Uma saída? A Morte.

Tempo. Quem pode lutar com o tempo? Ninguém. Absolutamente ninguém.

Joana passara todo o verão pensando nele.- Será que ele irá voltar? – Sim, ele voltou, mas não para ela. E ela nunca se conformara com isso.

Joana era inteligente, decidida, uma mulher forte e independente. Mas, nunca se achou boa o suficiente, sua alto-estima era baixa, tentava enganar isso com o seu bom humor de sempre, mas, na maioria das vezes isso não funcionara.

Tudo mudou quando conheceu Carlos no primário, viraram amigos e, desde então, ela se apaixonara perdidamente. Eles foram para o ensino médio juntos, depois os dois passaram para a mesma faculdade de medicina, ela não gostava muito, mas fez para acompanhá-lo, para não perdê-lo.

Quando eram da sétima série, ele a pedira em namoro, e ela, para não parecer oferecida demais, disse que ia pensar. Só que o que não esperava era que Carlos não iria esperar ela pensar. No dia seguinte ele já estava de beijos com outra. Joana nunca se perdoou por isso.

Até que em uma linda manhã, Joana decidiu que precisava contá-lo que sempre fora apaixonada por ele. No caminho da faculdade ela pensava:

--- Eu preciso contar para ele! Eu preciso! Se não eu morro! Morro mesmo! – dizia para si mesma.

Quando chegou na porta de sua sala de aula de Anatomia, com o prof. João Henrique, faltava trinta minutos para a aula começar. Como Carlos adorava essa aula, imaginou que ele já estivesse em sala. Sim, de fato, ele já estava em sala, só que não estava sozinho, estava seminu com a Maria, pelo o que Joana podia ver pelo vidrinho que tinha na porta, já que esta estava trancada.

Joana, praticamente, enlouqueceu, foi para o banheiro feminino do terceiro andar, o que todos falavam que era mal-assombrado e tinham medo de ir para lá. Carregava na bolsa um bisturi com lâmina número 22 e uma de número 10, que tinha utilizado no seu estágio essa manhã.

Passara álcool nos pulsos e nas mãos,colocara suas luvas, ligara o chuveiro do banheiro feminino, e colocara seu mp3 tocando uma música de Elis Regina em cima de uma pia. Foi despindo-se lentamente. Pegou o jaleco de dentro de sua bolsa. Estava amarrotado, mas não fazia mal, o mais importante estava ali, o seu nome gravado no bolso esquerdo. Não pensava que a morte seria tão simples assim, que um cortezinho podia fazer esse mal todo.

Um pouco antes, quando se preparava, lembrou-se de quando era criança, do primeiro beijo roubado, que Victor, um coleguinha, lhe dera, quando tinham cinco anos. Lembrou-se de sua mãe, do orgulho que ela sentira quando Joana havia passado na faculdade. Mas, acima de tudo, ela só pensava em Carlos, na sua maneira doce de falar, na força que ele passava para ela, nas horas que passavam conversando no telefone, e na Maria, na vagabunda da Maria! A culpa era de Maria por tudo isso acontecer! Só dela! Como pode? Ela sabia que Joana era apaixonada por Carlos desde pequena. Era uma cretina! Isso, sim, uma cretina!

Duas horas passaram-se, até que um telefone toca.

--- É da Delegacia de Polícia, sim, senhora.

Um silêncio.

--- Só um minuto, senhora. Pode nos informar o local?

Outro silêncio.

--- Já estamos indo.

O carro da polícia chega um pouco depois do carro do Corpo de Bombeiros. Estava uma multidão na frente da FFMMS, Faculdade Federal de Medicina do Mato Grosso do Sul, todos muito chocados.

--- Ela era tão nova – todos diziam.

O Policial Alves chegou ao terceiro andar e encontrou dois corpos, um com um bisturi em umas das mãos, ambos seminus, um mp3 ligado, e uma bolsa. Em cima de um corpo havia uma carta, assinada com sangue.

A carta dizia:

Caros policiais,

Sei que não encontrarão, em toda a carreira de vocês, alguém tão esperta e talentosa como eu. Ah, esqueci do “boazinha” também. Pois, sim, sou boazinha, se não fosse não estaria perdendo o meu tempo explicando tudo para vocês. Faço isso, primeiramente, por minha mãe, que não merece ficar sem saber o que acontecerá com a filha. E segundo porque quero essa história marcada nessa porcaria de faculdade.

Como vocês não poderiam me perguntar depois, vamos dar um play nessa história.

Hoje, um pouco antes de 13:30 da tarde, peguei o meu namorado transando com uma vagabunda, que se dizia minha amiga. Fiquei super decepcionada, pois eu tinha certeza de que ele ficaria comigo. Então, decidi que não queria mais viver, só que logo depois, vi que a culpa não era minha, e, sim da vagabunda da Maria, afinal, foi ela quem tinha me traído, enganado o meu Carlos.

