguentei a curiosidade. Baixinho, perguntei para a Cláudia:
- Como foi seu encontro com o cavaleiro negro?
Ela me olhou, enfezada:
- Não é da sua conta! Mas você... parece que sua noite foi incrível.
- Nem tanto quanto a sua - repliquei, sem esquecer meu belo herói.
Até hoje não sei o que aconteceu com Cláudia naquela noite. Nesta mesma manhã, ela simplesmente fez as malas e foi embora, sem dar muitas explicações. Eu fiquei mais alguns dias na fazenda, porém pouco vi o tratador, o que me muito me frustrou.
Na véspera da nossa partida, eu e a Jaque estávamos prontas para irmos dormir, quando escutamos o som dos cascos de um cavalo do lado de fora. Olhei para Jaque. Era uma noite fria e sem luar. Excitada, sussurrei:
- O cavaleiro negro veio se despedir de nós!
- Boba! Ele nunca existiu!
- Claro que existe! Por que você não vai lá fora conferir?
Para minha surpresa, Jaque respondeu, impetuosa:
- Vou mesmo! Deve ser um dos empregados da nossa avó.
Ainda tentei conter minha prima, mas ela saiu porta afora, em direção à varanda, de pijama. Fiquei roendo as unhas, esperando, no quarto, que minha prima retornasse.
Jaque nunca mais voltou.