O Predador dos Salmos Proibidos

Ele anda lacônico de um lado a outro pelo espaço de um minúsculo cômodo. Com os olhos fixos no espelho, que reflete seu corpo nu. Seu respirar é ofegante, suas mãos transpiram. O sexo a cada pensamento mórbido enrijece. Tesão, êxtase, ou simplesmente, a ansiedade pelos acontecimentos passados ou vindouros?

Nauseabundo, atira-se na cama de campanha. Fecha os olhos e lentamente começa uma masturbação platônica, que vai se acelerando na medida em que as imagens vão povoando sua mente proba. A velocidade dos movimentos de suas mãos porejadas faz com que ele exploda num gozo solitário. O seu grito ecoa por todas às paredes de seu cubículo. Exaurido ele tenta cobrir suas vergonhas, porém a síndrome da culpa o afeta. Ele chora como que se fora admoestado. Ainda sob a sensação do apogeu recalcitrante do ato.

Ele levanta, não se higieniza, veste as pressas uma parelha de roupa, abre a gaveta de uma velha cômoda e pega sua navalha. E pensa: “- Só mais uma vez senhor, essa serás a última, eu prometo!” Ele faz o nome do pai como se estivesse a se benzer. Entra numa capa de chuva e ganha as ruas em busca de uma nova presa...

Ela caminha tranquilamente pala Praça das Mães, próximo ao HUGO (Hospital de Urgência de Goiás) sem se preocupar com o andar das horas. A tromba de água é ininterrupta. Cantarolando um refrão que está na boca do povo. “Tá pensando que sou boba? Bobinho! Só to te dando linha pra você voar. Tá pensado que sou boba? Acorda! Só to te dando corda pra você se enforcar.” A chuva parece mesmo não ter fim! E sua cantiga também não. Mas ela pouco se importa com a tempestade que cai e com quem a escuta, pois aquele dia foi o dia mais feliz de sua vida! A mãezinha moribunda saiu do coma e já estava no quarto. E como morava ali perto do HUGO, resolveu ir caminhando para o prédio que mora. Nessa hora por se tratar de um local mais afastado do centro. O movimento dos passantes era pouco, ainda mais com aquele dilúvio. Não se tinha uma viva alma além dela e de um homem que seus olhos enxergavam ao longe, caminhando trôpego. Ela ri de como ele anda, e vai se aproximando dele, sem malicia, despercebida, pois sua felicidade é tamanha, que não dá atenção ao sinal de alerta que seu coração esboça. O homem cambaleante vai se aproximando, e quando se está dentro de um campo de poucos metros de distancia um do outro. Ele salta-se sobre ela, como uma ave de rapina, com a precisão de um felino indômito, que a pobre moça não tem tempo nem de gritar. Ela vê a face de seu algoz, mas com a profundidade do corte no pescoço, ela cai e a última visão que ela tem é das botas do seu assassino, e do seu sangue misturado a enxurrada da chuva que ainda cai mais forte do que antes. Ele com uma força Hercúlea pega o corpo sem vida da bela jovem, joga-o em suas costas, olha para os lados e não vê ninguém. Acostumado aquele ato insano, ele corre com a gélida morta, joga ela dentro do seu veiculo sem placas, da à volta entra, senta, põem a chave na ignição e da partida, desembaça o pára-brisa e sai em disparada para seu cômodo afastado da periferia, mais parecido a uma itaoca...

A cena do crime era dantesca! Dois copos nus, abraçados em posição lasciva. Dessa vez o criminoso se superou. Que mente perniciosa levaria um individuo a cometer tais sacrilégios? Apesar da posição meio trágica, meio romântica! Com um toque de profanação ao templo sagrado de Deus. Ao menos pensava assim Verônica. Olhando tudo a sua volta, não deixando passar nada. “Os tempos já são outros.” -, pensava ela. “Já não se respeitam nem igrejas. Também com alguns ditos pastores, molestando suas ovelhas é de lamentar.”

- Verônica, o que você acha? – Era o chefe de polícia da delegacia de homicídio, lhe arrancando dos seus devaneios.

- É ele. – Ela responde secamente.

A mais de três meses, eles vêm investigando os assassinatos. Com uma única característica. Uma jovem, e um sacerdote. O padre continuou sendo o mesmo personagem fúnebre. No entanto a moça desta vez fugiu do perfil. Antes as vitimas eram moças faveladas, mas essa não. Ela era da região central. O que pode ter sido o erro do assassino que estava sendo chamado de: “O Predador dos Salmos Proibidos”. Após encontrar a mesma pista, uma pagina do novo testamento, no livro dos Salmos. E verificarem se havia outro indicio do serial, nada. Verônica libera os corpos paro o IML levá-los e limpar a cena do crime. Que era quarto do pároco da Matriz de campinas.

