Espelho

Noite de ouro na casa de eventos de Paula Freitas, era a primeira apresentação da banda de Gerson desde que voltaram da turnê pelo país. O público estava quente, esperando as guitarras começarem a roncar para saciar seu apetide de boa música, trinta minutos separavam aquele ensaio no camarim da entrada triunfal.

Estavam ali os quatro integrantes ensaiando seu principal sucesso, para que não fizessem vergonha em público, foi quando durante um dos solos, que a corda mi da guitarra de Gerson estourou. Um bom músico sempre está precavido, e ele tinha uma substituta em sua sacola, também podia optar por tocar a segunda guitarra que estava afinada em meio-tom abaixo.

Gerson levantou-se e foi até o carro, o tempo estava contra ele, mas estava acostumado com imprevistos, e além de tudo, tranquilo, faziam dois anos que não tocava ali, estava com saudades daquele ar familiar. Caminhou por ali, na noite serena de sábado, e, ao chegar ao carro, foi logo agarrando sua sacola e voltando ao camarim.

Ao passar pelo corredor, notou que havia um grande espelho na parede, algo que até segundos atrás não estava ali, parou imediatamente e passou a se deleitar com aquela sua imagem, ficou ali por alguns minutos, caminhando de um lado para outro, como uma criança com seu brinquedo, seu olhar penetrava seu reflexo, até que, atrás de seu reflexo apareceu um senhor alto, de barba longa, terno e gravata, que tocou seu ombro e, sem dizer qualquer palavra, no momento seguinte desapareceu.

Naquela noite de ouro, seu pai veio a falecer.