De janela aberta para o crime

Todas as súplicas foram inócuas, ele mantinha-se impermeável a todos os pedidos, parecia que arrancava a roupa dela e com estas mesmas roupas fazia venda para seus olhos, nada via além do corpo que ia despindo.

Mórbida mistura: pavor da vítima e atração incontida do estuprador, resultava em dantesca agressão covarde.

Ela, em tática suicida, mascarou seus escrúpulos e nojo, para aguardar o momento do revide, e até ensaiou no rosto um semblante de prazer; ele, vendado, sorvia o prazer que o corpo sem roupas lhe proporcionava, e deixava que os instintos o comandassem, e o sangue maculou a pureza da vítima.

Ela não mudou sua rotina, voltando do trabalho, passava todos os dias pela entrada do beco, por vielas escuras, como se provocando o pecado, como se seu corpo houvesse gostado. Ele, de soslaio, a espreitava desconfiado, mas aguardando o melhor momento para repetir suas façanhas inomináveis. Tantas vezes ela passara por ele, sem o notar, o que fazia o desejo arder no corpo cheio de taras daquele oportunista.

Um dia, seus olhares se cruzaram, e com o olhar ela fez o arriscado convite para que repetissem a dose, criminosa, mas que proporcionavam prazeres indescritíveis...a ele.

Guardando dela uma distância prudente, ele a seguiu até o prédio em que ela morava, e lhe foi apontado a escada de incêndio que o levaria até o quarto a ser invadido. Ela estava sendo cúmplice, ela também o queria.

A lâmpada acesa dera o sinal para que ele subisse a escada externa do prédio e, ao chegar ao andar onde o fato seria consumado, ele, já afeito a este tipo de ação, levantou cuidadosamente a vidraça da janela, dando início à invasão do cômodo.

A vidraça, cúmplice da Rapunzel da torre, desceu vigorosamente e, com lâminas temperadas e muito afiadas, encontrou um pescoço que chegava sorrateiro. A dona do quarto, que provocara a avaria naquela vidraça, nem se lembrava que o carpinteiro havia adiado a visita para o reparo daquela guilhotina, que tantos riscos oferecia a quem pretendesse entrar no quarto valendo deste pouco usado meio de acesso.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 03/01/2011
Reeditado em 03/01/2011
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