A delegacia estava apinhada de repórteres, policiais. Até o vice-governador Neves Nunes estava representando o maior chefe do estado. Verônica já sentada em sua cadeira por de trás de sua mesa, com um vidro grosso que separava seus olhos doas paginas da bíblia. Com os versículos dos salmos marcados, ela tentava entender as mensagens do maníaco. Enumerado da seguinte forma:

1º salmo 6 versículo 2 “Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, senhor porque os meus ossos estão perturbados.

Verônica leu o primeiro e lembrou-se da cena. O Padre estava com os Braços abertos em forma de cruz e a moça na altura do umbigo, ambos com o pescoço cortado. Mas ela suplicava algo. O que?

2º Salmo 12 versículo 3 “O Senhor cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente. Nesse a cena tinha o casal, padre e moça, com os lábios colados, porém quando os legistas separam os dois descobriram que os lábios, tanto superior quanto inferior estavam cortados e as línguas arrancadas.

Verônica não é fervorosa. Alguns dizem que ela é uma atéia. Contudo, pelo fato do criminoso deixar como pista versículos de salmos. Ela começou a devorar o novo testamento. Mas não obtinha respostas. Mando que chamasse um esperto em teologia. Que passava horas também olhando as copias dos versículos. Bruno bate na porta, chamando as atenções de Verônica.

- Posso entrar?

- É Claro, o que você tem para mim?

Bruno era um jovem formado em teologia, e costumava a freqüentar as igrejas desde criança, onde fora corinha, depois diácono, largou o clero para ingressar como investigador de homicídios.

- Qual foi o ultimo versículo?

- Salmo 36 versículo 4 proteja a malicia na sua cama põe-se no caminho que não é bom; não aborreça o mal.

- Certo, e a cena deixe-me adivinhar. Eles estavam deitados na cama de pescoço cortados envoltos num abraço como que se estivessem se amando?

- Isso mesmo, e o que isso tem a ver?

- Verônica pelo que pude entender esse nosso assassino, esta querendo falar conosco.

- Disso eu sei, mas o que?

- Primeiro ele é um doente. – Bruno falou tentando entusiasmar Verônica.

- Segundo ele é um profundo conhecedor dos salmos.

- E?

- Temos que pará-lo, pois pelo que eu vi, ele não parará enquanto não o pegarmos.

- Bruno continue estudando os Salmos sim? Deixe-me que eu me encarregue das teorias.

- Ok, ok. Vamos tomar um café então?

- Não, quero pensar, tenho que pensar mais um pouco. Mas fique atento Bruno, qualquer novidade eu te aviso.

- Ok!

Bruno saiu da sala de Verônica, com uma vontade de chamá-la para algo além de um café, no entanto a dama dos olhos verdes, não lhe dava atenção. Saiu com o coração batendo de paixão. Tinha que fazer algo para ela, mas quando estava perto dela perdia a noção do tempo. Ele foi para seu carro, abriu a porta entrou, olhou para o banco do passageiro e viu um grande volume do novo testamento aberto no livro dos salmos. E como ele queira que no lugar do livro sagrado estivesse então sentada Verônica.

Verônica por sua vez estava ainda absorvida quando, seus olhos numa fração de segundos juntaram os três versículos num só plano de visão.

Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, senhor porque os meus ossos estão perturbados. O Senhor cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente. Proteja a malicia na sua cama põe-se no caminho que não é bom; não aborreça o mal.

Ela pega o telefone e liga para um numero confiável.

- Alô! Onde você esta?

“perto diz a voz do outro lado da linha”

- Me encontre dentro de meia hora, no Areão Parque.

“certo.”

“- Como fui tola. O tempo todo na minha cara e não percebi” Verônica pensou sorrindo.

De volta ao seu cubículo, como sempre fazia. Ele estava nu. Andando de lado a outro. Suando. Penalizado de si mesmo. O coração o espinhava. Olhava o reflexo do seu corpo no espelho, contrariado com o que via. As suas mãos trêmulas, o corpo em chamas. Por dentro misturando sarcasmo, ódio. Pois mais uma vez como das outras vezes ninguém o percebeu. Porém não era isso que ele queria. Ele quer ser pego. Mas tem que ser como num jogo. De cão e gato, ele era o gato e ela a Cadela farejadora que ainda não o descobriu. Ele olhava para as fotos dela nos jornais. E gargalhava lendo as manchetes: A DETETIVE VERÔNICA AINDA NÃO TEM NADA DE CONCRETO EM RELAÇÃO AOS ASSASSINATOS. O PREDADOR DOS SALMOS PROIBIDOS ATACA NOVAMENTE.

Ele deitou na sua cama de campanha e delirou. Cada vez que lia o nome Verônica seu corpo transpirava mais. E seus pensamentos perniciosos o fez buscar a bíblia e já programar o próximo versículos. Olhou, olhou. Até encontrar um pertinente ao seu próximo crime. Mas esse seria especial. Porque não com ela. A própria musa de sua vida e inspiradora Verônica?