Acabei de ter a brilhante ideia de como irei matá-la. Queria deixar claro, que nesse exato momento falta exatamente quinze minutos para eu realizar o meu plano de puro sucesso.

Enviei um bilhete embaixo da porta, dizendo que eu sabia de tudo o que eles faziam e que iria contar tudo ao reitor, caso a garota não viesse ter uma conversinha comigo, aqui no banheiro do terceiro andar.

E aí, bom, aí eu vou mat

E a carta acabava ali, com uma mancha vermelho-sangue, logo abaixo, com o nome de Joana Miller.

Dentro do carro, indo para o interior do estado de Mato Grosso do Sul, para a casa de seu amigo, ouvindo Elis Regina, ela se lembrava de tudo.

--- O que você está fazendo aqui ? Eu falei que devia ser 14 horas e não 13:50. – Joana disse impaciente.

--- Por que está tão assustada? Pensei que já tivesse tudo planejado. Você sempre planejou tudo com tanto cuidado, desde pequena...

Joana a olhou furiosa, pegou o bisturi e a uma seringa. Então, andou em direção a Maria.

--- É isso o que você vai fazer? Matar a sua própria irmã-gêmea? – Maria disse com um sorrisinho nos lábios, debochando de toda aquela cena.

Joana parou um instante, mas não por causa da frase de Maria. Mas porque quando ela olhou para o chão, percebeu que não pegara o bisturi lâmina número 22, mas, sim a lâmina número 10, pois a lâmina número 22 estava em sua barriga, cravada, e sendo remexida milhares de vezes. Ela sabia que tinha pouco tempo. Então, quando foi injetar a seringa que adormecia os músculos em sua irmã, Carlos chegou um pouco depois, a ponto de conseguir segurar o braço de Joana.

--- O que está havendo, Joana? – Olhou para Maria.

--- Nada, meu amor, só um acerto de contas.

--- Oh, meu Deus, o que você está fazendo, Joana? Isso não está certo, ela é sua irmã. – Carlos disse apavorado.

--- É só para podermos ficar juntos, amor. – Maria tentou ser mais convincente.

--- Não, isso é errado! O que faremos agora?

Então, ela viu que tudo estava perdido. Não haveria outra saída. Sua irmã ali morta no chão, com o bisturi ainda na barriga. Só havia uma única saída. Só uma.

--- Vou ligar para a polícia, isso foi um acidente. É melhor deixarmos todas as provas arrumadas, me dê essa seringa.

Não pensou duas vezes, e a injetou em Carlos, depois, cortou o pulso dele com o bisturi, arrumou os corpos dos dois - até que ficavam bonitinhos juntos – colocou o bisturi lâmina número 10 nas mãos de Joana, e a carta em cima dela.

Pegou o seu carro, foi para o posto de gasolina.

Ellis continuava a cantar. Ela adorava esse cd. Mas, então, pensou em como sua irmã era idiota em confiar nela. Ela era rápida e eficiente. E sempre tivera inveja por Carlos só ter olhos para ela.

Riu um pouco mais alto agora. E lembrou-se do começo de sua conquista:

--- Maria, o que está fazendo aqui? – Carlos disse.

--- Eu? Maria? Você está louco? Não reconhece a sua amiga de anos? – disse Maria.

--- Não brinque comigo, Maria. Eu conheço muito bem vocês. A Joana não usaria roupas assim.

--- Ah, então você está estranhando as minhas roupas? – Maria riu um pouco – Eu só peguei as roupas emprestadas de minha irmã para ficar mais bonita para você. Eu te amo tanto.

--- O quê? Você me ama? Mas...

--- Sem mais, nem meio mais, eu amo você, eu te quero, te quero muito. Fique comigo.

---“Sem mais, nem meio mais”, não tenho mais dúvidas de que seja você, você vive falando isso.

Beijaram-se loucamente.

Parou em um bar, e ligou para a delegacia.

--- Senhor, sou mãe de um dos alunos da FFMMS e gostaria de saber o que aconteceu.

Do outro lado da linha:

--- Sei, sim, senhora. Bom, ainda estamos averiguando, mas o que tudo indica é que uma aluna pegou o namorado com outra garota, aí ela assassinou a garota. E o garoto ficou apavorado e cortou os pulsos quando viu a menina morta.

--- Mas, e a aluna que matou a garota? Vai ficar solta?

--- Bom, senhora, nós estamos a procurando por todo o país. Caso encontre com ela, o nome dela é Joana Miller.

Riu, mais uma vez, cada vez mais alto.

Larissa Ruiz
Enviado por Larissa Ruiz em 20/01/2011
Código do texto: T2741060
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