O outro Prólogo
Dias depois o senhor já estava menos melancólico, seguia pelas chapadas de algodão o vento abafado que vinha do sul. Levava na maleta de couro um relógio falecido, o celular e uma caixa de fósforos.
Foi num outono, e a vida do senhor já estava paradoxal diante da natureza. Não ligava para nada, nem para aquela brutusiana. Nunca pensou no que a guria pudera ter feito, mesmo a tal alisando seus cabelos cansados sob as luas.
Triunfava-se no quarto e a via esparramada na cama, logo abria as janelas e entrava a brisa. O véu de parede levantava vagarosamente até que suas pontas alisavam-se e ressoavam uma carícia. A taça de vinho e a escrivaninha estavam estáticas, nem se quer o casal, a cama e o véu exausto poderiam parar por um segundo; não naquela hora. O filete vermelho escoava nos lábios da guria e empoçava-se acidentalmente (ou não) no colchão de forro aveludado recém-lustrado. Ali se foi o senhor.
Como pôde ser tolo e despreparado. Maldito dia em que perdera seus anos de trabalho; aquele suor reciclado. A guria o deixou verdadeiramente nu, além de desligar seus pulmões negros e seu coração abatido.
Lá estava ele, ainda a caminhar pelo solo ultraleve. Segurava sem medo a sua maleta de couro com o relógio falecido, o celular e uma caixa de fósforos; os únicos objetos que a guria deixou como, pelo menos, recordações.