TEMPO DE MATAR
Já havia acabado o ultimo filme da noite e eu ainda estava acordado. As provas sobre a mesa, mas a minha atenção estava em outra parte. Vou até a janela. Não vejo nenhum movimento suspeito.
Uma mulher jovem e bonita, frente à janela, do outro lado da rua, observa ao redor, atenta. Por um segundo tenho a impressão de que ela olha em minha direção. Instintivamente me escondo como um rato. Impossível que ela tenha me visto. Dou outra mirada rápida. Não esta mais lá. Parece-me que o prédio todo não esta mais lá.
Subitamente batem na porta do meu apartamento. O porteiro não deixaria ninguém subir sem ser anunciado. Olho pelo visor da porta. Não há ninguém. A não ser que o invasor seja uma criança ou um anão.
Mantenho-me imóvel por um tempo, recuperando o controle da respiração. Abro a porta abruptamente. Tudo em silencio. Ninguém no corredor. Frio. O pelo do corpo eriçado. Eu poderia ir atrás dele pela penumbra do corredor e atacá-lo de surpresa. Mas resolvo não correr riscos desnecessários. Sei o que poderia me acontecer se fosse apanhado.
Fecho a porta. O som ainda retine em meu ouvido quando batem na porta novamente. O inimigo mudou de tática e agora tenta me desorientar. Com os músculos retesados abro a porta novamente.
O porteiro.
—Você ficou maluco?
—Desculpe incomodar o senhor…
—Por que não usou o interfone?
—Quebrou hoje à noite
—E não dava para esperar até amanha cedo?
—É que tem uma moça lá embaixo querendo falar com o senhor. Disse que é urgente.
—Comigo? Como você sabe que é comigo?
—Ela sabe o nome do senhor
Visto uma camiseta e desço com o porteiro. Que moça é essa? Sou tomado por um sentimento infantil de ansiedade, contra o qual tento lutar.
—Cadê ela?
—Estava aqui
—Você a deixou entrar?
—É perigoso ficar parado lá fora na rua à uma hora dessas. E ela não tinha cara de bandida. Estava bem vestida, disse que conhecia o senhor…
—Sei… E agora?
—Deve ter ido embora. A porta ainda esta aberta.
—Dá uma vistoriada por ai para ver se ela não roubou nada. Com essa sua imprudência poderíamos estar mortos agora.
—Sim, senhor. Isso não vai mais se repetir.
Subo ao meu apartamento examinando ao redor, tentando rememorar o que pretendia fazer. Fecho a porta e dou de cara com uma garota de pé no canto da sala. Parece ter saído direto daqueles filmes de terror japonês. Uma emboscada. Nove anos nessa profissão de merda, lutando contra fantasmas. Não grito. Nem dou saltos histéricos. Alguém me golpeia por trás, na cabeça. Apago. Na queda ainda posso notar suas unhas pintadas de vermelho sangue.
— A gente deve ter matado ele.
— Não estressa. Uma pancada de nada.
— Ele está sangrando. Meu deus. A gente matou ele.
— Cala a boca e pega as provas. Vai! Corre!
— Já tá corrigida!
— O quê?!
— Ele já corrigiu a droga das provas!
— Puta merda!
— 7, ele deu 7 pra gente. E agora?
— Está vendo o peito dele?
— O que tem?
— Está respirando. Larga essa merda ai e vamos dar o fora daqui.
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