O FAROL

Oceano Atlântico, 750 milhas do continente americano. Estamos teoricamente na travessia; praticamente perdidos no mar em plena escuridão. Há rumores da existência de sinistros eventos que ocorrem sem explicação alguma com embarcações que naufragam nessa área. Em poucos minutos vamos desvendar um mistério nunca antes revelado. Com certeza algo que mexe intensamente com nossa imaginação e sentidos. Estaremos a bordo do Goyer A-490 um luxuoso cruzeiro que deixou a costa dos Estados Unidos semanas atrás rumo a Portugal e ele será nosso passaporte para os mistérios nas profundezas do oceano...

O Farol

(Um conto escrito por Ravell Souza Lopes)

- Dick! O que está fazendo seu imprestável? Já te falei que não quero você por aqui. Ainda mais a essas horas.

- Estou vigiando o mar, senhor. Dizem que ao anoitecer coisas estranhas acontecem nessas águas.

- Ora, deixe de bobagens e vá lavar o convés. Tudo isso é lenda urbana.

- Acha mesmo, comandante Tracy?

- Não há maldição nenhuma nessas águas. O que existe é um bando de marinheiros ociosos com muita asneira na cabeça. Vamos lá! Vá fazer seu serviço. (bradou o comandante)

O jovem marinheiro Dick saiu às pressas em direção à área de serviço em busca do velho esfregão. Enquanto isso um homem alto trajando o uniforme da marinha interceptou o comandante Tracy naqueles longos corredores...

- Capitão Grimaldi! O que faz aqui?

- Comandante, quer um trago? (estendeu-lhe uma garrafinha metálica com uísque)

- Não obrigado.

- Já soube o que andam comentando por todo o navio?

- Ah, de novo não... É sobre o desaparecimento do Atlantic?

- Exato! Dizem que ele sumiu sem deixar rastros. Nem mesmo sua gigantesca carcaça metálica foi encontrada.

- Pelo amor de Deus! Isso é conversa fiada. Todos sabem que não passou de um golpe publicitário elaborado cuidadosamente pelo Governo. Ele deve estar ancorado em alguma base militar secreta.

- Não é o que dizem. (comentou o capitão visivelmente desconfortável)

- Pouco importa o que falam por aí. Pra mim tudo isso é uma grande bobagem.

- O que o Governo ganharia com uma história dessas?

- Popularidade. Atenção. Você sabe tanto quanto eu que o sistema naval está falido. A marinha vive seus dias de pesadelo. Os olhos do mundo sempre estão voltados para o exército e os grandes feitos da aeronáutica. Somos um bando de diabos que sobrevivem das migalhas históricas que nossos antepassados deixou. Nada melhor do que uma história sombria para chamar a atenção das pessoas.

- Tracy, desculpa, não é bem assim. Os fatos são consistentes. Apenas uma minoria sabe a verdade por trás disso tudo.

- Mentira, boatos, histórias fantásticas e mirabolantes. Essa é a verdade!

Ficaram algum tempo discutindo sobre as possíveis “manobras governamentais” em busca de popularidade quando foram bruscamente interrompidos pelo marinheiro Dick completamente apavorado carregando seu esfregão ainda com estafa por causa da grande correria...

- Meu Deus filho, o que houve? Parece que viu um fantasma.

- Pior que isso.

- O que foi então? (questionou o capitão Grimaldi)

- Comandante Tracy, acabamos que constatar uma luz perdida no meio do oceano. Parece se tratar de um farol.

- Farol? Isso não faz sentido algum. Estamos no meio do Oceano Atlântico sabia! Não existe farol em milhares de quilômetros.

- É melhor o senhor dar uma olhada.

A noite seguia obscura. O céu estava estrelado, mas nenhum daqueles tripulantes ligava para a lua de vigília na imensidão do espaço. Todos estavam dançando no salão de festas, ou gastando suas riquezas nas roletas do cassino, outros tantos aproveitavam para descansar em suas cabines. Mas o marinheiro Dick, o comandante Tracy e o capitão Grimaldi não podiam se dar ao luxo do descanso e diversão. Todos eles correram imediatamente para a ponte de comando...

- Meu Deus o que é aquilo?

- Não sei, mas não faz sentido ser um farol. Não existe nada além de nós que não seja água.

- Comandante! Aquilo é um farol. Não pode ser outra coisa.

