O FILHO ESTROÍNA

Aquele jovem médico chamava-se Norberto. Formara-se há dois anos. Montara uma clínica em sociedade com dois colegas, todavia, pouca importância votava à mesma. Aliás, cursara medicina mais por insistência da mãe que gostaria de vê-lo médico, profissão que ela reputava das mais nobres, que por inclinação ao labor clínico ou por vontade própria .

Gostava, isto sim, de gastar o tempo e o dinheiro da família em noites e mais noites de boêmia, sempre em companhia de belas mulheres. Era conhecido em todas as casas noturnas da cidade em que morava.

Ao cabo de algum tempo, entregou a clínica aos sócios, que se esforçavam para firmá-la no conceito da clientela, porquanto, de sua parte, pouco se importava.

Seu pai, rico industrial, não dispunha de tempo para se preocupar com o filho; porém sua mãe, esta sim, afligia-se sobremaneira em razão das atitudes do rapaz que se mostrava cada vez mais estróina e inconseqüente.

Na esteira do tempo rolavam os dias sem alteração.

A mãe lhe implorara, inúmeras vezes, que não deixasse a profissão; entretanto, não lhe dera a menor atenção, seguindo rumo às dissipações.

Enquanto tinha dinheiro em seu poder, esbanjava-o de forma absurda, pois, além das mulheres com as quais consumia boa parte, existiam os "parasitas", aqueles que gravitam em torno dos ricos, na esperança de auferirem lucro, os quais exploravam-no desbragadamente...

Não demorou muito e os recursos financeiros em seu poder terminaram.

Agora se valia apenas do nome da família para contrair pesadas dívidas oriundas de suas orgias. E, além de tudo, também era enganado pelos agiotas inescrupulosos.

Com o passar do tempo, os credores começaram a pressioná-lo.

Entrementes, não tinha como pagar.

Dirigiu-se a seu pai, com quem não se dava bem, todavia, este ficou surdo aos rogos do filho, nada lhe dando, inclusive, mandou-o trabalhar, porquanto despendera dinheiro a fim de que cursasse a faculdade de medicina e, segundo percebia, ao invés de médico, era apenas um dissipador.

Assim, o jovem boêmio viu-se numa difícil situação. Como pagar aos credores?

Certa noite, em desespero, comentava sua situação com um dos que tinham contas a acertar com ele, o qual, após ouvir suas lamentações, retrucou que ele chorava de "barriga cheia", afinal, seu pai não era milionário?

À ocasião, ambos conversavam à mesa de certo lupanar, e, no momento, Norberto estava bastante embriagado, já que as libações alcoólicas foram intensas.

O interlocutor era um sujeito de conduta suspeita, um desses escroques que rondam os prostíbulos a espera de algo...

A certa altura, ele, matreiramente, soprou-lhe ao ouvido que seria fácil conseguir dinheiro de seu pai que, conhecido magnata, certamente possuía algum cofre em casa.

O moço alarmou-se, porque, poderia ser tudo, menos um ladrão. No entanto, a necessidade falou mais alto.

Arquitetaram um plano, no qual, assaltariam o cofre existente na biblioteca da bela mansão em que residia.

Seu pai viajava com freqüência; sua mãe, recolhia-se aos seus aposentos, sistematicamente, por volta das vinte e duas horas.

Existia um segurança responsável pela guarda noturna da imensa casa, o qual era preciso evitar; não convinha que visse quem entrava na residência, para não levantar suspeitas. Combinaram que Norberto abriria um portão lateral para o comparsa. Assim fez. Tudo correu dentro do previsto. Fecharam-se na biblioteca.

O cofre era grande. Norberto não tinha a chave nem a combinação, todavia, o cúmplice dissera ser perito em arrombamentos, um especialista em cofres. Abri-lo-ia. E, uma hora após conseguiu o intento.

Ficou impressionado, não tanto pela quantidade de dinheiro que continha, mas sim pela profusão de jóias, pedras preciosas de altíssimo valor, enfim, era um tesouro.

Norberto não demonstrou surpresa alguma, porém seu amigo tinha os olhos injetados, faiscantes de cobiça.

O jovem boêmio propôs retirar alguns pacotes de cédulas e dar o fora.

Entretanto, algo de maquiavélico surgiu na mente do malandro arrombador, que pensava:

- Porque não ficar esta fortuna toda só para mim? Trazia escondido, na cintura, afiado punhal, tudo seria fácil.

Após arranjado um saco para transportar o furto, friamente, aproveitando a despreocupação do moço, sacou da arma e, rápido, desferiu-lhe vários pontaços no peito. O médico caiu morto.

O macio tapete do recinto tornou-se rubro, uma enorme poça de sangue formou-se sob o cadáver.

O astuto fascínora após saquear todos os valores do cofre, ganhou o jardim da mansão e, naquele momento, o segurança resolvera fazer ronda exatamente próximo ao local e viu o larápio. Mandou-o parar, porém o bandido aproximou-se e, presto, atirou a arma ao peito do segurança que, sentiu o pontaço e caiu fulminado, atingido no coração. O gatuno saiu em disparada, sumindo na noite.

No dia seguinte, logo pela manhã, quando encontraram o corpo do segurança, houve grande alvoroço, correria, polícia.

Momentos depois, na biblioteca, alguém se deparou com o cadáver naquele mar de sangue. O cofre aberto, e vazio, denunciava que alguém viera ali para furtar.

Mas, e o filho morto? Será que entrara, em plena noite, e deparara com ladrões e teria sido assassinado, tentando defender sua casa? Assim pensava a mãe, desesperada.

Contudo, seu pai ao chegar e conhecer os fatos em detalhes, principiou a acalentar dúvidas:

- Estaria a proteger os haveres? Não teria vindo assaltar e sido enganado por possíveis cúmplices?

E estas eram perguntas sem respostas. Enquanto sua esposa, deplorando a morte do filho, achava que Norberto apenas chegara à casa em hora imprópria, ele tinha dúvidas quanto a isto, porém, não obstante a tudo, seu filho estava morto...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 16/12/2010
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