UMA MORTE ESTRANHA, UMA VIDA PERDIDA
UMA MORTE ESTRANHA, UMA VIDA PERDIDA
Seu nome era Olavo. Ele era um sujeito comum, teve uma infância normal, brincou como qualquer criança de sua época. Na adolescência, teve as aventuras de um jovem de classe média brasileira da década de 1970, namorou várias garotas, foi a festivais de músicas e as festas que participou eram incontáveis. Até que um dia, em uma dessas festas, Olavo conheceu aqueles que ela denominaria de seus novos amigos, mas mal sabia ele que essas pessoas selariam o seu destino.
O melhor amigo de Olavo era Irineu Ferraz, uma amizade selada ainda na infância, cresceram no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Ambos eram filhos de advogados, que saíram do interior mineiro para exercerem a advocacia na capital de Minas Gerais. Olavo e Irineu eram da mesma idade, frequentaram a mesma escola e formaram o colegial juntos, no ano de 1976. Olavo chegou a sonhar em ser jogador de futebol, já Irineu sempre foi mais sério e jamais abandonou a ideia de ser advogado, como o seu pai. Ambos gostavam de freqüentar o Estádio do Mineirão, em dias de jogos do Cruzeiro. Na infância a brincadeira preferida da dupla era velho oeste e revezavam nos papéis de mocinho e bandido. Eles na adolescência e juventude tinham a sua turma, mas os dois amigos eram bem apegados.
Em 1976, último ano do colegial, Olavo e Irineu gostavam de freqüentar os bailes na região do Barro Preto, próximo ao centro da cidade. É em uma dessas festas, que Olavo conhece um certo sujeito de nome Aristides. Logo Aristides se aproxima muito de Olavo, presença a qual de uma forma muito estranha afastava aos poucos Irineu de Olavo. Em uma madrugada quente de verão, Irineu e seu amigo de infância retornam para casa, momento em que este fala para Olavo
-- Tome cuidado com esses novos amigos que estão surgindo em sua vida através dessa estranha figura.
Olavo retruca:
-- você está falando do Aristides?
--Sim, responde Irineu.
Olavo então completa:
--Você está julgando o cara de forma errada, ele é boa gente.
No final de janeiro de 1977, Olavo passar a morar sozinho, em um apartamento no bairro de Lourdes. Motivo este que afasta gradativamente os dois amigos e concomitantemente aproxima Olavo e Aristides.
Aristides se dizia um profissional de um ofício muito específico, coisa que Olavo já sabia muito bem, pois há algum tempo, o filho de advogado era consumidor de seus produtos. Ele comprava frequentemente, aquilo que estava acabando com sua vida. Sua relação com a família já não era muito boa, seu pai já suspeitava que o destino do dinheiro que fornecia a Olavo, não estava sendo aplicado no pré-vestibular. No final de 1977, Olavo já não era o mesmo. Se encontrava endividado e pressionado por aqueles que de início diziam serem seus amigos.
Olavo pensa em procurar Irineu para lhe pedir ajuda, mas vai de encontro a Aristides. Então ele diz:
--Preciso de sua ajuda.
--Em quê? Pergunta Aristides.
--Preciso de algo para sustentar o meu vício, responde Olavo.
--Você me deve muito dinheiro, não posso te ajudar.
Olavo observa aquela sala, o lustre que parecia caro, o tapete estendido no chão e as roupas caras de Aristides. Então ele se oferece para trabalhar para o mesmo. Aristides responde:
--Trabalhar como? Você alguma vez já trabalhou na vida? E mais, o meu trabalho é muito específico, não posso confiar em qualquer um!
Olavo insiste:
--Mas eu preciso de alguma coisa para te pagar, e venho te pedir ajuda.
O “trabalhador específico”, então reflete sobr o fato de o garoto ser filho de advogado e imagina que isso pode ser útil. Então ele cede a Olavo e diz que tem algumas encomendas que ele deve buscar em um local isolado próximo a Serra do Curral. Olavo aceita. Mas Aristides o orienta:
--Não abra os pacotes em hipótese alguma, pois isso pode ser o motivo para a sua morte. Vá para casa e espere o meu contato.