O parque Areão era um lugar aonde todos os jovens da cidade iam. Uns para namorar, outros para ficarem navegando pela internet em notebooks avançadíssimos. Verônica chegou olhou o movimento, e lembrou-se da sua juventude. Dos tempos em que moça ainda não imaginava que estaria num futuro diante tantos maníacos, criminosos e assassinos seriais. Ela senta num banco de praça onde ela fuma a um cigarro, distraída quando ele toca no ombro dela. O seu corpo estremece seu coração dispara, pois sabe que é ele, e não sabe como irá proceder.

- Não entendi quando me ligou. – Ele diz com um sorriso amarelado nos lábios.

- Descobri algo importante. - Ela fala sem tirar os olhos dos olhos dele. E isso o incomoda.

- É, o que foi que descobriu? – ele indaga sentando-se do seu lado.

- Lendo os versículos, compreendi que nosso homem traçou o seu perfil, nos versículos.

- Sim também pude perceber isso. – ele agora está ofegando, porém ela tenta manter a calma. E retoma a palavra:

- Ele não é doente, ele está doente.

- Concordo com você.

- É um profundo conhecedor do novo testamento, no entanto a sua revolta por esta doente, e deus não o curá-lo. Faz com que ele mate.

- Verônica onde você esta querendo chegar? Ele agora pergunta mantendo uma inquietação.

- Calma ainda não disse tudo que descobri. Seu fanatismo por alguém impossível de ter. Mais por sua doença do que por incapacidade de conquista. Isso lhe fez recorrer a um jogo profano e enigmático. No entanto tenho que confessar que a priori ele me confundiu, mas quando veio o ultimo versículos eu juntei aos outros e matei a charada.

- Que, que, que charada? – ele agora gagueja olhando para o lado. Pois ele também conhecia os métodos de Verônica. Sabia que ela não estava só. Ele enfia a Mao no bolso. O que prontamente fez Verônica dizer:

- Eu não faria isso se fosse você. Olhe pra sua direita. Ele olhou e viu um jovem policial olhando seus atos, pronto para agir. E ela novamente tornou a falar:

- Olha para a sua esquerda. – num gesto maquinal ele olhou e sorriu. Com a língua nos dentes ele falou.

- Você me inspirou a fazer o que fiz. Eu te amei, e você me esnobou. Tudo fiz para lhe chamar a atenção. E você no seu mundo.

- Você esta morrendo.

- Por isso você me rejeitou?

- Não, você sabe muito bem por que foi.

- Cretina! À medida que ele ia xingando Verônica, ela perceber que ele ia ficando amarelo, e foi tombando para o lado. E caiu desfalecido perto dela. Mergulhando o seu corpo numa poça de sangue que vinha de sua virilha, ele acuado pela descoberta cravou a faca em si num golpe certeiro. Com um par de lagrimas escorrendo pela face Verônica liga a radio e informa:

- Chamem uma Ambulância, o nosso homem esta morrendo. Numa fraca de segundos o grupo operacional entrou em ação. Mas quando os paramédicos chegaram já era tarde, o vice- governador Neves Nunes já estava morto.

A noite todos os telejornais, davam a noticia da morte do vice-governado, no entanto o que mais aterrorizava era saber que ele era O Predador dos Salmos Proibidos. Na delegacia, Bruno o Chefe de polícia Arouca e Verônica davam suas ultimas impressões do caso.

- Como você teve a certeza Verônica. – era Bruno que perguntava.

- Os versículos foram muito óbvios. O primeiro falava dos ossos.

- O Câncer que estava dilacerando as pernas dele?

- Sim, o segundo falava da voz. Ele foi porta voz do governo, onde por tantas vezes falou o que não queria e principalmente o que não devia.

- O terceiro falava da cama.

- É ai que entra você? – perguntou Arouca.

- Infelizmente. Conheci o vice-governador quando estudávamos, tivemos um romanceio. Mas juro que pensei que ele havia-me esquecido. E quando ele veio acompanhar o caso, senti que ele arrastava suas pernas algumas feridas em sua língua, mas o que me chamou mais a atenção foi seu olhar de vitória em cima de mim.

- Mas o que os salmos têm haver?

- Tudo, pois ele foi recolhido por um tempo nos mosteiros. E lá presenciou algumas leviandades e fez com que ele resultasse.

- Bem, esse caso foi difícil, parabéns a vocês.

- De nada chefe. Verônica e Bruno responderam num só tom.

Arouca ia saindo quando ele virou e pergunto?

- Se ele não tivesse sido pego qual seria o seu próximo versículo?

- Salmo 35 versículo 21 “Abrem a sua boca de par em par contra mim, e dizem: Ah! ah! os nossos olhos o viram.

Os olhos de Verônica e Arouca olhavam espantados para Bruno que apenas dava de ombros.