- Parem! Escutem o absurdo que estão dizendo. Ouçam suas próprias vozes insanas.

- Melhor dar uma olhada na carta náutica novamente. Veja se não tem nenhum obstáculo a nossa frente.

Minutos depois...

- Como havia previsto. Não existe nada.

- E como explica aquilo a nossa frente?

- Não sei. Pode ser qualquer outra coisa menos um farol. Vamos tentar contato, pode ser outra embarcação.

- Com aquela luminosidade? Impossível.

- Capitão Grimaldi, tem uma sugestão melhor? (um breve silêncio ressoou em seus ouvidos) Então deixe que faça o meu trabalho sim?

Tentaram contato com o objeto estranho no meio do oceano por quase uma hora sem sucesso algum. O desespero de encarar o desconhecido começava a tomar conta de todos na cabine de comando...

- Como pode? Me explique! Vamos! Isso não faz sentido algum.

- Senhor, são essas águas. Elas são amaldiçoadas!

- Dick, quer fazer o favor de calar-se! Vamos tentar a aproximação.

- Está louco? O que pensa que está fazendo?

- É nossa única alternativa Grimaldi. Não temos escolha.

- Vamos embora. Desviamos o curso da viagem. Atracamos em outro país, mas temos que privar pela segurança de todos nesta embarcação.

- Desviar o curso? Está doido? Não podemos correr o risco de ficar à deriva por causa de uma luz estúpida que aparece do nada no meio da escuridão. Isso que você está propondo é suicídio.

- Seja sensato Tracy. Está nos levando possivelmente para a morte! (gritou o capitão Grimaldi)

Em poucos minutos o Goyer A-490 acelerou sua velocidade em direção a luz misteriosa. A cada metro o temor percorria a espinha de todos na cabine de comando. Nunca em todos os anos de serviço e as inúmeras viagens pelos oceanos o comandante Tracy havia passado por algo semelhante. No entanto parecia determinado em sua decisão.

O desespero era iminente. Grimaldi, o marinheiro Dick e todos os outros olhavam perplexos para a imensidão do Oceano Atlântico em busca de respostas. Porém um fato curioso despertava ainda mais a atenção de todos. Quanto mais navegavam na direção da luz mais distante ela parecia se mostrar. Ninguém compreendia o grau de complexidade que a situação revelava, mas estavam sendo guiados rumo ao desconhecido em águas amaldiçoadas...

- Por todos os santos! O que é aquilo? (gritou apavorado o comandante Tracy)

Uma grande vala profunda surgiu na escuridão do mar. A queda seria inevitável, principalmente na velocidade que estavam. Não tinha como reverter os motores e fazer o navio retornar. A única opção que poderiam tentar era evacuar toda a tripulação, mas seriam tragados pela correnteza em direção àquela fenda. Curiosamente não dava para enxergar o outro lado da vala. A impressão que se tinha era de que simplesmente o mar acabava ali...

- O que vamos fazer agora? (gritou o capitão Grimaldi) Responde!

- Eu não sei droga! Não temos opção. Vamos cair naquele desfiladeiro.

- Não temos opção? Seu irresponsável... Assassino!

Começaram uma briga intensa. Os nervos estavam à flor da pele. Nenhum daqueles homens, nenhum dos inocentes passageiros poderiam prever os próximos acontecimentos. Mas agora todos eles podiam sentir o cheiro da morte se aproximando. De repente ouviram uma pancada forte no casco do navio. Todos caíram bruscamente no chão.

Imediatamente correram na direção do convés. Quando avistaram onde haviam batido começaram realmente a se dar conta do pesadelo que vivenciavam. Eram os pedaços do Atlantic desaparecido meses antes. Sua carcaça gigantesca diminuiu um pouco a velocidade que vinham mantendo, porém não foi o suficiente para evitar a grande queda livre e numa fração de segundos o Goyer A-490 despencou rumo às profundezas do oceano sendo consumido pelas entranhas da Terra...

Outra vez a natureza se manifestou em repressão aos danos que insistimos em causar durante nossa estadia neste planeta. Cada vida daqueles passageiros naquela embarcação equivale a uma força que serve para a sustentação da Terra gerando energia para que ela sobreviva aos danos e impactos causados pelo homem ao longo de sua existência.

Ravell
Enviado por Ravell em 23/02/2011
Código do texto: T2809142
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