Olavo disse que tudo bem e sai da presença de Aristides, sem imaginar que estava entrando em um labirinto no qual a volta seria muito difícil. Ele volta para o seu apartamento, é sexta-feira e sente saudades do seu amigo de infância, pensa em visitá-lo, mas não vai, permanece em casa à espera do contato de Aristides. Ás 22:00 horas o telefone toca, é Aristides com as instruções. Ele diz:
--Vai até a estrada da Serra do Curral, lá você irá ver um veículo veraneio parado no acostamento, diga que você foi a mando de Jamil (pseudônimo de Aristides), eles irão te entregar a minha encomenda. Guarde-a em casa que irei buscar na segunda-feira pela manhã. E lembre-se, você não deve abrir esta encomenda nem a mando do Papa!
--Tudo bem, responde Olavo.
Olavo, então vai até a Serra do Curral, encontra com facilidade os contatos de Aristides, se apresenta e pega a encomenda, volta para casa e a coloca em cima de sua cama. Ele se lembra das palavras de Aristides e tenta não abrir tal pacote. Fica perturbado e curioso, sente que não vai resistir. Então ele sai para a rua à procura de um bar que ainda esteja aberto e encontra um no centro da cidade. Já quase o dia clareando ele volta para casa, bêbado e quase caindo, com muita dificuldade chega em seu apartamento, que àquela altura era uma total bagunça.
Chega à segunda-feira, como combinado Aristides bate a porta de Olavo para pegar o seu pacote. Olavo acorda assustado, recorda-se do combinado, olha em volta e não ver a encomenda do tenebroso Aristides. Olavo fica assustado, e quieto não responde e nem abre a porta. Aristides desiste e vai embora decepcionado e refletindo “eu sabia que não podia confiar em um viciado”.
Olavo procura o pacote em todo o seu apartamento, mas era difícil encontrar algo naquela bagunça. Ele se desespera, tenta se recordar da noite passada, mas a única coisa que se lembra era que estava muito bêbado.
Mais tarde o telefone toca, o barulho assusta o desesperado Olavo, trêmulo ele atende o aparelho que aquela altura despertava nele um medonho desespero. Ele atende, era o Aristides, que esbraveja:
--Onde você está! Fui em seu apartamento e não te encontrei.
Olavo tenta ser sincero e responde:
--Perdi a sua encomenda, mas vou te retribuir.
Bravo, Aristides o ameaça:
--Você vai me pagar seu viciado, com dinheiro ou com a sua vida!
O desespero é incontrolável e Olavo, sem saber o que fazer, decide fugir. Vai para a casa de seus pais, mas fica lá pouco tempo, pois ele sabia que era fácil encontrá-lo ali. Perambula por uma semana e então começa a recordar que havia pegado a encomenda e chegando em casa a havia jogado em cima da cama. Então, um pouco mais consciente, ele retorna ao seu apartamento para uma busca mais efetiva.
Mas Aristides, o procurava e havia deixado um capanga de vigia à frente do seu prédio. Quando Olavo chegou, o capanga avisa para o seu chefe.
--Ele está em casa.
Olavo tenta arrumar a sua moradia, na esperança de encontrar aquele pacote que iria permiti-lo a continuar a viver. Então ocorre fortes batidas em sua porta. Olavo se desespera quando escuta a voz de Aristides.
Olavo ver a vida que ele viveu e que perdeu naquele momento. Lembra-se das brincadeiras de criança com o seu já distante amigo Irineu, lembra das corridas de carro que ia ver com seu pai nas pistas laterais do Mineirão, e já com lágrimas nos olhos, lembra também dos inocentes bailes que participou com Irineu.
A porta é arrombada, Aristides entra furioso com os seus capangas, todos estavam armados. Olavo nem conseguiu contar quantos eram. São disparados tiros, Olavo cai ensanguentado no chão do seu quarto. E antes do brilho dos seus olhos se apagarem por completo, ele ver o maldito pacote embaixo da cama.
Mércio