TELEPORTE QUÂNTICO

Lena já teve sonhos, já quis muito ser feliz, entretanto agora, estava resignada com o que lhe parecia um destino inalterável e medíocre.

Já amou, foi amada e depois foi traída... Mas isso passou.

Dizem que o tempo tudo cura e é um milagre que não se repete. Ninguém o pode controlar nem modificar... Pelo menos era essa a opinião de Lena.

Possuía alguns sites de relacionamento, mas ninguém que lhe merecesse perder tempo ou a quem ela dedicasse grande atenção.

Certa vez, alguém lhe pediu para ser adido, e ela de modo automático, o fez... E assim iniciou-se um relacionamento que lhe pareceu por demais agradável.

Ela, para não ser identificada, valia-se de um apelido nada original, A Moreninha.

Ele, por sua vez era o Corcel Azul...

Nenhum dos dois quis ver o outro ao vivo. Era como se quisessem manter certa magia ou encantamento e no anonimato, ela dava asas à sua imaginação.

Queria um contato com a intensidade de suas mentes, apenas. E isso não foi preciso discutir, era um sentimento mútuo que ficou no ar, sem precisar ser dito ou combinado.

O interessante, é que interagiam como se já fossem amigos de longa data ou há séculos.

Queriam se conhecer sem pressa e trocavam referências meio obscuras, cada qual tentando se revelar o mínimo possível, e mesmo assim, seus longos papos eram bastante amenos... Depois, Lena despedia-se inebriada.

Nos dias que se seguiram, à mesma hora os dois, como por uma atração inexplicável, acessavam-se simultaneamente e isso, por incrível que possa parecer, tornou-se tão habitual que ela nem estranhava mais o sucedido. Ele também aparentava estar muito exultante e amava abordar temas estranhos, como viagem astral, desmaterialização e falava no benefício de suprimir-se o tempo e o espaço entre os seres.

Às vezes Lena sentia como se ele estivesse ali, junto a ela e pudesse vê-la e devassar sua alma, então, sentia um leve arrepio. A grande afeição parecia ser algo definitivo, como se em matéria de relacionamento virtual, isso pudesse existir verdadeiramente...

Embora seu anseio fosse quase irrealizável, Lena começou a imaginar como ficaria a sua vida dali por diante. Tinha a certeza que depois de tudo, nunca mais seria a mesma...

O tempo passava e cada vez mais os dois permaneciam conectados com a maior harmonia e em total interação.

Mas um dia ele disse que já era hora de se conhecerem, pois a afinidade aumentava a cada instante e não dava mais para esperar...

Ela ficou em dúvida e pensava se isto seria o melhor a fazer ou se deveriam continuar assim, indefinidamente, mantendo uma distância física em seu real apego.

Ela temeu que tudo pudesse desmoronar e na rapidez que começou, pudesse findar.

Ele insistia tanto que já passara a ser algo irresistível para Lena.

Então, pediu mais um tempo, enquanto considerava os argumentos alegados por ele.

Mas o Corcel Azul tinha pressa e não estava disposto a abdicar da oportunidade de tê-la para sempre, dizia ele.

Lena continuava reticente e lhe impôs uma condição, no intento de adiar o encontro. Disse preferir que antes se conhecessem via webcam... Sugestão aceita imediatamente.

Ela então começou a se despedir pensando quão agradável seria encontrar aquele ser tão enigmático... Já fazia conjecturas em sua mente, imaginando cenas dignas de um filme poético... Ele estava ansioso e parecia desconfiado, achando que o fim estivesse próximo.

Foi quando o Corcel Azul, inesperadamente, abriu a webcam e colocou apenas sua mão direita na telinha, de maneira que a ocupasse por completo.

Lena ao ver aquela mão estampada em seu notebook, pensando que seria a consolidação de um pacto de amor, não resistiu... E hipnotizada, sem poder raciocinar ou ponderar, uniu-se àquela mão enorme, aberta e estendida em sua direção.

Prontamente, ouviu-se um grande estrondo e um fantástico relâmpago rasgou o céu, como se um raio tivesse caindo de repente, naquela direção, atingindo o alvo.

Em um ínfimo instante, Lena foi sugada instantaneamente pela máquina com uma força incrível, irresistível, poderosa e muito intensa.

E conta-se que depois disso, jamais foi vista por qualquer pessoa que a conhecesse.