GRANDE PAIXÃO
Há pessoas que dizem que uma grande paixão é como um raio de sol, como a espuma branca da onda que cobre a areia, como as estrelas rutilantes no céu. Para mim, uma grande paixão é como um belo cocô. Eu considero os meus cocôs uma grande obra de arte. Mas é para ser admirado no momento certo e logo em seguida, descartado. Se você deixá-lo lá ele vai perder a sua forma original, vai começar a feder e a grande paixão se transformará numa grande merda.
Um dia, segunda-feira abafada, o céu escurecendo, trovejando, Talita chegou na minha casa e disse que iria dizer tudo para o seu pai e que queria se casar.
—Você quer se casar comigo?
Desabou o toró. Aquilo era um pedido informal, eu não acreditava que um dia ela iria dizer aquilo, mesmo de brincadeira.
—Cê-a-esse-a-erre.
Chuva. Lama. Poças. Eu achara, erroneamente, que as coisas entre nós seriam diferentes e o tempo foi passando e apesar de eu tê-la dissuadido com falsas promessas, não era mais como antes. Sol. Primavera. Céu azul. Não nos divertíamos mais com aquelas brincadeiras púberes. Ela já não era mais tão franzina e seus dentes não eram mais de leite.
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