A Lenda do Cavaleiro Negro - Parte I
Eu e minhas primas estávamos reunidas ao redor da minha avó, em uma noite fria de inverno, na fazenda dela. Eram férias e um dos nossos passatempos preferidos era escutar suas histórias fantásticas. Naquela noite a lenda de um certo cavaleiro negro que raptava meninas da nossa idade estava nos deixando de cabelos arrepiados.
- E este cavaleiro existe mesmo? - perguntei, com a boca cheia de pipoca.
- É claro que sim! - respondeu vovó, efusivamente e quase ofendida - E ele assombra até hoje nossas estradas e fazendas. Não ousem sair de noite por aqui! Ele ataca nas noites mais escuras.
- Nossa - exclamamos, entre surpresas e excitadas.
Minha prima Claudia, que na nossa visão era a mais avançadinha, comentou:
- Puxa, eu adoraria conhecer este cavaleiro! Vó, ele é bonitão? Tipo um ator de cinema?
- Como vou saber? - protestou minha avó - Ele se veste com uma longa capa e cobre a cabeça com um chapéu enorme. Suas vestes são pretas, assim como o cavalo. Portanto, se vocês escutarem galopes em uma noite sombria, fujam! É ele! Faltam-me dedos para contar as meninas que este diabo levou.
Mais tarde, na hora de dormir, continuávamos impressionadas e empolgadas com a história. Jaque, minha prima mais velha, desdenhou:
- Não acreditei em nada.
- Como não? - retruquei - E as meninas que desapareceram?
- Devem ter fugido com algum namorado bem real. Tudo isto não passa de lenda.
Cláudia não se convenceu e replicou:
- Pois eu acreditei em tudo. E adoraria que ele me levasse.
- Para ser mais uma no harém desse tarado?
Antes que surgisse uma briga, intervi e fomos dormir. Sonhei que tinha sido raptada pelo cavaleiro negro e me acordei impressionada com a realidade do meu sonho.
No café, longe dos ouvidos da Jaque, Cláudia me revelou:
- Sonhei com o cavaleiro negro!
- Sério? - perguntei, sem coragem de revelar que havia sonhado com o mesmo personagem - E como foi?
- Excitante! E Sabe o que eu vou fazer esta noite?
Cláudia estava com os olhos brilhantes.
- O quê?
- Vou sair à noite e encontrá-lo!
- Você é doente! Ele vai levar você e nunca mais a trará de volta!
- Pois é isto que eu quero - ela respondeu, sacudindo os ombros, em sinal de pouco caso para minha preocupação - Imagine, um cavaleiro negro me levando embora nos seus braços fortes...
Escutamos passos e Cláudia cutucou meu braço, alertando:
- Não conte nada para a Jaque. Ela é uma sem graça.
... Continua ...