Passos & Nevoa

O telefone toca e atendo ele as pressas. Estava no trabalho, muito ocupada, e não podia perder tempo. Era o meu filho, estava preocupado por que eu não vinha logo para casa, disse a ele que a empregada ficaria até mais tarde, pois a mamãe teria que trabalhar mais hoje e ele não devia esperá-la acordado.

Termino o meu projeto, tudo pronto para a apresentação de amanhã aos investidores, olho o relógio e me assusto, já se passa das 23 horas, a cidade era bem tranqüila, por segurança havia o toque de recolher as 24 horas, fecho a porta do escritório pois fui a ultima a sair, entro em meu carro, tento ligá-lo e não consigo, ele já estava mostrando falhas a semana inteira, “tem que quebrar justo agora?” penso comigo mesma. Felizmente minha casa era perto, desanimada deixo o carro e começo a caminhar na rua, que estava escura, era muito frio, se via um pouco de nevoa que subia até o joelho, ajeitava meu cachecol de lã em torno do pescoço.

Passados aproximadamente 10 minutos, não faltava muito para chegar em casa, começo a ouvir passos, quem estaria na rua essa hora? O toque de recolher daqui a pouco começaria, nem carro se via, todas as lojas abertas e a maioria das casas fechadas e com luz apagada, eu escuto o barulho dos passos proximos, aquele som parece entrar na minha cabeça e era só aquilo que eu escutava, sentia subir a agonia em meu pescoço, e um frio percorrer toda minha espinha, aperto o passo, segundos depois escuto o outro passo apertar, tento seguir virando em ruas diferentes fazendo contornos para ver se talvez ele não tivesse realmente atrás de mim, mas parecia cada vez mais próximo, a nevoa parecia ter aumentado propositalmente para complicar a minha chegada em casa, eu olhava para trás e não via nada, o que era aquilo? Meu Deus por que eu não levei aquele maldito carro para um mecânico na manhã do dia anterior? Eu sabia que não era bom andar tarde na rua, nunca concordava com o toque de recolher queria chegar tarde de algumas festas, mas agora o motivo pelo qual colocaram o toque estava me perseguindo, e as possibilidades brotavam na minha cabeça vários pensamentos do que seria aquilo, um ladrão querendo levar tudo, um psicopata atrás de uma nova vitima, um estuprador e até a hipótese de ser alguma espécie de criatura não humana como um monstro vinham, pensamento ridículo, mas na hora do sufoco não é de se espantar que isso passe pela cabeça, eu ouvia algum som, era como se fosse uma boca soltando um gemido seco, minhas pernas tremem, de frio e de medo, resolvo largar meus sapatos de salto alto, escuto os passos acelerarem muito, meu Deus ele esta correndo!, olho para trás e vejo um formato na nevoa mas não perco tempo esperando e corro também, minha casa muito próxima já podia ser vista, abro o portão as pressas e corro até a porta, começo a ficar tranqüila era só abrir a porta e trancar, estaria segura, poderia ligar para policia, vejo minha bolsa aberta, acho estranho, mas começo a procurar, reviro ela e nada, desespero, os passos estavam próximos demais, eu nem conseguia olhar para trás de tanto medo, jogo as coisas de dentro da minha bolsa no chão quase chorando, quando sinto, era uma grande mão de um homem, me viro com os olhos arregalados e já ia gritar, mas parecia que minha voz não saia com o medo, ele segura a minha mão e me da uma chave, espera, a minha chave, faz uns sinais com as mãos e geme alguma coisa, concluo que era um mudinho, suas roupas sujas parecia dormir na rua, ele sorri para mim e vira as costas, e eu não sei se desmaio ou falo obrigado para o pobre moço.

Douglas Vieira
Enviado por Douglas Vieira em 26/02/2011
Reeditado em 26/02/2011
Código do texto: T2816249